A fala do candidato a presidência pelo PRTB, Levy Fidelix, no último debate frente a frente com Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB), Luciana Genro (PSOL) e Cia Ltda, pela TV Record, mostrou claramente que ele faz parte de uma ala da sociedade que cultua valores nos quais não cabe a ideia de uma família ser formada por dois homens e duas mulheres. Como moramos em um país teoricamente democrático, devemos olhar com naturalidade alguém que tenha esta visão. Mas Fidelix se excedeu na ideologia e especificamente na frase ‘vamos enfrentá-los’ teve a atitude que não cabe a um homem que postula o mais alto cargo eletivo da nação. Antes de qualquer situação inerente a discussão entorno do homossexualismo, há uma situação mais importante que qualquer outra que é o respeito e o resguardo pela integridade física das pessoas. Fidelix inflamou delinquentes rebeldes que nas redes sociais postam mensagens de ódio absolutos a homossexuais e não é difícil que ocorra, após a fala do candidato, mortes geradas por diversas discussões que se formaram após o episódio não só na internet, mas nas próprias ruas. Já chegamos no tempo onde as coisas podem ser resolvidas na conversa e, se não, temos a opção do apelo jurídico. Posicionamento diferente não deve ser motivo para nenhum enfrentamento, pelo menos do tipo que Fidelix propôs. Para a ira de Fidelix e de muitos outros que pensam como ele, é organizado pela comunidade LGBT um beijaço, iniciando por Porto Alegre, e passando por várias capitais com vários homens beijando homens e mulheres beijando mulheres. Esta atitude, no entanto, acaba por ter o mesmo resultado perigoso do que o posicionamento do candidato. ‘Manifestação’ parecida realizaram duas meninas em meio a um show gospel, apresentado pelo pastor e deputado federal Marco Feliciano, quando elas tiraram suas roupas e se beijaram. Gays e lésbicas em nada vão contribuir para o aumento do respeito da ala agressiva da sociedade para com eles agindo desta maneira, aliás, pelo contrário, desta maneira incitam ainda mais esta inútil rivalidade e mostram que a ignorância não está só de um lado. No debate, Levy disse: “Aparelho excretor não reproduz (…) Como é que pode um pai de família, um avô ficar aqui escorado porque tem medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. Vamos acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo padre, o papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano, um pedófilo. Está certo! Nós tratamos a vida toda com a religiosidade para que nossos filhos possam encontrar realmente um bom caminho familiar”. A primeira frase do candidato, apesar de grosseira, é real, mas no restante ele se perde em uma subjetividade que claramente não representa qualquer valor cristão, como ele se amparou no final. Ao dizer que tem vergonha na cara, ‘por isto instrui bem seus filhos e netos’, ele deixa no ar a mensagem de que pais e avôs de homossexuais não têm, quando na verdade uma coisa não tem nada a ver com a outra. Há muitas teorias sobre um indivíduo se tornar homossexual que permeiam por vários setores da ciência e de várias outras fontes de pensamento, mas certamente nada tem a ver com a capacidade do pai e mãe em amar e dar educação aos seus filhos. Vários desdobramentos ocorreram e alguns extremamente midiáticos, para não dizer ridículos. Impedir Fidelix de ser candidato por meio de uma ação pareceu ser preciosismo da OAB. Seria até cabível uma manifestação judicial de alguma parte que se sentisse ofendida contra a fala do homem público, até porque há meios para isto, mas nada teria que ver com a liberdade que o envolvido tem em ser candidato, ou então seria um retrocesso ridículo da nossa sociedade. Tudo o que vier a mais de uma representação judicial contra a pessoa de Fidelix é tão absurdo quanto sua fala. É sabido que os gays e lésbicas convivem com uma guerra diária, desde suas infâncias, para serem respeitados como qualquer outra pessoa, mas há de se ter cuidado com a maneira que se busca este direito, até para que não se perca a razão e o próprio respeito contra si mesmo. Quanto a entidades, elas têm de serem cuidadosas com a maneira que se posicionam. Até porque de politicagem já estão todos, gays ou héteros, saturados.