Às vésperas de soar os sinos do Natal, a China anunciou a retomada das importações de carne bovina brasileira. A notícia chega a tempo de recuperar o saldo das exportações da proteína, que poderiam ficam no vermelho caso o mercado continuasse fechado em dezembro.
A China é responsável por comprar quase 60% das exportações brasileiras de carne bovina e em pouco tempo, de 2018 para cá, os chineses passaram a ocupar lugar de destaque no rol de clientes. Mesmo que o consumo per capita nessa região seja muito baixo, dado o tamanho da população, o resultado nas exportações é relevante para o nosso país.
E como o que vale é vender, rapidamente as indústrias e os produtores brasileiros voltaram seus olhos só para China. Porém, a situação vivida nesse ano é importante para que estratégias de diversificação de mercado sejam estabelecidas. Em 2000, 60% das exportações de carne bovina brasileira iam para a União Europeia. E menos de 10% para a Ásia. Essa relação hoje é exatamente a inversa.
O Brasil precisa e deve continuar olhando para a Ásia. Mas é importante estar atento para não colocar os ovos em uma cesta só. Agregar valor à carne bovina, para o mercado europeu, por exemplo, é estratégico. Desenvolver instrumentos que comprovem a rastreabilidade, a sustentabilidade e não relação da produção com o desmatamento ilegal também.
Há uma mútua dependência entre o Brasil e a China. China e Hong Kong são os maiores compradores da carne bovina brasileira. Mas, considerando o total comprado por esses dois países, o Brasil também é o maior fornecedor. Ou seja, a China depende também do Brasil. Isso vale não apenas para a carne bovina, mas para outros produtos, como carne de frango e, de maneira ainda mais forte, para a soja.
Ainda que haja uma interdependência, os chineses seguem buscando por diversificação, como com os nossos vizinhos, Argentina, Uruguai e Paraguai. O Brasil também deve estar atento. Comemorar a reabertura, as tendências de médio e longo prazo de aumento da demanda, mas não esquecer do “velho mundo” e do seu potencial de agregação de valor.
Há alguns anos atrás, o foco dos produtores que tinham condições de investimentos era produzir animais para a cota Hilton. Uma norma imposta pela União Europeia para limitar volume e estabelecer critérios de qualidade para carne enviada para os países que compõem o bloco. Rastreabilidade, idade e certificação estão entre os requisitos.
Atualmente, me arrisco dizer que alguns produtores desconhecem este mercado que, além de exigir, remunera. Isso porque o animal comercializado ganha um diferencial por arroba, além do excedente já pago aos animais vendidos para a Europa.
Temos muito a comemorar com a volta da China, temos. Mas não é motivo para virar as cotas para outros mercados.
Este episódio deixou claro que apesar de ser importante, o Brasil não é indispensável. Este deve ser sempre o lema do setor produtivo, produzir mais, mas também produzir melhor, e vender, sem paixão.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação