Microcefalia: a doença que passou a assombrar as grávidas no Brasil

O nascimento de 739 bebês com um perímetro cerebral menor do que o normal até a última sexta-feira acendeu um alerta vermelho na saúde pública brasileira. A relação com o contágio das mães pelo zika vírus, transmitido pelo mesmo vetor da dengue, coloca em foco a dificuldade do país em combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Microcefalia é uma má formação congênita em que o cérebro do feto não se desenvolve de maneira adequada. O bebê, quando nasce, apresenta um perímetro cefálico menor do que os 33 centímetros considerados normais.
O número de casos suspeitos de microcefalia neste ano é mais de 400% maior do que o registrado no ano passado, quando 147 bebês nasceram com o problema – em 2013, foram 167 casos. Até o momento, o aumento anormal foi registrado em 160 municípios de oito Estados do Nordeste e em Goiás, com um óbito possivelmente relacionado. A maior parte dos casos (487) se concentra em Pernambuco. “Uma vez que a causa da microcefalia ainda não é conhecida, as mulheres que planejam engravidar neste momento devem conversar com sua família e a equipe de saúde sobre a conveniência de engravidar neste momento ou não”, chegou a afirmar o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Claudio Maierovitch, no portal do órgão, em orientação às mulheres do Nordeste.
O pediatra infectologista Marco Aurélio Safadi, professor da Santa Casa de São Paulo e secretário do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda com a orientação de Maierovitch. “Não tem vacina, tratamento e intervenção que possa alterar essa consequência. É o momento de se evitar a gravidez, especialmente nessas áreas mais afetadas.”
Surto no Brasil
O vírus zika é semelhante filogeneticamente aos da dengue e da febre amarela. Ele foi descoberto pela primeira vez na floresta de Zika, em Uganda, em 1947, em macacos usados como sentinelas da febre amarela (animais usados para que se monitore o aparecimento de uma doença). A doença caracterizada por uma inflamação aguda do sistema nervoso. Isso seria um indicativo de que o zika tem uma atração pelo sistema nervoso.
No Brasil até o mês passado 84.931 casos de zika por algum dos sistemas de vigilância do país – esses dados, entretanto, não são finais e podem estar bastante subestimados, já que a doença não era de notificação compulsória.
Em Pernambuco, onde estão concentrados os maiores casos de microcefalia, só há registros de dois casos de zika neste relatório. Segundo o mesmo relatório do ministério, o Estado notificou 80.338 casos suspeitos de dengue do início de 2015 a 19 de outubro.