SÃO PAULO (Reuters) – O candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, rechaçou mais uma vez a cobrança de que deve ter uma atitude de confronto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral, mas não poupou a adversária Dilma Rousseff (PT).
Sem citar a candidata, disse que não se pode governar "na garupa" de Lula.
"O Lula não é candidato a presidente. O Lula a partir de 1o de janeiro não vai ser mais presidente da República", disse Serra em entrevista ao Jornal Nacional da Rede Globo nesta quarta-feira.
Serra foi o terceiro candidato a presidente a ser entrevistado na bancada do JN, após Dilma e Marina Silva (PV).
"Quem estiver lá vai ter que conduzir o Brasil. Não há presidente que possa governar na garupa ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros", completou.
Serra negou que sua postura em relação a Lula se deva à alta popularidade do presidente, de mais de 70 por cento.
"O governo Lula fez coisas positivas, outras coisas deixou de fazer. A discussão não é o Lula, é o que vem pela frente", declarou na entrevista.
O tucano também repeliu a comparação entre o governo atual e o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em que foi ministro, uma das propostas centrais da campanha petista.
"Não estamos fazendo uma disputa sobre o passado", afirmou Serra, para quem os dois governos tiveram circunstâncias diferentes. Ele não deixou de elogiar o plano real da gestão FHC, que, segundo o tucano, Lula "recolheu".
Serra foi questionado sobre o apoio à sua candidatura do presidente do PTB, Roberto Jefferson, pivô do mensalão que envolveu parlamentares do PT e deputado cassado pela denúncia.
"Ele não é candidato, conhece meu programa de governo, meu estilo de governar. O PTB está conosco. Eu não tenho compromisso com erro, aliás nunca tive, tem coisa errada as pessoas pagam", disse Serra.
Enquanto Jefferson está com Serra, o PTB, partido da base do governo Lula, apoia formalmente a candidata Dilma.
Serra ainda saiu em defesa de seu vice, deputado Indio da Costa (DEM-RJ). Anunciado quase 20 dias após a convenção do PSDB, Indio saiu atirando verbalmente contra a candidata petista.
Serra disse que esta questão estava orientada numa direção e que "por questões políticas" foi alterada. "Tenho boa saúde, ninguém está sendo vice comigo achando que eu não vou concorrer ao mandato."
BC E CÂMBIO
Na sequência, Serra concedeu entrevista ao Jornal das Dez, da Globonews, quando reafirmou suas ideias para a economia. Disse que o Banco Central manterá a autonomia atual e que vai montar uma equipe integrada entre o BC e os ministérios da Fazenda e do Planejamento, para que apliquem as mesmas diretrizes.
Reiterou que o nível atual do câmbio está desfavorecendo "dramaticamente" muitos setores exportadores e defendeu o tripé formado pelo câmbio flutuante, pela responsabilidade fiscal e por metas de inflação. "Tem que ser mantido", afirmou.
Quanto aos royalties do petróleo da camada pré-sal, em discussão no Congresso Nacional, disse que devem beneficiar todo o país, com carga maior nos Estados produtores, como Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Em relação à baixa arrecadação de recursos para sua eleição –a terceira depois de Dilma e Marina–, o tucano afirmou que sua campanha não se faz com muito dinheiro.
"Não é uma coisa que angustia, eleição não depende de campanha milionária."
Fonte:Ag Reuters (Carla Munari)