É totalmente aceitável que um cidadão com bons serviços prestados e com característica de ser uma liderança seja carregado pelo clamor popular até uma condição de ocupar um cargo eletivo. Quando esta condição é premeditada de trás para frente, ou seja, um alguém com primeira obsessão de ingressar na política se ‘infiltra’ em um segmento ou em uma causa, absorvendo de sua exposição o ingrediente que precisava para ser um vereador, por exemplo, isto é tão áspero como um delinquente que tem coragem de matar só para ficar com a herança do parente rico.
Infelizmente nos últimos anos, em esferas municipais, estaduais e federal, homens e mulheres nascem politicamente corrompidos e vão se tornar por isto inevitavelmente parlamentares e gestores mal formados quando chegarem, na maioria das vezes por meios fraudulentos, onde almejam. Se o poder econômico continua fazendo estragos nos resultados das eleições brasileiras, a ingenuidade popular em não identificar os hipócritas verbais é outro vazamento moral que deixa fétido os cenários eleitorais, sobretudo por quem tem a oportunidade de ver a política por dentro, quando a câmera e o gravador estão desligados.
A expressão “o fim justifica os meios”, totalmente atribuída ao historiador do Renascimento Nicolau Maquiável, apesar de não estar literal em suas escritas, é a frase motivacional de cabeceira de muitos postulantes a deputados, senadores, governadores e presidentes que concorrerão no próximo outubro. A conduta ilibada é fácil de ser construída, com um bom marqueteiro dá para se fazer, da mesma maneira uma bandeira pode ser levantada em um simples horário eleitoral ou com um culto de personalidade. Mas isto só não basta, ainda há de se ter currículo. Por isto ter sido presidente de sindicato, de bairro ou líder de uma comunidade é tão interessante.
De dois em dois anos, lideranças de bairros são fechadas em reuniões junto a velhos políticos de vários mandatos e lá negociam pela quantidade de moradores da localidade onde moram o valor de seu passe. A influência de cada um destes líderes é medida pela força alcançada nas urnas próximas ao bairro ao candidato por ele apoiado. A credibilidade e o valor destes pseudolíderes lhe encherá os bolsos, enquanto ele usa parte disso para comprar votos. Se ele for articulado, pode até evoluir da condição de mero captador de votos para ter sua própria vitoriosa candidatura.
O emaranhado é bem parecido com a lei dos morros para ascensão de um cidadão rumo a chefe da boca e não é muito diferente de qualquer outra ação criminosa. O homem hoje é medido por sua influência, então ser apresentador de televisão e voz ativa de um grupo vale dinheiro. Partidos políticos já não têm mais ideologia faz tempo. Caráter é cartucho desnecessário e dá para ser construído na TV. Na prática é característica de quem ‘trava’ o sistema. Os valores estão invertidos e a malandragem são condições primordiais para não ser engolido pela cadeia alimentar dos conchavos. Há de se abrir os olhos atualmente com quem adora falar no microfone.
Hevandro Soares