Por mais que tenha havido nas últimas décadas uma grande evolução intelectual da sociedade mundial e especialmente a brasileira que possibilitou a figura da mulher receber uma correção de conceito e de conserto de uma injustiça social causada pelo machismo e sua pseudo-superioridade, alguns aspectos do pensamento neandertal ainda estão presentes em nosso dia-a-dia como por exemplo os garotos que mal saíram da frauda e acham que só vão ser homem de verdade se mostrarem aos amigos que são capazes de beberem até cair. Esta realidade é constatada na 42º Exposul. Mesmo com os esforços do Procon e do próprio Sindicato Rural em fiscalizar as relações de consumo muitos menores de idade, cerca de 12 por dia, têm sido atendidos pelos corpo de médicos e enfermeiros de plantão na festa com quadros de excesso de bebida alcoólica no organismo. A expli – cação dada pelos vendedores é simples: não vendemos para m e n o r e s , m a s os maiores vêm compram e repassam para a molecada. E isto pode sim ser bem verdade. A cultura machista passa por uma pressão psicológica em cima de um garoto de 15 anos que vai junto a seus amigos e é quase que obrigado por todos eles a beber até cair, ou então pode voluntariamente ser excluído da simpatia do grupo. O mesmo acontece com a perda da virgindade, quando um garoto se vê na obrigação de ‘fazer sexo’ pelo fato de todos os amigos já terem feito e isto já lhe causar um tremendo constrangimento diário. É óbvio que estas formações ideológicas deturpadas tem na sua raiz uma cultura já ultrapassada machistas e nada têm a ver com um desvio do caráter deste indivíduo, até porque verdadeiramente nesta fase da vida a maioria ainda nem terminou de formar seu caráter totalmente. O que ocorre é uma rendição do próprio ser muitas vezes em relação a sua própria vontade para satisfazer a cobrança alheia que vem não só de amigos como também de parentes e até personagens midiáticos que ele acompanha na TV. Não é incomum ver garotos com cigarro na mão e quando põe na boca nem tragam, só sugam e soltam fumaça sem nenhum prazer aparente, assim como outros que bebem cerveja como um neném que toma remédio, aparentemente loucos para trocar por uma lata de refrigerante. Mas a necessidade de parecer homem fala mais alto e isto inclui até mesmo no imaginário feminino desta faixa etária. Garotas de 15 anos são sim mais propensas, em sua grande maioria, a admirarem, mesmo que inconscientemente, os meninos que se prestam a atos inexplicáveis como fumar compulsivamente e beber sem controle. Estas moças, obviamente, também são outras vitimas dos resquícios ideológicos de uma sociedade ultrapassada. Que fique claro aqui que não se está condenando o fato de beber ou de fumar, mas sim a forma e o porquê ele é feito. O ser humano atinge sua maioridade aos 18 anos, mas isto não lhe dá uma credencial de ser uma pessoa sem raciocínio antes disso. E mais do que isto, as duas práticas são comprovadamente maléficas a saúde, ou seja, o cidadão que a faz tem que estar consciente de que o prazer que estas coisas lhe dão podem encurtar suas vidas. Mas até que ponto uma imposição cultural tem o direito de por o indivíduo desta maneira contra a parede? U m a c o i s a ainda não ocorre no Brasil: o país evolui a passos largos na economia e estamos no calcanhar dos maiores do mundo, mas nossa cultura social é tão ridícula e preconceituosa quanto dos locais onde habitam ainda as tribos mais antiquadas existentes até hoje. A mulher que passa na rua de short curto merece levar uma cantada porque está provocando, na visão do brasileiro. Uma moça que rapidamente consegue, por sua competência, ascender carreira em uma empresa entra na acusação da fofoca alheia de estar tendo relações sexuais com os diretores daquela agremiação. Enfim, a constatação é que os jovens brasileiros têm muito o que aprender, mas a pergunta é: com quem?