Natural da cidade de Rondonópolis, seus pais Sebastião do Nascimento e dona Olícia Ferreira do Nascimento trabalharam intensamente para que o seus 6 filhos pudessem ser melhor a cada dia. Apesar da infância humilde, o esforço de sua mãe, que era funcionária pública sempre foi no sentido de que todos fossem para a escola e nela se firmassem. Ela sempre teve a certeza de que a educação poderia fazer a diferença na vida dos seus filhos. Vamos conhecer um pouco mais da trajetória existencial da querida professora Luzia.
Jornal Folha Regional: Como foram os anos de infância na zona rural?
Luzia: Meus pais trabalhavam duramente para que nada faltasse para a família, foi uma infância difícil mas havia harmonia, amizade e momentos de descontração nas brincadeiras de criança. De certa forma a felicidade estava presente, nós moramos inicialmente em Itiquira no Birro, e estudamos nas escolas rurais.
JFR: Como foi vir para Rondonópolis aos 11 anos de idade?
Luzia: Foi uma época muito difícil, eu fui morar na Vila Mamed, um bairro bastante humilde, lá eu sofria grandes preconceitos, e fui muito discriminada na escola, pelos colegas e até mesmo pelos professores. Eu tinha um temperamento forte, e a minha reação não era outra a não ser partir para o revide, ou seja para a agressão física. Foi nesse período que eu comecei a lutar pelos meus direitos.
JFR: Qual foi a sua atitude posterior para virar essa situação?
Luzia: Eu resolvi entrar na movimentação social e de apoio aos mais carentes, comecei ajudando os padres daquela comunidade, levava cestas básicas para as famílias carentes. Mostrei o meu lado positivo e generoso, e isso me fortaleceu.
JFR: Mas ainda assim algumas pessoas te perseguiam e promoviam contra você ações discriminatórias, como foi segurar mais esses momentos?
Luzia: Eu tinha 15 anos de idade e estava procurando emprego, fiquei sabendo que no Banco América do Sul, que tinha uma agência aqui em Rondonópolis estava precisando de funcionários, de gente para trabalhar, então fui até a agência do tal Banco, falei com o gerente, e ele me disse que não havia vagas estavam todas preenchidas. Mas logo seguida, dias depois encontrei com uma colega de cor branca que foi ao Banco e ficou empregada.
JFR: Qual era o seu sonho de criança que acalentou até a adolescência?
Luzia: Foi uma época muito difícil e de muito sacrifício, a condição dos meus pais, que como disse sempre estiveram trabalhando na zona rural, exceto a minha mãe que era funcionária pública não era das melhores. O meu sonho era ser advogada, aos 17 anos passei no vestibular de Geografia, mas não tinha terminado o ensino médio, e não pude freqüentar a faculdade.
JFR: Essa frustração te acompanhou durante algum tempo?
Luzia: Sim é muito difícil você sonhar com uma oportunidade, e de imediato se ver na impossibilidade de uma realização. É preciso ter muita força para se levantar, mas mesmo assim eu não perdi a esperança de vencer, nem que fosse em uma outra profissão.
JFR. Luzia, como você conseguiu virar esse jogo?
Luzia: Me enchi de entusiasmo, e voltei para a universidade, fiz o vestibular, desta feita passei em Pedagogia, e assim trabalhei e estudei conclui o curso em 1995. Foi uma das minhas maiores vitórias, quero agradecer a todos que me apoiaram em especial o meu filho Iuri.
JFR: Mas em 2016 bons ventos lhe aguardavam, fale um pouco sobre esse momento e sobre a importância da juventude no contexto nacional:
Luzia: Em 2016 o Senador Welligton Fagundes me convidou para fazer parte dos movimentos sociais, ocasião em que fundei juntamente com outros companheiros em Rondonópolis a UNEGRO uma instituição social de apoio aos negros de nossa cidade, estado e região. Ai começava uma história de luta real, pela conscientização racial nas escolas e em meio a sociedade local. A juventude representa o esteio o futuro deste país, e evento como esses que estão realizados aqui pela eliminação da Discriminação Racial são fundamentais para a conscientização geral dos adolescentes.
JFR: Para encerrarmos esta entrevista, nós agradecemos pela gentileza da sua atenção, eu te pergunto: A Marielle já vive na história do Brasil?
Luzia: Sem dúvida a morte da Marielle acordou os movimentos ativistas no mundo todo, e faz parte da história do Brasil, é a morte que simboliza uma eterna luta contra o preconceito em todos os sentidos. Gostaria que a sociedade brasileira pudesse olhar para todos os seres humanos com respeito e sem discriminação.