Pioneiro, 60 anos de residência na terra de Rondon, trouxe as Lojas Riachuelo para Rondonópolis e fundou o Bazar Marino. Um cidadão nascido na capital paulista, mas que vivenciou em grande parte de sua vida o crescimento e o desenvolvimento de Rondonópolis praticamente em todas as suas etapas. Integrou-se ao comércio local, e assim através do seu trabalho contribui com a sociedade rondonopolitana. Vamos conhecer um pouco mais da trajetória de vida do nosso senhor Marino como é carinhosamente chamado por todos.
Jornal Folha Regional: Como foi o seu período de infância na capital paulista?
Marino: Na minha infância em São Paulo eu tive alguns percalços, ou seja não foi tão harmoniosa. Meus pais se separaram eu tinha apenas dois anos de idade e minha mãe ficou com quatro filhos pequenos, ela foi muito guerreira como se diz, fazia os serviços de lavadeira, cozinheira, trabalhava em lanchonete, fez de tudo para que não faltasse nada para nós. Por outro lado eu posso dizer que a minha infância foi boa, apesar de ser tudo ser tão simples, não havia luxo e nem orgulho. Nós éramos em cinco irmãos três são falecidos e hoje estamos eu e minha irmã que está com 90 anos. Posteriormente fomos residir em Bebedouro interior do Estado de São Paulo onde eu fui criado, acabei passando por diversos lugares, dentre eles naquela ocasião na pequena cidade de Rancharia e na cidade de Santo Anastácio. Na questão educacional naquela época antes dos 7 anos as crianças não poderiam estar na escola. E desta forma eu entrei com 8 anos, quando terminava a aula nós íamos brincar com os colegas de escola e da vizinhança e ficávamos o dia inteiro na rua. Foi então que a minha mãe com muito sacrifício, me arranjou um serviço numa loja de calçados chamada Sapataria Viola que era de um tio meu, lá eu fiquei dos 8 anos de idade até os 23, desta forma ela me tirou da rua. Foi uma grande oportunidade onde eu aprendi uma profissão eu era cortador e prés-pontador . Aos 18 anos cumpri o meu tempo obrigatório militar no Tiro de Guerra em Bebedouro onde eu servi e aprendi muito.
JFR: Qual era o seu sonho de infância?
Marino: Desde pequeno quando eu via os desenhos da Disney, me despertava o desejo de estar lá conhecer a Disney, mas eu nunca tive condições e o tempo foi passando. Hoje temos condições e até já programamos com os meus filhos de fazer uma excursão no mês de maio aos E.U.A., não podemos nunca desistir dos nossos sonhos.
JFR: O que motivou seus familiares a vir para Rondonópolis ?
Marino: Eu tinha um irmão, falecido recentemente, que era gerente das Lojas Riachuelo em Rancharia no Estado de São Paulo, essa cidade fica próxima a Presidente Prudente, ele me convidou para trabalhar no ramo eu fui, trabalhei um mês com ele. Mas naquela época as empresas não permitiam que irmãos trabalhassem juntos na mesma loja, e uma coisa boa aconteceu ia inaugurar uma loja da Riachuelo em Santo Anastácio onde eu fui trabalhar e lá fiquei durante três meses. Eu senti que aquele era o meu momento, a loja matriz estava precisando de sub gerente, eu fui para a capital onde me fizeram uma proposta se eu queria ir para Cuiabá. Naquela época quando se falava em Mato Grosso, Cuiabá todos ficavam com receio diziam que Goiás e Mato Grosso só tinha onças e índios.
JFR: Você aceitou o convite para vir a Mato Grosso?
Marino: Sim a alternativa me pareceu boa desde o início, nós chegamos primeiramente em Cuiabá onde trabalhei por um período de 2 anos, e no dia 11 de janeiro de 1958 nós abrimos a Riachuelo em Rondonópolis onde trabalhei quase 10 anos na função de gerente. Naquele tempo as empresas não deixavam os seus funcionários completarem 10 de trabalho porque havia uma Lei da participação dos lucros nas empresas. Eu tive sorte, quando eu saí da Riachuelo eu comprei uma loja de um sírio filho do finado Zé Sobrinho e eu coloquei o nome de Bazar Marino com o qual eu fiquei no comércio rondonopolitano durante 16 anos. Hoje eu estou com 88 anos de idade, lembro-me muito bem que Rondonópolis era um vilarejo, para quem veio do interior de São Paulo e conhecia várias cidades, a impressão que tínhamos era que Rondonópolis demoraria muito para se desenvolver. A começar pela travessia da balsa, que também era comum em outras regiões do estado e do Brasil, mas sempre estive confiante de que aqui seria o nosso “porto seguro”. Me lembro também do Rio Vermelho e Arareau com suas aguas límpidas. Havia pouca abertura de estradas, muita mata e muitas trilhas que tínhamos que atravessar para que pudéssemos ir a igreja ou a escola. Gratas lembranças gente chegando de todos os lugares, a Baleia transportando não só o povo mas muitas vezes também alguns animais, a Pensão Cuia, o Hotel Luzitano, a feira na Praça dos Carreiros. Tudo foi acontecendo a seu tempo um progresso bem lento, mas ao nosso ver muito seguro e constante.
JFR: O que representa os seus familiares nessa sua trajetória e vida?
Marino: Sem dúvida a família é tudo de bom, é a mais importante célula social de uma sociedade, a minha esposa já é falecida a saudosa Clari Maria Gaiva Marino nos tivemos 4 filhos, o mais velho falecido Vilson Junior, o segundo Clarson, o terceiro é Welson e a minha filha Rossatia.
JFR: Como você as perspectivas no desenvolvimento da cidade de Rondonópolis?
Marino: Rondonópolis poderia ser uma cidade bem melhor, inclusive com a conservação dos espaços públicos a exemplo das praças, que não tem sanitários e nem ajardinamentos. É preciso cuidar melhor, no centro da cidade muitas casas são demolidas e no local são construídos barracões. Os nossos parentes que vem de outros estados ficam decepcionados e reclamam pela falta desses cuidados. Isso vem de gestões anteriores de muitos anos atrás.
JFR: Você já participou de várias instituições sociais e culturais fale um pouco sobre essas atuações:
Marino: Eu sou católico e já participei de vários movimentos na igreja, Fiz parte do Lions Clube, sou fundador da Associação de Apoio a 3ª. Idade, participei do Rondonópolis Clube, da ABR, fui secretário da Associação Comercial, pelo pouco que eu fiz eu creio que ajudei a construir essa maravilhosa cidade.
JFR: Nós agradecemos a sua gentil atenção para com a nossa reportagem, para encerrarmos a nossa entrevista deixe a sua mensagem final incluindo também um lembrete aos jovens:
Marino: Que os nossos governantes tanto do município como do estado possam chamar mais indústrias para a nossa cidade, e de a continuidade com os incentivos fiscais. Aos jovens eu digo nunca abandonem os seus estudos, a tecnologia chegou e todos tem que estar atentos para aprender cada vez mais.