Impeto de consumo em Mato Grosso

A crise econômica global não freou o ímpeto de consumo do mato-grossense. De janeiro a setembro de 2009, em comparação com igual período do ano passado, as dívidas – registros de inclusões negativas em órgãos de restrição ao crédito – saltaram 13,32%, passando de R$ 48,187 milhões para R$ 54,606 milhões. Os dados são do Crediconsult/Facmat, registrados na Serasa.
Os números retratam bem o panorama do endividamento dos consumidores mato-grossenses nos primeiros nove meses de 2009. De acordo com os indicadores, o valor acumulado das dívidas, nos últimos cinco anos – setembro de 2004 a setembro deste ano – já é de R$ 189,646 milhões, com média de 1.115 inclusões por dia.
Ainda segundo o levantamento, o tíquete médio das dívidas, registrado no banco de dados, é de R$ 233.
Nos últimos cinco anos, o número de clientes incluídos no rol dos inadimplentes acumula 407.750 registros. (Veja quadro ao lado)
Apesar do enxugamento da liquidez após a crise mundial, no último trimestre de 2008, os consumidores continuaram encontrando facilidades nas compras a crédito. Este ano, as taxas de juros voltaram a cair, algumas lojas passaram a conceder “anistia” de juros aos clientes e os prazos de financiamento foram ampliados.
“Há um tempo atrás, se comprava em até seis vezes sem juros. Hoje tem loja vendendo em até 18 meses sem acréscimo”, lembra o superintendente da Federação das Associações Comerciais do Estado de Mato Grosso (Facmat), Manoel Gomes, que vê na expansão da oferta de crédito e na falta de um controle financeiro do consumidor as principais causas da inadimplência.
Por outro lado, ele constata preocupação dos consumidores inadimplentes em quitar suas dívidas. Este ano, em relação ao período de janeiro a setembro de 2008, as exclusões caíram cerca de 30%.
“Na verdade, o empresário está usando o sistema para buscar seu capital de giro, fazendo com que o devedor busque saldar a sua pendência. As lojas estão abertas às negociações, o que tem facilitado bastante para o consumidor”.
O alto valor do endividamento este ano reflete, além da falta de planejamento, a crise econômica financeira, que gerou perda de liquidez no mercado e desemprego em alguns setores.
“Mas constatamos uma recuperação da economia. Os consumidores estão procurando se reabilitar a novas compras”, lembra Gomes.
Segundo ele, a falta de um planejamento leva ao consumismo desenfreado, provocando o desequilíbrio orçamentário. “Tem de haver, por parte do consumidor, uma busca de equilíbrio para o seu orçamento. Não se pode atirar às compras sem um bom planejamento”, recomenda.
“A mídia mostra que todos os dias surgem novos produtos prometendo maravilhas às pessoas que os adquirirem e muitas dessas têm comprado sem o devido planejamento de seus gastos”, diz o economista Fernando Lima.
“Por incrível que pareça, ainda existe muita gente que vive sem fazer o orçamento mensal da sua casa, mesmo trabalhando em empresas que falam constantemente sobre a importância de definir metas de gastos com base no orçamento, para que o resultado financeiro seja sempre positivo”, diz.
A funcionária pública Rosa Maria Amaral, 48, diz que exagerou nas compras do último final de ano, o que acabou comprometendo boa parte de seu salário com o crediário. “Realmente não fiz um planejamento adequado dos gastos, por isso comecei o ano com a corda no pescoço e ainda estou com dívidas até agora” conta.
Segundo o economista Fernando Lima, o orçamento mensal hoje é uma necessidade. “Temos uma realidade que mostra que está muito difícil ganhar dinheiro, ao mesmo tempo que é muito fácil e rápido gastar o que se ganha. Por isso a população não pode entrar na onda do consumismo sem planejamento”.
Diário de Cuiabá