Lembro-me, como se fosse hoje, das frases ditas até metade da década de 80, mais ou menos, quanto ao que era belo fisicamente. Naquela época, em terras brasileiras, a magreza, nem de longe, era sinônimo de beleza, e, muito menos, de saúde.
Não se falava em bullying, logo, apelidos menos carinhosos surgiam nas escolas. Por aqui era comum: tuiuiú, garça, girafa, e por aí afora. Apenas com a chegada da década de 90, a magreza começa a despontar mundialmente como algo a ser seguido e perseguido, principalmente, no mundo feminino.
As modelos a desfilar nas passarelas sempre estiveram por lá. Corpos esguios, mas, dantes, curvas eram possíveis se ver. Com o passar do tempo para “modelar” não só era necessário ser magra, como magérrima. Curvas?
Nossa, sem elas as roupas ficam melhor. Será?! E o absurdo passou a ser tão grande, que os parâmetros de beleza calharam a girar em torno da finura.
Ficou comum: “quanto mais magra melhor”. Para se chegar, então, ao extremo, foi um pulo. Meninas passaram a desafiar o organismo em busca não do “corpo perfeito”, mas, sim, da “magreza perfeita”. Quando a palavra “magra” passou a ser sinônimo de beleza, bastou.
Dias atrás foi possível acompanhar as mídias sociais a narrar sobre o corpo atual da atriz Cléo Pires. A moça, que possui grande beleza física, foi alvo de críticas ásperas, por segundo ela, ter engordado vinte quilos. Por óbvio, olhando a referida atriz, vislumbra-se que continua lindíssima, aliás, como sempre esteve. Porém, a mass mídia não perdoou. A classificaram de alguns adjetivos, menos, de bonita e saudável.
A atriz se submeteu a entrevistas explicativas contando do distúrbio alimentar que enfrentou na adolescência, a bulimia, e que agora fez surgir à compulsão alimentar. Afirmou que não se machucará em torno do corpo buscado incansavelmente pela maioria das mulheres. Afiançou que outrora já sofreu horrores com dietas malucas e remédios para emagrecer, não estando com vontade de manter o corpo “esbelto” de antes. Disse mais, que comerá o que gosta, sem qualquer culpa em ter que “secar” para ficar “bonita”.
O narrado acima parece enganação. Todavia, não o é. As pessoas, principalmente aquelas que possuem exposição pela profissão, se sentem na obrigação de agradar os “olhos” que as veem.
Entretanto, conforme acima frisado, há menos de 30 anos atrás, a moda “ditada” era outra. As conhecidas como esqueléticas sofriam com a pecha de apáticas e doentes. O caminhar da atualidade vem definindo outras belezas. Agora, se treina incessantemente em busca de definição de músculos. A tendência mudou? O que é beleza na atualidade?
Pelo visto, o conceituado como beleza é o sofrimento de mulheres. A cada fase da vida existe uma tentativa em agradar o que jamais será agradado. O resultado tem sido insatisfação e doenças que surgem da psique.
Fico com Naomi Wolf, em O Mito da Beleza: “As mulheres sentem culpa com relação à gordura, porque reconhecem implicitamente que, sob o domínio do mito, os nossos corpos não pertencem a nós, mas à sociedade. Que a magreza não é uma questão de estética pessoal e que a fome é uma concessão social exigida pela comunidade”.
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.