POLÍTICA

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Veja

O jogo de Arruda para ficar no governo

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM, resolveu algemar-se ao cargo. Acossado pelas irretorquíveis evidências de que comanda um propinoduto no governo de Brasília, Arruda recusa-se a renunciar – e vai seguindo coxo no posto, à base de chantagem e de pancada. Viu-se a tática da brutalidade na quarta-feira da semana passada, quando a polícia de Brasília espancou manifestantes que ocupavam as ruas da capital para exigir a saída dele – na maioria, aliás, integrantes do PT e adjacências que não fizeram o mesmo no caso do mensalão de Delúbio Soares. A chantagem, por sua vez, corre em silêncio.
Ela começou quando os dirigentes do DEM, diante dos estragos provocados pelas imagens do governador e assessores recebendo maços de dinheiro, ordenaram que o colega deixasse o partido. Arruda estrilou, ameaçando revelar como a propina arrecadada no governo de Brasília também estufa os bolsos de decanos do partido. Desde então, o governador mantém em sua mira os senadores do DEM e, sobretudo, o deputado Rodrigo Maia, o presidente da legenda. Para intimidar inimigos e até aliados, Arruda tem recorrido aos métodos de seu algoz, o delegado Durval Barbosa: diz ter vídeos e provas de corrupção contra todos.
Até agora não apareceu nada, mas alguns democratas entraram em pânico e, já nos primeiros momentos da crise, cederam aos desejos do governador. Arruda queria tempo. O partido deu dez dias para ele apresentar sua defesa. Era o prazo necessário para o governador obter uma decisão favorável no Tribunal Superior Eleitoral que lhe garantisse a permanência no DEM – sem que isso acarretasse prejuízo político para a direção da sigla.
Arruda garantia, sabe-se lá com quais argumentos, que o advogado Marcelo Ribeiro, ministro do TSE, iria mantê-lo no partido. O governador impetrou um mandado de segurança, mas a estratégia deu errado: apesar de cair nas mãos do ministro Ribeiro, este declarou-se impedido. O caso foi, então, parar na mesa da ministra Cármen Lúcia, que indeferiu o pedido do governador. Sem saída, Arruda deixou o DEM. Por uma questão de prazo eleitoral, ele não pode mais se filiar a outro partido – e, portanto, está impossibilitado de concorrer a qualquer cargo no pleito do ano que vem.
O governador disse que pretende dedicar-se agora a cumprir o que lhe resta de mandato. Mas talvez não haja chantagem suficiente para segurá-lo no posto. Ele enfrentará um processo de impeachment na Câmara de Brasília – e os imprevisíveis desdobramentos das in-vestigações, que poderão esbarrar na conexão nacional que Arruda tanto alardeia nos bastidores. O elo nem tão perdido entre o DEM e Arruda atende pelo nome de Paulo Roxo, lobista apontado como "achacador" de fornecedores do governo do DF. No Carnaval deste ano, Roxo levou os deputados Rodrigo Maia e ACM Neto para passear na Itália. Tomaram bons vinhos e visitaram a pista da Ferrari, em Maranello. Antes de o escândalo vir a público, Roxo, Arruda e Maia planejavam divertir-se com a família na Disney, em janeiro.

Mensalão: Lula quer corrupção como crime hediondo

Não é por acaso que o Brasil ocupa um vergonhoso lugar no ranking mundial dos países contaminados por elevados índices de corrupção. Os escândalos envolvendo políticos, parentes de políticos e amigos de políticos parecem episódios de um seriado que não tem fim. Os personagens podem mudar, mas o enredo é sempre o mesmo: o corrupto é pilhado enchendo os bolsos de dinheiro, segue-se uma passageira onda de indignação e, no fim, nada acontece. O corrupto continua sua vida livre, leve, solto e, quase sempre, também muito rico. Para interromper esse ciclo vicioso, especialistas apontam a punição como a arma principal, se não para acabar, ao menos para reduzir o problema. Depois de seis anos, onze meses e nove dias e vários escândalos em seu governo, o presidente Lula apareceu em público para condenar a corrupção – e com uma inédita veemência. Em discurso, comparou o poder destrutivo da corrupção ao de uma droga, que, sem que se perceba, pode estar presente dentro da própria casa. Depois, criticou o Congresso por não votar projetos de reforma política e, por fim, apresentou sua proposta para atacar de frente o problema: um projeto de lei que pretende transformar a corrupção em crime hediondo.
Hediondo é algo repulsivo, sórdido, que provoca indignação. A pedofilia, o sequestro e o estupro são considerados pela lei como crimes hediondos, punidos com penas mais severas. Ao roubarem dinheiro público, os corruptos estariam sujeitos ao mesmo rigor, o que, teoricamente, é uma excelente iniciativa. Ocorre que o problema da corrupção tem raízes mais profundas. As mudanças substanciais propostas pelo governo se dariam depois de uma eventual condenação. A pena mínima para um corrupto, hoje de dois anos, passaria para seis anos, e a máxima chegaria a dezesseis. Os corruptos só poderiam reivindicar benefícios, como trabalhar fora da prisão, depois de cumprir dois quintos da pena. Os grandes escândalos, porém, têm sempre políticos envolvidos, que gozam de excepcionais privilégios, como foro especial. É nesse ponto que surge a primeira curva em direção à impunidade. Deputados, senadores e ministros, por exemplo, só podem ser investigados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar da profusão de denúncias de corrupção, nos últimos vinte anos nenhum político foi punido. A maioria dos casos prescreveu sem que fossem a julgamento. Ou seja, de nada adianta simplesmente aumentar as penas se, hoje, os corruptos não chegam sequer a julgamento. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde são analisados os casos dos governadores acusados de desvios, a situação não é diferente. Segundo a Associação dos Magistrados Brasileiros, apenas 1% dos processos contra autoridades resulta em alguma condenação e, ainda assim, as penas acabam convertidas pelos juízes em multas irrisórias. É como declarar guerra a uma praga de insetos sem usar inseticida.
Outro problema é que o Congresso Nacional demonstra tanto empenho em aumentar o cerco legal aos corruptos quanto o senador Wellington Salgado em cortar o cabelo. Há anos, tramitam no Legislativo diversos projetos sobre o tema, alguns do período em que eclodiu o escândalo do mensalão petista. Um deles é do então senador Hélio Costa (PMDB-MG), ministro do governo Lula, que propunha transformar a corrupção num crime inafiançável e imprescritível. Um ano antes, o ex-deputado Babá, então do PT, havia protocolado um projeto idêntico ao do governo, tipificando a corrupção como crime hediondo. Eles nunca foram a plenário para votação. Trazida à tona em meio a denúncias contra a oposição, depois de varridos para debaixo do tapete os escândalos petistas, a proposta do presidente Lula soa oportunista. Antes tarde do que nunca, porém. Diz o jurista, professor e juiz aposentado Luiz Flávio Gomes: "É preciso atacar o bolso dos corruptos. Eles devem ser obrigados a pagar com a liberdade e a devolver o dinheiro roubado dos cofres públicos. É assim que se faz justiça, e é com exemplos desse tipo que você inibe os criminosos".

Vocação multipartidária

A Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do Brasil, sempre se declarou apartidária. Com isso, queria dizer que jamais colocaria seu peso empresarial – e sua milionária conta bancária – a serviço do projeto de poder deste ou daquele partido político. Mas, a julgar pelas informações já reveladas pela Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal (PF), o termo apartidário não se aplica. A Camargo Corrêa é, aparentemente, uma empresa multipartidária. Parece sempre disposta a abrir seus cofres para auxiliar qualquer político que lhe bata à porta, independentemente da coloração partidária – desde que, claro, possa cobrar no futuro uma retribuição, na forma de novos contratos para realizar obras públicas. É o ciclo vicioso da corrupção.
Segundo informações da Operação Castelo de Areia, reveladas na semana passada pelo Ministério Público Federal, a Camargo Corrêa é suspeita de ter pago propina a integrantes de sete partidos. Da esquerda para a direita, são eles: PCdoB, PSB, PT, PMDB, PSDB, PR e DEM. O dinheiro teria sido entregue a deputados, senadores e funcionários públicos. A lista da propina, com os nomes dos supostos beneficiários, estava em um pen drive que pertencia a um dos diretores da empreiteira, Pietro Bianchi.
Os indícios do propinoduto são tão concretos que o Ministério Público pediu à Justiça a abertura de novas frentes de investigação, para esmiuçar a execução de catorze grandes obras públicas tocadas pela empresa. Já é possível ligar alguns nomes que aparecem na lista da propina às obras, mas é preciso aprofundar o trabalho. VEJA analisou os oito maiores projetos citados pelo Ministério Público. Todos têm orçamentos milionários (veja o quadro). Na maioria, a Camargo Corrêa receberá muito mais pelo trabalho do que o que havia sido acertado inicialmente. Por exemplo: as eclusas de Tucuruí começaram custando 230 milhões de reais, mas seu preço final ficará em 883 milhões de reais. Só se consegue esse aumento contando com a boa vontade de políticos e servidores dos órgãos encarregados de fiscalizar o projeto. Há também casos em que o Tribunal de Contas da União (TCU) descobriu indícios de sobrepreço. Um deles é o do metrô de Fortaleza, no qual foram apontados gastos de 133 milhões de reais sem justificativa.

Venezuela: Chávez prende ex-aliados

O presidente venezuelano está cortando na carne. Dos outros, como sempre. Nas últimas três semanas, Hugo Chávez mandou prender trinta banqueiros e altos funcionários de sete instituições financeiras, postas sob intervenção. Chamou-os publicamente de "bandidos", "corruptos" e os encarcerou nas pouco confortáveis dependências da polícia política, recém-rebatizada de Serviço Bolivariano de Inteligência. É um raro caso em que fica difícil duvidar das palavras de Chávez, mas não custa dar uma olhada no que existe por trás delas. Detenções arbitrárias são corriqueiras na Venezuela. A surpresa é que, desta vez, atingiram integrantes da boliburguesia – neologismo criado para denominar os empresários alinhados com o bolivarianismo, a ideologia da linha populista autoritária propugnada por Chávez. Seus integrantes são sindicalistas e companheiros de partido que, graças à amizade com o caudilho, foram promovidos a empresários e amealharam fortunas em contratos amistosos com o governo.
Com a popularidade do "comandante" em baixa e o acirramento das disputas internas por benesses estatais, esses chavistas ardorosos, que usam boné vermelho até nos fins de semana, tornaram-se vítimas do próprio patrono. A operação deixou três lições: quem sobe muito cai mais depressa num ambiente político em que o todo-poderoso faz o que quer; quem dá tira, se não existirem os mecanismos democráticos do equilíbrio e contrapesos entre os poderes; e quem tira prende, se isso atender a seus interesses.
A ascensão da boliburguesia é a conquista social mais vistosa do chavismo. Com nacionalizações, congelamentos de preço e perseguições, Chávez espantou e destruiu os empreendedores tradicionais. Os que ficaram aderiram. Os que caíram fora foram substituídos pelos companheiros, que prontamente adotaram hábitos da antiga elite, como as viagens frequentes a Miami, o uísque sem gelo, as mulheres com silicone e, no topo de tudo, o jipão americano Hummer, de 100 000 dólares. Para essa nova classe social, estranha às noções mais elementares de gestão, bastam os contatos no Palácio de Miraflores, a sede do governo. Ricardo Fernández Barrueco, o primeiro a receber a ordem de prisão, é um caso exemplar. Em 2003, ofereceu caminhões de sua então modesta frota para furar uma greve geral de teor antichavista. Caiu nas graças do regime e foi escolhido para abastecer toda a rede da Mercal, a estatal de supermercados em que sempre falta de tudo. Com o empurrão, Barrueco comprou dezenas de empresas, entre elas quatro bancos de pequeno porte, que passaram a receber generosos depósitos do governo, incluindo pagamentos de funcionários públicos. Seu patrimônio bateu em 1,6 bilhão de dólares. Outros três bancos dirigidos por boliburgueses foram escolhidos para receber as mesmas gentilezas.

Época

Investigadores sob suspeita

O Ministério Público tem a atribuição de atuar como defensor da sociedade contra os abusos e irregularidades cometidos por integrantes dos governos. As principais armas dos promotores de Justiça e dos procuradores da República são investigações que geralmente levam a peças de acusação na Justiça. Quando os promotores passam a ser investigados e a responder a denúncias, a lógica de funcionamento do Ministério Público é corrompida. Mas essa tem sido a realidade no Ministério Público do Distrito Federal desde que o caso do mensalão do DEM explodiu em Brasília, há duas semanas.
O procurador-geral Leonardo Bandarra e a promotora Deborah Guerner são investigados no inquérito da Operação Caixa de Pandora por suspeitas de corrupção. Elas foram levantadas por Durval Barbosa, o ex-secretário de Relações Institucionais do governador José Roberto Arruda que detonou o escândalo ao fazer uma delação premiada. Bandarra e Deborah estão também no centro de uma surpreendente polêmica que ameaça minar a credibilidade da instituição. A alta temperatura da crise no Ministério Público do Distrito Federal pode ser medida por e-mails que circularam na intranet da instituição, aos quais ÉPOCA teve acesso. Sem mesuras, os documentos trazem discussões, ameaças e ásperos pedidos de explicação. Num dos e-mails, Deborah chega a manifestar o receio de vir a ser assassinada. Ela cobra de Bandarra resposta a um pedido de proteção a sua integridade física. “Se me assassinarem, será que vai jorrar fita de várias partes do mundo? Mas aí eu já morri”, afirma.
As suspeitas contra Bandarra e Deborah foram levantadas por Durval Barbosa num depoimento à Polícia Federal. Ele disse aos investigadores ter recebido, em 2007, a visita de Cláudia Marques, uma assessora do governador Arruda. No encontro, segundo Barbosa, Cláudia, falando em nome de Bandarra e de Deborah, teria pedido a ele ajuda para conseguir retirar de circulação da internet acusações contra os dois. Naquele ano, Roberto Kuppê, um jornalista de Brasília que atua como dublê de empresário, publicara em seu blog que Deborah e Bandarra teriam favorecido empresas de coleta de lixo em contratos emergenciais com o governo do Distrito Federal. A Polícia Federal investiga se houve pagamento de propina de R$ 300 mil por mês para a renovação semestral desses contratos, que dependia de aval do Ministério Público.
No depoimento à PF, Barbosa disse também ter entregue a Cláudia Marques vídeos em que Arruda e assessores aparecem recebendo dinheiro. Segundo Barbosa, os vídeos teriam sido copiados na casa da promotora Deborah e repassados ao empresário Roberto Cortopassi, dono da WRJ Engenharia. Em 2007, Cortopassi e Deborah tiveram um vínculo. Ele e o marido da promotora, Jorge Guerner, prospectavam negócios juntos – inclusive em Angola. A empresa de Cortopassi tem uma dívida milionária com o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal. Na versão de Barbosa, relatada à PF, Cortopassi teria usado os vídeos recebidos por intermédio da promotora Deborah para chantagear Arruda em 2009 e obter a suspensão da cobrança de sua dívida pelo BRB. Arruda desmente a chantagem.
Barbosa levantou ainda suspeitas sobre um relacionamento promíscuo entre Deborah e o governo Arruda. Ele disse à PF que comprou dois telefones celulares para uso exclusivo em conversas com a promotora. Nessas conversas, os dois recorriam a codinomes para dificultar a identificação. Barbosa era “Gabriel”, e Deborah “Rapunzel”. “Isso não faz o menor sentido”, diz Deborah ao desmentir a história do celular. Barbosa entregou seu celular à PF para perícia. Com isso, espera comprovar a troca de telefonemas e mensagens com a promotora. Deborah nega também ter recebido os vídeos em que Arruda e assessores pegam dinheiro com Barbosa. Ela disse a ÉPOCA ter recebido em casa um pacote, embrulhado em papel de presente, enviado por Barbosa. Deborah disse que esperava vídeos contra o ex-governador Joaquim Roriz, prometidos por Barbosa. Mas, segundo ela, o pacote estava vazio.

Sobrou panetone para 2010

Num país incapaz de fazer a necessária higiene nos costumes políticos, as denúncias de corrupção se transformaram numa sabatina para a escolha de candidatos a cargos majoritários. Em 2002, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, renunciou à pré-candidatura à Presidência da República depois que a Polícia Federal descobriu um milionário caixa dois numa empresa da família. Na semana passada, dois integrantes do primeiro escalão da política brasileira, pré-candidatos a desempenhar um papel de relevo em 2010, foram submetidos a teste semelhante.
No centro do escândalo do panetone, alimentado por uma inédita coleção de vídeos comprometedores, na quinta-feira passada o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, cancelou a filiação ao DEM e tornou-se um político sem partido. Nessa condição, ficou impossibilitado de disputar qualquer cargo eletivo no ano que vem, seja a própria reeleição – algo provável antes do escândalo –, seja uma cadeira de vice na campanha do PSDB, ambição que inspirava parte de seus movimentos. Com altos índices de aprovação antes que o esquema de corrupção se tornasse público, Arruda era visto como um precioso aliado da oposição numa eleição presidencial que se prevê difícil. Ao sair de cena, evita transformar-se num desses cabos eleitorais que tiram votos do aliado e só ajudam o adversário.
O outro caso é mais discreto e seu desfecho indefinido, ainda. Diz respeito a Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara de Deputados. Temer parecia um nome certo para vice na chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, até que, nos últimos 15 dias, foi alvo de duas acusações. Na primeira, foi citado como beneficiário de uma contribuição de campanha da empreiteira Camargo Correa, de R$ 410 mil, que teria ficado fora da prestação de contas à Justiça Eleitoral. Em outro episódio, um dos integrantes do bando do panetone de Brasília chegou a dizer, em vídeo gravado, que o esquema entregava a Temer uma mesada mensal de R$ 100 mil. Não há provas de que essas denúncias sejam verdadeiras. Temer repudia as acusações com palavras firmes. Políticos experimentados suspeitam da denúncia em vídeo, que lhes parece teatral demais para ser autêntica.

Vitória da censura

O Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão surpreendente na quinta-feira passada. Encarregados de discutir uma ação do jornal O Estado de S. Paulo para suspender a censura prévia que o proíbe de divulgar reportagens sobre as investigações da Polícia Federal sobre as empresas de Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, os ministros decidiram, por 6 votos a 3, manter a proibição.
A decisão causou preocupação e mal-estar. Um ministro do Supremo, que votou com a minoria, confidenciou a ÉPOCA seu receio de que juízes de primeira instância se sintam estimulados a assinar medidas semelhantes contra outros órgãos de imprensa. Votaram pela censura seis ministros: Gilmar Mendes (presidente do STF), Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, José Antonio Dias Toffoli, Eros Grau, além do relator Cezar Peluso, vice-presidente do Tribunal. Três ministros foram contra a censura: Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia e Celso de Mello. Joaquim Barbosa estava ausente e Marco Aurélio Mello não ficou até o final dos debates.
Os advogados de O Estado de S. Paulo tentaram derrubar a proibição com o argumento de que, ao anunciar o fim da Lei de Imprensa, meses atrás, o Supremo restabelecera a plena liberdade de expressão no país. O argumento de Peluso foi que, no assunto em discussão, não é a liberdade de expressão que está em pauta – mas o uso de material que, obtido a partir de escutas telefônicas, pode envolver a intimidade e a privacidade de pessoas investigadas pela Justiça. “Se são invioláveis a honra e a privacidade, é preciso que isso tenha consequência”, disse Gilmar.

A planilha da empreiteira

Em março, delegados e agentes da Polícia Federal entraram na sede da empreiteira Camargo Corrêa, em São Paulo, e nas casas de alguns de seus executivos. Batizada de Castelo de Areia, a operação era o ponto alto de uma investigação sobre crimes financeiros e lavagem de dinheiro. Quatro executivos, duas secretárias e quatro doleiros foram presos. De acordo com a PF, os executivos usavam serviços de um doleiro para enviar recursos de caixa dois para o exterior. Na casa do executivo Pietro Francesco Giavina Bianchi, a PF achou outro tipo de evidência. Num pen drive, estavam arquivos eletrônicos que formavam 54 planilhas com dados como ano, obra, nomes e valores. A partir deles, abriu-se uma investigação voltada para as historicamente complicadas relações entre obras públicas, empreiteiras e campanhas eleitorais.
Na semana passada, o Ministério Público Federal em São Paulo enviou as planilhas mantidas por Bianchi ao Supremo Tribunal Federal, com um pedido de abertura de investigações sobre alguns nomes que nelas figuram. ÉPOCA teve acesso a todas as planilhas, em páginas de inquérito numeradas de 82 a 132. Suas colunas trazem datas, nomes de obras, nomes de pessoas e valores supostamente entregues a elas. As anotações dos valores são feitas sempre em dólares, com a correspondente cotação da moeda em reais na data do pagamento. Alguns nomes aparecem completos, outros são identificados por iniciais ou abreviações. Não há nenhuma evidência concreta sobre a identidade da maior parte desses nomes nem de que o dinheiro tenha sido mesmo entregue a quem aparece nas planilhas. Não se sabe nem se os valores correspondem a doações ilegais a políticos ou ao caixa dois da empreiteira.
De acordo com a Polícia Federal, porém, elas sistematizam a contabilidade paralela da Camargo Corrêa. A empreiteira teria entregue, segundo a PF, R$ 178 milhões em quatro anos a deputados federais, senadores, prefeitos, funcionários e conselheiros de tribunais de contas – encarregados de fiscalizar gastos de governos – e empresas estatais, de alguma forma relacionados a 208 obras e contratos da Camargo Corrêa entre 1995 e 1998, no Brasil e no exterior.
Alguns dos nomes da planilha chamam a atenção, por aparecer explicitamente. É o caso do senador Delcídio Amaral, citado como “Delcidio Gomes” (seu último nome é Gomez) em linhas correspondentes à obra Machadinho, uma usina hidrelétrica no Rio Grande do Sul. Somando os valores associados a ele, Delcídio teria recebido R$ 485 mil em quatro remessas feitas entre 1996 e 1997. Na época, ele era diretor da Eletrosul, estatal de transmissão de energia da Região Sul e Mato Grosso do Sul. “É estranho que meu nome esteja nessa lista, tenho total desconhecimento disso”, diz Delcídio. Outro nome mencionado em relação à mesma obra é o do ex-senador Jorge Bornhausen (DEM-SC). Ele aparece ao lado de duas remessas, em 1996, que somam R$ 206 mil. “Acho que isso é uma patifaria. As doações feitas a mim estão registradas no tribunal”, diz Bornhausen. Ele afirma que, nas datas em que aparece na planilha, era embaixador em Portugal.

7 dias para salvar o mundo

A Conferência do Clima de Copenhague, a COP15, é nossa melhor oportunidade para salvar a civilização de um colapso causado pelo aquecimento global. A relevância do evento, que termina no dia 18, atraiu para a capital da Dinamarca cerca de 35 mil participantes, entre chefes de Estado, diplomatas, políticos, ativistas, cientistas, empresários e jornalistas. É o dobro do que previa a organização. Foi tanta gente que os dinamarqueses foram obrigados a criar um sistema de revezamento para acesso ao centro de convenções que abriga as principais reuniões, o Bella Center. Já é o maior encontro sobre mudanças climáticas da história. O tom da expectativa é fornecido pela própria anfitriã. “Há momentos na história em que o mundo pode escolher entre dois caminhos”, diz Connie Hedegaard, ministra do Clima e Energia da Dinamarca. “Podemos seguir na estrada da prosperidade verde e um futuro sustentável. Ou escolher o impasse e não fazer nada para o clima, deixando uma enorme conta para nossos filhos e netos pagarem.” Até o fim desta semana, espera-se uma resposta, na forma de algum acordo para limitar as emissões de gases poluentes responsáveis pelo aquecimento global. Será que Copenhague consegue salvar o mundo?
O prazo é curto. As emissões humanas responsáveis pelas mudanças climáticas – oriundas principalmente da queima de combustíveis fósseis para transporte e energia e do desmatamento – têm de começar a cair já para evitar o pior. Segundo um levantamento divulgado na semana passada pelo Met Office, o centro meteorológico britânico, a única chance de evitar que a temperatura média da Terra suba mais do que 2 graus célsius é fazer as emissões parar de aumentar na próxima década. “Mesmo assim, ainda há 50% de chances de o aquecimento ser maior do que isso”, diz Vicky Pope, chefe de pesquisas climáticas no Met Office. Dois graus é o limite, segundo os cientistas, até onde é possível adaptar nosso modo de viver e produzir riquezas para as novas condições climáticas. Se a Terra esquentar mais, dizem os pesquisadores, as consequências – como ruptura dos padrões de chuva e seca ou elevação do mar – ameaçariam nossa civilização.

ISTOÉ

O imperador Arruda

Flagrado como o personagem central do esquema de corrupção mais escandaloso do País, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tem se movimentado como um imperador para se manter no cargo. Míope diante das regras de um Estado democrático, ele não hesita em usar o poder para tentar conter as investigações contra si e não pensou duas vezes antes de recorrer à força a fim de evitar manifestações a favor do impeachment. Sob sua ordem, na quarta-feira 9, as ruas de Brasília foram ocupadas pela cavalaria da Polícia Militar do DF e acabaram sendo o cenário de um filme que os brasileiros não viam desde a repressão imposta pela ditadura militar contra os estudantes em 1968 no Rio de Janeiro.
Para conter uma manifestação com cerca de duas mil pessoas, Arruda escalou 600 policiais. O Batalhão de Operações Especiais usou gás lacrimogêneo, cachorros e até um helicóptero, de onde atiradores de elite miravam a população com armas potentes. A cavalaria pisoteou os estudantes e não poupou nem os adolescentes, como aconteceu nas escadarias da Igreja da Candelária há 40 anos. Só faltaram os sabres. Oito pessoas foram feridas em frente ao Palácio Buriti, sede do governo local. “As agressões da polícia de Arruda violaram direitos constitucionais”, afirma o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, César Britto. “Houve um erro de intimidação contra os cidadãos. Não podemos deixar a Constituição ser rasgada.”
No campo político, Arruda age como se estivesse acima das instituições. Líderes do DEM, como o deputado Ronaldo Caiado (GO) e o senador Demóstenes Torres (GO), queriam expulsá-lo do partido tão logo o escândalo do mensalão de Brasília se tornou público. Outros, mais contidos, como o senador Heráclito Fortes (PI) e o deputado Paulo Bornhausen (SC), exigiam que o governador tivesse tempo para se defender. O presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), concedeu oito dias para a defesa de Arruda.
O governador, no entanto, em vez de apresentar uma defesa, resolveu ignorar o partido e suas instâncias. Recrutou aliados de outras legendas, como o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), para pressionar o próprio partido, amea¬çou os democratas insinuando que o dinheiro do mensalão de Brasília possa ter financiado campanhas do DEM em diversos Estados e, por fim, tentou dar um golpe na legenda recorrendo à Justiça em busca de uma liminar para impedir qualquer procedimento do DEM. Na tarde da quinta-feira 10, a ministra Carmem Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negou o pedido do governador. Ao receber a informação, Arruda anunciou sua desfiliação do partido. No DEM, a decisão foi comemorada. “Demos uma grande resposta ao caso talvez mais grave de nossa história. Nos diferenciamos dos outros partidos”, afirmou Rodrigo Maia.

Em busca de popularidade

O Brasil adota sistema presidencialista de governo e não tem um primeiro-ministro. Mas, desde a exibição do programa oficial do PT em horário nobre de televisão, na quinta-feira 10s, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi ungida, na prática, ao cargo máximo do parlamentarismo. Afirmou-se que todas as mudanças no País se devem ao trabalho de uma grande equipe, comandada por Dilma. “Uma equipe que faz tudo com muito amor e competência”, disse o presidente Lula, ressaltando que “é possível haver democracia com crescimento econômico”. De terno vermelho, maquiada e sorridente, Dilma deu prova do perfeito entrosamento com o chefe: “Penso igual ao sr., presidente. A gente fez muito, mas sabe que é preciso fazer muito mais.”
O diálogo amistoso entre Lula e Dilma serviu para antecipar qual será a estratégia adotada pelo PT. Apresentada como gestora das grandes obras e responsável tanto pela exploração do pré-sal quanto pelo programa Minha Casa, Minha Vida, a ministra vai bater na tecla de que “o que Lula está fazendo não pode parar”. A peça de resistência será, sem dúvida, a dobradinha Lula-Dilma. Dessa forma, o PT espera conquistar seu maior desafio: transformar a imensa popularidade de Lula em votos para a sua candidata.
Os responsáveis pelo marketing eleitoral da ministra acreditam que, ao colar a imagem de Lula a Dilma, os dividendos eleitorais serão líquidos e certos. O PT aposta que, após a exibição do programa de tevê, Dilma se tornará mais conhecida e sua campanha ganhará novo ritmo. “Quando a população conhecer a ministra, o atual percentual de rejeição vai despencar”, prevê o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), um dos integrantes do núcleo político que aconselha a ministra. Ele se refere aos resultados da pesquisa CNI/Ibope divulgada no dia 7.
Apesar de conhecida apenas por 32% dos brasileiros, Dilma mostrou um índice de rejeição de 41%. O que fez surgirem rumores, em Brasília, de que a campanha de Dilma estaria sendo reavaliada. Além do bem-sucedido marqueteiro petista João Santana, passariam a cuidar da imagem de Dilma outros dois papas da publicidade: Duda Mendonça e Nizan Guanaes. Dentro do PT, nega-se o reforço com veemência. “Isso é coisa de gente que quer dar um pitaco na campanha. Estamos satisfeitos com o trabalho de João Santana. Basta ver a qualidade do programa de tevê”, afirmou à ISTOÉ uma fonte ligada à Presidência.

Briga no palanque

A eleição nos diretórios estaduais do PT escancarou o racha no partido e mostrou que a repetição da aliança com o PMDB nos Estados está cada vez mais complicada. Em conversa com auxiliares nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que, em pelo menos cinco Estados importantes, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, terá que subir em dois palanques. São eles: Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pará. Em São Paulo, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) confirmou à ISTOÉ que lutará para viabilizar sua candidatura ao governo do Estado. Apesar do desejo de Lula de lançar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) como candidato de consenso, Suplicy é o sexto petista a apresentar seu nome ao Palácio dos Bandeirantes. Além dele, postulam a vaga o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, a ex-prefeita Marta Suplicy, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o deputado Arlindo Chinaglia e o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Acredito que conseguirei as assinaturas para oficializar meu nome”, disse Suplicy.
A situação mais difícil para o PT é a de Minas Gerais. De um lado da trincheira, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, e do outro, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, ambos pré-candidatos ao governo de Minas no ano que vem. Diante dos recursos pedindo a impugnação do pleito – vencido por Reginaldo Lopes, ligado a Pimentel –, a apuração de cerca de 15 mil votos foi interrompida. O clima é belicoso e não há dúvida de que deixará sequelas para 2010. Na quarta-feira 9, Patrus, que apoiou Gleber Naime, mandou uma carta à direção do partido pedindo intervenção nacional no processo eleitoral no Estado. “Herdaremos dessa eleição um partido dividido, sangrando e exposto ao escárnio público”, disse à ISTOÉ o ex-deputado estadual Rogério Corrêa, aliado de Patrus. Mesmo que Reginaldo seja declarado vencedor, Patrus não abrirá mão de disputar com Pimentel as prévias para decidir quem será o candidato do PT ao governo.

Largada obscura

O lançamento do nome da senadora Marina Silva (AC) à Presidência da República em agosto prometia provocar uma reviravolta na sucessão presidencial. Uma terceira via parecia empolgar parte do eleitorado cansado da polarização PT-PSDB, que domina a cena política desde 1994. Era o fim da eleição plebiscitária, vaticinaram analistas. Mas a euforia ficou restrita à largada. Além de não corresponder à grande expectativa criada, a candidatura, em vez de decolar, desidratou nos últimos três meses. Na pesquisa CNT/Sensus, divulgada no fim de novembro, Marina Silva (PV) aparece em último lugar, com apenas 5,9%. Na última pesquisa do Ibope ela aparece como a candidata com a segunda maior rejeição: 40%. “Marina perdeu fôlego rápido demais. Nem sequer repôs a intenção de voto de Heloísa Helena, candidata em 2006 pelo PSOL”, constatou o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, que há 20 anos analisa pesquisas eleitorais.
Marina ficou à margem até do tema que lhe é mais caro. Nas discussões sobre qual proposta o Brasil deveria levar para a COP15, a cúpula sobre mudanças climáticas promovida pela Organização das Nações Unidas em Copenhague, na Dinamarca, pouco se ouviu a voz de Marina. Nem mesmo na primeira semana de discussões, que teve início na segunda-feira 7, a pré-candidata do PV deu as caras para falar sobre o assunto. Marina foi para a Dinamarca na sexta-feira 11, mas já chega atrasada pelo fato de ainda não ter manifestado, ao menos em alto e bom som, sua posição sobre as propostas do País e os rumos que as discussões têm tomado em nível global.

“Me encurralaram na embaixada” – Entrevista com Manuel Zelaya

Esgotadas as hipóteses formais para seu retorno ao poder em Honduras, o presidente deposto Manuel Zelaya vê seu dilema agravar-se dia após dia. Com a negativa do Congresso em restituí-lo e a iminente posse do presidente eleito Porfírio Lobo em janeiro, resta apenas o exílio. Na quarta-feira 9, Zelaya fez a primeira tentativa de deixar o país em dois meses e meio, tempo em que permanece abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Seu destino era o México.
Mas o presidente de fato, Roberto Micheletti, condicionou o salvo-conduto à assinatura de uma carta de renúncia, o que Zelaya recusou. “O presidente eleito pelo povo está sendo mantido preso em seu próprio país”, disse Zelaya à ISTOÉ. Como agravante, o governo mexicano declarou “não haver condições” para receber o hondurenho. Enquanto isso, o chanceler Celso Amorim, sempre solidário, garantiu que não vai expulsar Zelaya da embaixada.
ISTOÉ – O sr. tentou deixar o país pela primeira vez desde que retornou em setembro. A ideia era exilar-se?
Manuel Zelaya – Fiz um pedido de salvo-conduto para poder estabelecer um diálogo por causa do problema que existe em meu país. O presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, sugeriu que eu fosse ao México como chefe de Estado, na condição de convidado distinto. Mas na última hora o governo Micheletti me impôs uma carta de renúncia. Essa era a condição para eu sair, então recusei.
ISTOÉ – Sem permissão para sair nem voltar ao poder, qual o caminho?
Zelaya – O presidente eleito pelo povo está sendo mantido preso em seu próprio país. Me encurralaram na embaixada. Estamos sob um cerco militar muito duro. Não permitem visitas, não posso ver os deputados, líderes religiosos, empresários, nem minha família, nem partidários que me acompanharam 25 anos na luta política.
ISTOÉ – Há alguma chance de o sr. reconhecer a eleição de Porfírio Lobo?
Zelaya – Absolutamente. Essas eleições não corrigem o golpe de Estado. Foram manipuladas por quem tem interesse em manter o atual estado militar. São eleições que mantêm no poder a casta militar, grupos políticos e até uma corte de Justiça, dominada pela oposição e que conspirou para me tirar do poder, quando fez um julgamento secreto e expediu a ordem de captura naquela noite de 28 de junho. E isso sem nenhum procedimento judicial legítimo, pois não tive sequer o direito de defesa.

A máquina de fazer dinheiro da camargo

Não é surpresa para ninguém que as empreiteiras no Brasil são tradicionais fontes de financiamento de campanhas eleitorais. Mas chamou a atenção na última semana o vazamento de informações do inquérito da Operação Castelo de Areia, revelando um esquema de caixa 2 da construtora Camargo Corrêa para pagamento mensal a parlamentares, partidos e gestores públicos. São citados políticos do PMDB, DEM, PSDB, PP e PTB. Segundo fontes da Polícia Federal, a contabilidade paralela teria movimentado até R$ 30 milhões. Os detalhes das propinas, com percentuais, valores em dólares, nomes e obras envolvidas, constam de uma planilha de 54 páginas apreendidas na casa de Pietro Bianchi, um dos diretores da empreiteira. A documentação pode jogar por terra muitas candidaturas em 2010.
No relatório final da operação, a PF cita 208 contratos da Camargo Corrêa firmados entre 1995 e 2000. Até agora foram encontrados indícios de irregularidades ao menos em 14 obras. É o caso, por exemplo, da construção do Rodoanel, em São Paulo, e das eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. A PF levantou a suspeita do envolvimento do diretor da Eletronorte, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antônio Palocci, no pagamento de R$ 2,1 milhões para a assinatura de um aditivo no contrato entre a empreiteira e a Eletronorte. PT e PMDB, segundo a PF, teriam recebido R$ 500 mil cada um.
A lista de políticos e autoridades é extensa. Segundo a PF, inclui os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Edson Aparecido (PSDB-SP), e o secretário de Habitação da cidade de São Paulo, Elton Zacarias. Os documentos também citam o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o governador do DF, José Roberto Arruda, pivô do escândalo do Mensalão do DEM. Todos os políticos negam o recebimento de propinas ou a participação no esquema.

Fonte:Revistas da semana.

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