Dia da Indústria aprofunda debate sobre futuro do país

“Celebrar e defender a indústria é defender o nosso crescimento e o nosso desenvolvimento, como sociedade e como nação”, a afirmação é do presidente do Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt), Jandir Milan, durante comemoração ao Dia da Indústria. O evento ocorreu nesta quinta-feira (24/05), em Cuiabá, e contou com a presença de cerca de 400 pessoas entre industriais e autoridades.
“Este dia simboliza o nosso trabalho e a nossa luta pelo crescimento e desenvolvimento das indústrias do Estado. Superamos, nos últimos tempos, grandes dificuldades em nosso país, porém ainda estamos longe de uma situação confortável do ponto de vista econômico. Investimentos seguem sendo adiados e nós continuamos dependendo de políticas públicas que afrouxem os gargalos enfrentados para o desenvolvimento industrial”, disse Milan.
Segundo o presidente, em Mato Grosso, as regiões com a maior presença de indústrias são justamente as que apresentam as maiores evoluções no IDH e os menores índices de pobreza. “Onde tem indústria, tem distribuição de renda, tem empregos de qualidade, tem geração de renda, qualificação profissional, fortalecimento da economia local e aumento na arrecadação”, ressaltou.
O evento comemorativo contou com a premiação das “Melhores Indústrias para Trabalhar em Mato Grosso”, além da palestra do jornalista William Waack, que analisou as eleições e seu impacto nas mudanças econômicas e políticas no Brasil. A atual crise vivenciada no país com a greve geral dos caminhoneiros, segundo o jornalista, é o reflexo da falência do Estado.
“O que vocês estão vendo aí fora em três ou quatro dias é a expressão exata da crise na qual nós chegamos. Não tentem ver o que está acontecendo com os caminhoneiros, a Petrobras e o Governo, ou falta de governo, como uma questão setorial que pode ser resolvida com esta ou aquela medida mais adequada ou menos adequada. O que está acontecendo é aquilo que chamam de conflito distributivo. É um conflito grave no qual a nossa sociedade chegou de repartir os recursos que ela tem. A gente fala de conflito distributivo quando a gente não tem mais o que distribuir. O ponto ao qual chegamos é o da quebra do Estado”.
Para o jornalista, sem ter o que distribuir, a crise era inevitável. “Os grupos não querem mais pagar a conta, um empurra empurra, acaba estourando. Mas, por outro lado, é uma crise clássica de um país que tentou construir um Estado de bem-estar social sem se preocupar em como financiar. A irresponsabilidade de governos recentes, esse populismo fiscal, é o mesmo que está na discussão dos últimos três dias”, analisou o jornalista.
Waack pontuou que o atual cenário expõe uma sociedade que despreza a política e clama por políticos honestos. “Nós arrebentamos o sistema político de fora pra dentro via uma campanha anticorrupção, que é batizada de Lava Jato, mas que precisamos inventar outro nome porque é uma incrível manifestação de indignação e revolta popular. A Lava Jato é muito mais do que ação de procuradores, delegados, juízes e imprensa. Ela é uma onda que destruiu o nosso sistema político, do qual dependemos para as nossas respostas. Essa é uma situação esquizofrênica que ninguém pensou. É uma encruzilhada que a nossa sociedade criou e precisa sair dela. Precisamos voltar a confiar num sistema que a gente destruiu”.
Eleição 2018
De acordo com Waack, após cinco eleições, será a primeira vez que a máquina do Governo não causará muito impacto no processo eleitoral. “Não importa se o Governo é popular ou não, todo mundo que mexeu com política no Brasil sabe que a dupla ‘deputado federal e prefeito’ é essencial. A capacidade que um politico tem de articular localmente depende muito do governo federal também, sobretudo por conta dos repasses das emendas e dos acordos. Sendo popular ou não, todo presidente no Brasil, mesmo em fim de mandato, é um homem forte porque ele comanda uma máquina com capilaridade política relevante. Desta vez, não.”
O peso das redes sociais nas eleições é um ponto também destacado por Waack. “A credibilidade que estamos dando à imprensa tradicional vem caindo rapidamente, especialmente entre o público formador de opinião. Não quer dizer que o tempo de televisão não será importante, mas quer dizer que a desconfiança em relação às instituições se espalhou também para a imprensa”.
Por fim, o jornalista tratou da insegurança jurídica. “O fato do sistema político não funcionar levou ao judiciário uma série de decisões que tinham que ser da política. O reverso dessa moeda é a politização da justiça. A gente percebe que as grandes e principais decisões são tomadas por critérios políticos, exclusivamente, dentro do STF (Supremo Tribunal Federal). Essa insegurança jurídica com um sistema político que não funciona e que a gente despreza, porém com uma campanha anticorrupção que a gente aprova, criou para nós uma série de encruzilhadas. Nós estamos diante delas, outubro é uma oportunidade de resolvê-las. Só depende de nós”, concluiu.