TUDO É VAIDADE

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De que nos serve a conquista do mundo se nos danarmos eternamente? Essa deveria ser a questão fundamental a ser levantada por cada um de nós no correr da semana santa; na verdade, no correr de toda santa semana. Mas, “sacumé”, não fazemos isso não. Preferimos, cada um do seu jeito, seguir um caminho todo torto, feito por nós, no peito, do nosso jeito.

De que nos valerá as vitórias neste mundo se ela nos custar uma derrota sem fim? Pelejas mil são travadas por nós, em nosso dia a dia, mas contra o que lutamos? Pelo que nos sacrificamos? Sim, conheço os versos de Fernando Pessoa que nos diz que tudo vale a pena se a alma não for pequena, porém, há certas coisas que, por entregarmos tudo, nos apequenam; e nos apequenamos crendo que estamos nos engrandecendo. Ledo engano. Mais um entre tantos.

Imprimimos uma seriedade mortal ao tratarmos de certos assuntos que, muitas vezes, mereceriam apenas uma olhadela desatenta e, dedicamos uma atenção fugidia para questões que deveria ocupar um lugar central em nossa vida; e nós nos entregamos a essa inversão brutal da ordem do real como se ela fosse a própria necessidade central da vida e, fazemos isso, duma forma tão tola quanto inconsequente.

Agimos, muitíssimas vezes, de forma similar ao escritor Ernest Hemingway que, quando questionado se ele acreditava em Deus, dizia: “só à noite”. Bah! Como fazemos isso sem nos darmos conta. Pior! Como fazemos isso de forma incônscia e leviana. Deveríamos, penso eu, fazermos como o escritor Guimarães Rosa que, de forma lacônica e sorumbática, dizia sempre aos amigos que a única questão que realmente importa é a existência de Deus.

Pois é. Aí, no meio desse escrevinhar atabalhoado, eis que me vem à memória a imagem do “último homem” descrito pelo bigodudo maldito, Friedrich Nietzsche; “último homem” esse que seria a imagem daqueles indivíduos que idolatram a saúde, que divinizam à saciedade de seus impulsos sensoriais, que servilmente se curvam frente aos tentáculos do Estado, o mais frio dos monstros frios e, nesse idolatrar sem eira nem beira, segue o bom cidadão criticamente crítico em sua marcha acelerada para o fundo do abismo que, por meio de gritos histéricos e sussurros pornográficos, sedutoramente o chama.

Seja como for, se realmente realizássemos um bom exame de consciência, se fôssemos, de fato, mandar a real para nós mesmos, reconheceríamos, com temor e tremor, que infelizmente somos homens de pouca fé. Digo, não de pouca fé, mas sim, homens que depositam sua confiança em promessas ocas dum Éden mundano, tecnológico e saneado. É. E como reza o salmista, infeliz do homem que confia no próprio homem.

Mas, dificilmente nós nos entregamos a um demolidor exame de consciência. Dificilmente. Somos vaidosos demais para isso. Preferimos, no lugar disso, apontar nosso dedo criticamente crítico para tudo e todos, para os céus e para o inferno para, desse modo, podermos melhor desviar nosso olhar das manchas que maculam nossa alma e deixam nosso coração peludo em estado putrefaz.

É mais fácil agirmos assim. É mais fácil nos condenarmos do que nos arrepender e pedir perdão ao Rei dos reis.

Por fim, penso que no correr desta semana santa seja de fundamental importância pararmos de agir como o “último homem” nietzschiano e passarmos a seguir o conselho de Santo Afonso de Ligório que nos admoesta a todo santo dia meditarmos sobre a morte; sobre a nossa morte e vermos se, realmente, tudo o que fizemos até aqui valeu, realmente, a pena.

Não se valeu a pena frente as redes sociais, junto aos círculos de amigos e colegas, perante as potestades desse mundo e diante do tribunal da história, mas sim, se tudo o que fizemos até o momento realmente tem alguma valia diante da eternidade. É isso que, de fato importa. O resto, com o perdão da palavra, é perda de tempo.