Inoperância da Vivo se torna caso de vida ou morte em Rondonópolis

A dificuldade de se executar uma simples ligação telefônica via celular, que pode significar apenas um transtorno para jovens adolescentes se paquerando pelo telefone, na verdade pode resultar em vidas perdidas em setores profissionais que têm no contato móvel uma ferramenta de trabalho. Em Rondonópolis, desde a semana passada, especialmente a operadora Vivo, maior detentora de assinaturas na cidade, com mais de 150 mil clientes, não oferece cobertura suficiente ao usuário para que seja possível sequer uma ligação, ou quando raramente se completa, é praticamente impossível estabelecer uma conversa direta e sem interrupções de mais de um minuto. Tal realidade tem prejudicado consideravelmente o setor da saúde.
A preocupação sobre a possibilidade de esta inoperância acabar ceifando vidas indiretamente é do coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – Samu local, Israel Paniago, que testemunhou o fato de que muita gente está ligando na Central de Regulação, onde são recebidas as chamadas de socorro, para reclamar que o 192 não está funcionando, quando na verdade o problema é o seu próprio celular. “Tem muita gente achando que o problema está em nossa linha e não é. Quem é cliente da Vivo sabe que aparece no visor a torre, você tenta realizar a ligação e não consegue por algum bloqueio que não sei explicar, de repente superlotação da cobertura, ou algo do tipo”, relatou.
O coordenador analisou tecnicamente que a falta do recurso telefônico móvel para que a pessoa chame o Samu pode sim representar a morte de alguém. “Tanto no caso de um acidente grave, ou mesmo problemas cardíacos, ou um próprio AVC (Acidente Vascular Cerebral) é fundamental que o socorro chegue o mais rápido possível e principalmente que a equipe já chegue com informações suficientes para promover o atendimento mais adequado para aquele caso.”, explica.
Israel sustenta que as informações prévias, antes mesmo da ambulância chegar, é fundamental para o preparo do atendimento. “É imprescindível que a pessoa que ligou esteja próxima a aquele que aguarda o socorro, até porque o médico regulador já vai identificando por meio de perguntas qual é o quadro daquela pessoa e já repassa para a equipe que neste momento está a caminho. Mas quando se tem que procurar um telefone fixo para chamar o socorro, este recurso fica prejudicado, somado obviamente a perda de tempo até conseguir o contato”analisou.
Um dos exemplos deste tipo de situação citada por Israel ocorreu com o publicitário Élio Martins, o Ema, que relatou um caso de uma mulher que teve um começo de infarto nos últimos dias e por pouco não teve o seu quadro agravado porque todos que tentavam chamar o Samu não conseguiam. “Todo mundo tentava, mas não conseguia ligar. A solução que acharam foi ir até um telefone fixo para ligar nos bombeiros e solicitar socorro. Acabou que terminou tudo bem, mas realmente pode ser fatal”, concordou Ema.
O publicitário se mostrou revoltado ao dizer que a Vivo simplesmente não se manifesta sobre o assunto e nenhum representante da classe política abraça a causa como deveria. “É uma vergonha. Os diretores da Vivo não se pronunciam sobre o assunto, nenhuma nota de explicação é divulgada e todo mundo fica sem saber o que fazer. Eu acho que o prefeito Percival Muniz, como a maior autoridade administrativa da cidade, poderia encampar esta luta e certamente teria muitos apoiadores para achar uma solução para isto, porque não é possível compactuar com um serviço deste nível dentro de uma cidade com a importância da nossa”, desabafou.
A exemplo do que disse Ema, a reportagem do Folha Regional tentou entrar em contato com a direção da Vivo em Mato Grosso e recebeu a informação da central em Cuiabá que o único autorizado a falar pela empresa no estado é o diretor regional Emerson Carvalho. Este, no entanto, estava em viagem a Brasília durante a última semana e não seria possível um contato. Somente quando retornasse, depois do feriado de 7 de setembro,Carvalho responderia os questionamentos. O Regional ainda entrou buscou, via email, com uma outra representante responsável por explicar questões relacionadas a cobertura, uma explicação sobre os problemas, mas até o fechamento da matéria não havia retornado nada em nome da empresa.
Comércio também reforça revolta
Maurício Pulgas, diretor executivo de serviços e produtos da Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL de Rondonópolis citou também em contato com a reportagem que não é possível precisar em números o tamanho do prejuízo causado no comércio e nos negócios de uma maneira geral, feitos na cidade, pela dificuldade de acessar os serviços da operadora que praticamente monopoliza os serviços telefônicos.
“Qualquer operadora que atua como provedora da informação e assume o papel de ser responsável por interligar as pessoas deve cumprir suas obrigações, ou seja, oferecer um bom serviço. O contratante faz o seu planejamento pessoal e profissional contanto com a possibilidade de entrar em contato com outras pessoas pelo telefônico. Óbvio que isto não é restrito apenas a uma operadora. Mas vejo uma dificuldade imensa ao comércio por esta razão”, testificou Maurício Pulgas.
Da redação – Hevandro Soares