A eutanásia em cachorros pode deixar de ser o principal instrumento de controle da leishmaniose, pelo menos em Rondonópolis. A cidade foi escolhida pelo Ministério da Saúde como uma das únicas no Brasil a receber investimentos em pesquisas no uso de coleiras repelentes do vetor da doença, o mosquito palha. Em reunião na manhã desta quarta-feira (9), na Secretaria de Saúde, o membro da coordenação nacional contra leishmaniose do Governo Federal, Lucas Donato, e o pesquisador de saúde pública da FioCruz, que desenvolve o projeto, Fabiano Borges Figueiredo, se reuniram para traçar o planejamento para o município, junto ao corpo técnico local que lida com a prevenção e os casos da zoonose. Ficou acertado que cerca de 1.500 cachorros devem ser ‘encoleirados’ nos próximos três meses.
Edgar Prates, coordenador do Centro de Controle de Zoonoses – CCZ de Rondonópolis, explicou que serão escolhidas duas áreas, entre as que têm maior índice de incidência de casos de leishmaniose no município, e será feita a distribuição do material, com devido registro do dono do animal. “A intenção é notar a eficácia da coleira, comparando com a matilha que não tiver sendo alvo da pesquisa”. Fabiano Borges, da FioCruz, frisou que os resultados podem ser variáveis. “O ambiente, o clima, tudo influencia no vetor. Vamos ter aqui situações peculiares que vão aumentar ou diminuir o controle. Para o Município é importante o projeto pelo conhecimento alternativo e para o Ministério da Saúde é fundamental porque só assim vamos mapear o Brasil todo com as mais diferentes características dos casos”, falou.
Do Ministério da Saúde, Lucas Donato explicou que Rondonópolis é um dos 14 municípios brasileiros a implantar o controle pelas coleiras. “Em 2012 elencamos oito municípios para uma pesquisa inicial. Agora estamos expandindo para mais seis. Em contato com representantes do Governo de Mato Grosso, foi nos passado que o único município que teria condições em estrutura e profissionais para desenvolver o estudo com as coleiras era Rondonópolis. Com certeza, após isto teremos uma porta aberta com a cidade para desenvolvermos aqui novos projetos e mudar esta rejeição que os cidadãos daqui podem ter em relação aos trabalhadores e o próprio CCZ”, vislumbrou Donato.
A execução total do projeto será pelo período de 18 meses. As coleiras e novas amostras de sangue serão retiradas do mesmo animal a cada semestre. O Município vai disponibilizar até oito profissionais para atuarem na implantação e acompanhamento dos 1.500 animais. O coordenador do CCZ salientou que é importante que os proprietários de cachorros que por uma eventualidade não receberem a coleira, mesmo estando nas duas áreas que serão escolhidas, não se sintam desprivilegiados. “Após um período e obtendo bons resultados, aumentaremos o número de cachorros com a coleira. Já há inclusive uma sinalização do Ministério para isso”, lembrou Prates.
Nesta quinta-feira (10), a equipe técnica que atuará na rua, visitando as residências, participará de uma palestra com o representante do Ministério da Saúde e o pesquisador da FioCruz para que esclareçam todas as dúvidas sobre a pesquisa. Rondonópolis registrou nos últimos sete anos 16 óbitos de seres humanos motivados pela leishmaniose.