Com dívidas cada vez maiores, o produtor do Centro-Oeste passa a ser considerado personagem principal de um possível subprime agrícola e se preparam para enfrentar judicialmente fabricantes de máquinas agrícolas.
Os agricultores da região, que já estão com parte da safra comprometida e uma dívida de investimento renegociada há três anos, podem ficar sem crédito mesmo com a linha especial de refinanciamento no valor de R$ 500 milhões criada essa semana pelo governo, direcionada à região.Os bancos podem se recusar a oferecer a linha devido ao alto risco da operação.
"É provável que as instituições financeiras não venham a operacionalizar tal linha de crédito, visto que terão de arcar com esse risco", avaliou Rosemeire dos Santos, assessora técnica da Confederação Nacional de Agricultura. (CNA).
Os efeitos mais drásticos da inadimplência entre os agricultores da região já estão sendo observados, como mandados de busca e apreensão de máquinas e equipamentos nas fazendas. Em razão disso, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) pretende entrar com um pedido de liminar amanhã para suspender as apreensões do maquinário. Os advogados da entidade estudam de que forma poderão acionar judicialmente as empresas de máquinas envolvidas.
Para Rui Prado, presidente da Famato, o valor disponibilizado pelo governo federal para a região ajuda, mas não resolve o problema de falta de liquidez. Ele ressalta ainda que o refinanciamento não contempla as demais linhas como o Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), custeio de produção e FAT-Giro Rural que estão vencidas e a vencer.
"Temos máquinas compradas há quatro safras por R$ 500 mil e que hoje a dívida delas alcança R$ 800 mil enquanto seu valor de mercado é de R$ 300 mil", exemplifica Prado.
Na semana passada, durante uma coletiva, Martin Richenhagen, presidente e CEO da AGCO, comentou a situação dos produtores do Centro-Oeste. Segundo ele, o problema de crédito criado internamente na região, e que resultou na prorrogação da dívida por três vezes, criou instabilidade e falta de liquidez. "Alguns já estão acostumados a não pagar suas dívidas", disse.
A nova linha de crédito vai permitir que os produtores paguem em até três anos, a parcela de 2008 de suas dívidas. Essas parcelas estão estimadas, segundo o Ministério da Fazenda, em R$ 4,1 bilhões, e são passíveis de renegociação.
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