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sexta-feira, novembro 22, 2024

Refinaria privatizada vende o combustível mais caro do país

As consequências da venda da antiga Refinaria Landulfo Alves (Rlam), privatizada pela metade do preço para o grupo Mubadala Capital, fundos dos Emirados Árabes Unidos, que mudou o nome para Refinaria Mataripe, que é operada pela Acelen, já começaram a penalizar severamente a população baiana que sofre com os maiores preços dos combustíveis no país. A CUT e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) vêm alertando para os impactos negativos da privatização desde 2019.

Com os reajustes praticados pela Mataripe, o gás de cozinha chega a ser vendido a R$ 140 em algumas cidades, o litro da gasolina passa de R$ 8,00, em média, e o óleo diesel, como nunca se viu antes, também está próximo desse valor. Em um dos postos, a gasolina comum sai a R$ 7,94 e o diesel a R$ 7,76 (veja na imagem), diz Radiovaldo Costa, diretor de Comunicação do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA). Segundo ele, há lugares em que o diesel é mais caro que a gasolina.

Com os reajustes praticados pela Mataripe, o gás de cozinha chega a ser vendido a R$ 140 em algumas cidades, o litro da gasolina passa de R$ 8,00, em média, e o óleo diesel, como nunca se viu antes, também está próximo desse valor. Em um dos postos, a gasolina comum sai a R$ 7,94 e o diesel a R$ 7,76, diz Radiovaldo Costa, diretor de Comunicação do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA). Segundo ele, há lugares em que o diesel é mais caro que a gasolina.

Os aumentos praticados pela privatizada são maiores do que os já abusivos reajustes praticados pela Petrobras, autorizados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que manteve a Política de Paridade de Importação (PPI), implantada pelo ilegítimo Michel Temer (MDB), em 2017.

Pelo PPI, os preços são reajustados de acordo com a cotação do dólar e do barril internacional de petróleo. Se lá fora há um aumento do barril, mesmo o Brasil sendo autossuficiente na produção, o preço de lá é cobrado aqui. Se a variação cambial eleva o preço do dólar, idem.

E na Mataripe são maiores ainda, justamente porque a refinaria foi privatizada e, pelo livre mercado, cobra o preço que que considera “cobrir” seus custos. Quem paga a conta é o povo baiano.

Uma comparação feita pelo Dieese mostrou a disparidade entre os reajustes praticados este ano pela Mataripe e pela Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, a mais próxima da Bahia. Enquanto o reajuste do diesel na Rnest, da Petrobras, foi de 45%, na Mataripe foi de de 58%. A Petrobras aumentou o gás de cozinha (GLP) em 10%; a Mataripe aumentou em 17%. Já a gasolina aumentou 37% na refinaria da Petrobras, enquanto que na Mataripe o reajuste foi de 48%.

BAHIA

Há uma reação em cadeia quando os preços dos combustíveis sobem. Aumenta a inflação, ou seja, todos os outros preços de produtos, em especial os essenciais, como alimentos, também sobem. Na Bahia, o impacto  é mais acentuado.

“Preços subiram muito acima da inflação. E muito por causa dos transportes que dependem do diesel para funcionar. Se aumenta, o custo é repassado e quem paga somos nós”, diz Costa. Ele ainda cita empresas cuja produção depende de maquinário a diesel, que também estão sofrendo impactos.

A economista e supervisora técnica do Dieese, Ana Georgina Dias, reforça que não é somente no tanque de combustível que o impacto é sentido. “Isso não pode ser analisado somente por quem depende de carro e moto, inclusive para trabalhar. É um impacto gigantesco em toda a sociedade, e quanto maior o reajuste, maior o preço, mais o trabalhador vai perder seu poder de compra, porque tudo fica mais caro. Afeta a sociedade modo geral, sobretudo para os trabalhadores e em especial para os que não têm ocupação ou que têm menor renda”, ela diz.

E a situação da Bahia está se tornando dramática, prossegue a economista. “As pessoas cada vez mais estão tentando fazer mágica com o orçamento, tira daqui para cobrir ali e estamos falando de coisas que não dá para substituir como transporte, alimentação e energia elétrica”.

TRANSPORTE PÚBLICO

Para o estudante de jornalismo da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) Felipe Moraes, a realidade que os baianos vivem é de retrocesso. Mesmo com bolsa, ele gastava, antes da pandemia, cerca de R$ 130,00 com transporte. Hoje, desembolsa cerca de R$ 210,00, quase o dobro e com expectativa de aumentar ainda mais.

Ele conta que há um mês, portanto antes último aumento do diesel, na última terça-feira (10), houve um reajuste no transporte público de Porto Seguro, onde mora e estuda. A passagem foi de R$ 3,80 para R$ 4,50 e, agora, pode subir ainda mais.

“A empresa diz que o aumento foi só pra se manter e sair do vermelho mesmo. Nem sequer se comprometeram a dar manutenção nos ônibus que vêm de outras cidades, como Curitiba, Rio de Janeiro. São sucatas que a Viação Porto Seguro compra e que vivem quebrando”. O estudante, que divide apartamento com um colega, também sente no dia a dia o peso da inflação. “O litro do óleo está R$ 12 reais”, ele diz para ilustrar que orçamento doméstico está cada vez mais apertado.

GASOLINA E GÁS

Atualmente o barril de Petróleo mercado externo oscila entre US$ 100 e US$ 106. A Mataripe não produz, não extrai, apenas compra, refina e revende os derivados. “Eles compram do mercado internacional e também compram da Petrobras, mas também com o preço internacional”, explica Costa. Portanto, a empresa não tem margem para conter os preços. Se o dólar dispara ou o barril do petróleo sobe, automaticamente empurra todo os seus preços.

O dirigente ressalta que a Petrobras produz o petróleo ao preço de 15 dólares, “mas vende a 106, o que gera um lucro violento”. “Não tem sentido a empresa ter em três meses um lucro de R$ 44 bi. Eles gastam 15 [dólares] e vendem a 106. É um lucro de 90%”, diz Costa. Esses números fazem parte, inclusive, de um estudo feito pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) que mostra que o preço da gasolina poderia ser R$ 3,70 na bombas, ou seja, para o consumidor.

As pessoas não conseguem mais comprar o gás de cozinha, que chega até R$ 140 – mais de 10% do salário mínimo em algumas regiões. Muita gente usa lenha e carvão, como há 70 anos.  E quem compra o botijão de gás, tem que rebolar no orçamento, deixando de lado a compra de outros produtos essenciais como alimentos, roupas e até remédios.

Cresceu ainda, segundo informações obtidas pelo Sindipetro Bahia, a venda de fogareiros, um artefato comumente usado nos anos 1950 que usa lenha e carvão para produzir fogo.

Outra consequência é que aumentou o número a quantidade de pessoas que não usam mais o carro e a moto para trabalhar.

“Eles perceberam que não dá para bancar o combustível. A conta não fecha eles acabam tendo que pagar para trabalhar. Além de impactar em toda a economia ainda acaba gerando desemprego” diz o dirigente.

 

(RBA)

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