Em véspera de eleição surgem notícias do tipo: 8 em 10 eleitores não se lembram em quem votaram para deputado federal, estadual ou distrital; eleitores não fiscalizam seus representantes, e por aí vai, demonstrando que a nossa frágil democracia ainda tem muito por crescer, desenvolver e se consolidar.
Nossa experiência democrática é muito superficial, porque somos uma sociedade:
Secularmenteiletrada – recente pesquisa mostrou que 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro na vida. Se a população em geral não lê, porque iria se interessar por política? Política, direita, esquerda, liberalismo? Ah! Não adianta entender! Nada muda!
Extremamente desigual – a renda média per capita de 1% dos trabalhadores mais bem pagos representa a mesma massa de renda de 40% dos trabalhadores que recebem na faixa mais baixa de salários. É lícito pensar que quem está preocupado com a sobrevivência diária de sua família, não se importa com quem está no poder, tanto faz. Ninguém olha para o pobre, o que interessa é comida na mesa!
Perigosamente desalentada – a abstenção, votos brancos e nulos em 2014 foi perto de 30%, tanto no 1º como no 2º turno das eleições. Em 2018, as pesquisas indicam que os votos brancos, nulos e indecisos somam cerca de 40%, muito acima do número de votos dados ao primeiro colocado. Parece que, após apenas 30 anos de eleições diretas, já estamos cansados de votar. Democracia serve para que mesmo? Não tenho emprego, segurança…
Culturalmente escravocrata – parte da sociedade gosta do estilo feitor, do pensamento único, do isolacionismo social. Somos uma nação de privilégios, de exceções, onde nem todos são iguais perante a lei. Queremos ser servidos e não servir. Hipocritamente admiramos sociedades mais igualitárias mas agimos como as totalitárias. Você sabe com quem está falando? Sou autoridade! A lei? Ora a lei.
Por isso damos mais atenção aos candidatos do executivo (presidente e governador) aqueles que mandam, decidem autoritariamente, do que àqueles do legislativo (deputados e senadores), os que, teoricamente, deveriam promulgar as leis em benefício da população. O atual sistema político é anacrônico, perdulário, ineficiente e corrupto em seu cerne. O Congresso Nacional se tornou um balcão de negócios, onde o interesse público nada vale. Isto só terá chance de mudar, se a sociedade mudar. Se ela realmente quiser ser protagonista do seu destino, assumindo suas responsabilidades e deixando de querer sempre, um "salvador da pátria". Caso contrário, continuaremos caminhando como um bêbado claudicante que vai tropeçando nas próprias pernas. Uma hora ele irá cair e não conseguirá se levantar sozinho.
O Brasil precisa mudar enquanto é tempo.
*Celso Luiz Tracco é economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual.