O povo tem pressa, e fome

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Tem coisas que todo mundo já espera. A cada quatro anos, por exemplo, tem 29 de fevereiro, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, e sim, temos eleições no Brasil. Enfim, eventos que já estão no calendário mundial e que permitem e requerem um certo planejamento antecipado. E se tem eleições, também tem muitas promessas, críticas, planos de governo, medidas para salvar o mundo, PEC disso, pacotão daquilo, um apanhado de ações muito importantes, mas que trazem junto um apelo eleitoral delicado.

Recentemente estamos vendo o Congresso Nacional correr atrás para propor ou aprovar medidas que ajudem os brasileiros a superar o momento delicado que a economia vem passando, há uma crise global importante a destacar. Depois de dois anos de pandemia, a guerra entre Rússia e Ucrânia colocou mais gás à inflação mundial, sobretudo que incide sobre alimentos e combustíveis.

Mas mesmo com a taxa de desemprego em queda, atingindo recentemente o menor índice desde 2015, o poder de compra do cidadão está corroído e as famílias estão com dificuldades para suprir necessidades básicas. E é justamente nessas horas que a mão do Estado deve aparecer, trazendo políticas públicas e programas como forma de estimular a economia ou até mesmo garantir condições mínimas de vida.

Olhando por essa ótica, a aprovação do conjunto de medidas que visam redução de impostos para serviços e produtos essenciais, concessão de benefícios para grupos vulneráveis ou ampliação de programas assistenciais além justa, é esperada e necessária.

O problema está no momento em que ocorre, na maneira e no fato de que nem sempre vem acompanhada de um planejamento de longo prazo.

A mais recente notícia é que, depois da aprovação da PEC kamikaze, como está sendo chamada a emenda constitucional que vai aumentar a concessão de benefícios, um outro projeto deve ser apresentado como forma de estimular a produção industrial no país. E aí está uma medida essencial, urgente, mas delicada.

A falta de estímulo à industrialização vai muito além da questão tributária, tem raiz lá na infraestrutura, ou melhor, na ausência dela. O Brasil precisa de projetos de longo prazo para resolver os problemas de logística, para ampliar suas matrizes energéticas e melhorar a qualificação da mão de obra.

O potencial produtivo brasileiro é imenso, a começar pelo agronegócio.

Apesar de sermos um dos maiores produtores de alimentos, fibras e energia do mundo, ainda verticalizamos muito pouco. Grande parte da produção é embarcada sem passar pela indústria, sem gerar emprego e sem arrecadar impostos.

Nossos grandes feitos não podem acontecer de quatro em quatro anos, precisam ser contínuos, produtivos e evolutivos. Temos pesquisa, mas não temos investimentos. Temos força de trabalho, mas não temos desenvolvimento. Temos obras, mas não temos soluções. Temos promessas, mas faltam projetos concretos.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação