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domingo, novembro 24, 2024

Vinte grupos concentram 20% da área plantada de soja em MT

A área de soja explorada por grandes grupos comandados por produtores rurais dobrou em Mato Grosso nos últimos cinco anos. Um levantamento inédito do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que os 20 maiores grupos plantaram 1,228 milhão de hectares na safra 2009/10 e responderam por 20% dos 6,217 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa no Estado na safra 2009/10. Há cinco anos, estes grupos cultivaram 533 mil hectares, respondendo por 9% do plantio de 6,105 milhões de hectares. A área total de soja no Estado ficou limitada pela moratória imposta aos desmatamentos no bioma amazônico.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Glauber Silveira, diz que os números são preocupantes, pois revelam que nos últimos anos muitos agricultores de médio porte foram obrigados a arrendar suas terras para os grandes produtores, por falta de condições de custear o plantio. Ele estima que os arrendamentos respondem pela metade da área cultivada com soja em Mato Grosso.
Glauber Silveira calcula que cerca de 2 mil produtores em Mato Grosso arrendaram suas terras ou simplesmente abandonaram a atividade nos último cinco anos, por causa da queda de renda da atividade, que resultou no endividamento estimado em mais de R$ 10 bilhões, provocado pela desvalorização cambial e pelo alto custo logístico, que encarece os insumos e onera o escoamento da safra. O grupo argentino El Tejar tem mais de 300 mil hectares cultivados em parcerias com produtores rurais em Mato Grosso, sob a forma de arrendamento.
O diretor executivo da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo, diz que a concentração da produção tem impacto direto na economia dos municípios agrícolas, pois os grandes grupos normalmente negociam suas compras de máquinas e fertilizantes diretamente com os fabricantes, o que reduz o movimento no comércio e no setor de serviços.
O município de Sapezal (a 480 quilômetros a noroeste de Cuiabá), segundo maior produtor de soja de Mato Grosso, é um dos campeões em concentração. José Guarino, presidente do Sindicato Rural de Sapezal, conta que hoje existem 80 produtores, dos 100 que trabalhavam na região há dez anos. O número de revendas de insumos caiu de 15 para meia dúzia. Ele estima que os grandes grupos responderam por metade da área plantada em Sapezal na safra passada. Nesta semana surgiram rumores sobre a chegada do primeiro grupo estrangeiro no município. O argentino El Tejar já arrendou suas primeiras terras.
O estudo feito pelo Imea aponta que a produção em escala é um fator determinante na margem de lucro no cultivo da soja, pois garante poder de barganha na venda da safra e na compra de insumos. O Imea cita caso de descontos de até 20% nos preços pagos na compra de insumos pelos produtores com escala acima de 10 mil hectares, em relação àqueles que cultivam menos de mil hectares, que é a área de um produtor médio em Mato Grosso. Glauber Silveira conta que um diretor de um fundo estrangeiro, que pretende investir R$ 1 bilhão no plantio de 250 mil hectares em Mato Grosso, afirmou em conversa recente ter recebido proposta das fábricas de desconto de 25% nas compras de tratores e colheitadeiras.
O presidente da Aprosoja, mesmo assustado com os dados sobre a concentração, diz ser contrário a medidas restritivas em relação ao tamanho da propriedade e à entrada do capital estrangeiro. Na opinião de Silveira, os grandes grupos têm condições financeiras para realizar os investimentos na recuperação de pastagens degradadas, medida necessária para contornar as limitações impostas à abertura de novas áreas. Ele defende a adoção de políticas públicas que apoiem a classe média rural, principalmente com investimentos em logística para reduzir o alto custo do frete, além da questão do endividamento. A Aprosoja pretende desenvolver atividades para incentivar o associativismo dos produtores, seja na forma de condomínios, cooperativas ou grupos de compras de insumos, mas observa que, "sem investimento em logística, o problema continua sem solução".

Fonte: Agência Estado

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