Salário mínimo perde poder de compra pela primeira vez desde a implantação do Plano Real

Levantamento divulgado hoje (09) pelo jornal O Globo mostra que o presidente Jair Bolsonaro (PL) será o primeiro desde a implementação do Plano Real (1994) a terminar o governo deixando o salário mínimo com um poder de compra menor que o que tinha no início da gestão. A perda projetada é de 1,7%, mas poderá ser ainda maior com o avanço da inflação.
Os cálculos foram feitos pela Tullet Prebon Brasil com base nos números registrados até aqui e também no previsto pelo mercado no Boletim Focus, do Banco Central, usado como base das projeções da corretora. Há 16 semanas, as previsões vêm sendo revisadas para cima.
Desde o Plano Real, todos os presidentes, seja no primeiro ou segundo mandato, conseguiram reajustar o salário superando a inflação. Nenhum dos governantes, neste período, entregou um mínimo que tivesse perdido o poder de compra.
A perda percentual significa uma queda no piso salarial de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 a dezembro de 2022. De acordo com o relatório da corretora, a perda inédita está relacionada ao ajuste fiscal que mostra o impacto de reajustes no piso em uma gama de outras despesas da União, como benefícios sociais e gastos com Previdência.
Mas há, principalmente, uma relação também direta com a aceleração da inflação. A avaliação é de que a reposição da inflação passada que o governo Bolsonaro vem promovendo não garante a preservação total do poder de compra do salário mínimo diante do aumento dos preços cada vez maior de um ano para o outro.
ENTRE OS PIORES
Desde que assumiu, Bolsonaro vem seguindo à risca o abandono da política de valorização real do piso salarial, criada nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT). Há três anos, não há reajuste do piso acima da inflação como prevalecia a regra de correção, que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.
De 2019 para cá, o governo apenas reajusta a perda resultante da inflação anual acumulada, que é obrigatória por norma constitucional.
O valor do mínimo, sem qualquer ganho real de poder de compra, já havia rendido ao Brasil, no começo deste ano, o posto de segundo país com o menor salário mínimo. A perda foi constatada pelo estudo da plataforma CupomValido, que levou em comparação os 35 países membros da OCDE. México oferece o pior piso, seguido pelo Brasil.
Antes de Bolsonaro, no governo de Michel Temer (MDB) o aumento real acumulado do mínimo foi de 0,79% ante o 0% com o atual presidente.
Mas a reposição já chegou a ser de 59,21% durante os governos petistas, de abril de 2003 a janeiro de 2016. No período, Lula se tornou o presidente que maior aumento real concedeu ao salário mínimo desde a sua criação, em 1º de maio de 1940.
Da Redação (com RBA)