POLÍTICA

Quase 60% dos senadores respondem a acusações criminais. Para senadoras, índice fica abaixo de 40%

Corrupção é também uma questão de gênero? Difícil responder à pergunta de modo definitivo, mas alguns números sugerem, sim, que os homens estão mais sujeitos a envolvimento com práticas delituosas. Levantamento do Congresso em Foco mostra que 39 dos 68 senadores (57,4%) respondem a acusações criminais. Entre as 13 senadoras, 5 estão sob investigação (38,5%). Delas, apenas Gleisi Hoffmann (PT-PR) é ré, ou seja, alvo de ação penal, processo que pode resultar em condenação. Já na bancada masculina, são oito réus.
Na Câmara a diferença também existe, ainda que menor. Das 53 deputadas, 16 têm pendências judiciais (30,2% delas). Entre os 460 homens, esse percentual sobe para 35,2% – 162 deles têm contas a acertar com a Justiça. Só duas deputadas fazem companhia aos mais de 40 deputados que respondem a ações penais.
A bancada feminina em todo o Congresso responde a 6% de todos os inquéritos e processos a que respondem os integrantes da Câmara e do Senado, embora ocupe aproximadamente 11% das cadeiras das duas Casas. Das 449 investigações de parlamentares, 423 recaem sobre deputados e senadores. Elas acumulam 26 inquéritos e ações penais.
Acima dessas estatísticas, há outra – esta, sim, irrefutável – que envergonha o país. O Brasil é apenas o 152º colocado, em um ranking de 190 países, entre as nações com menor representação feminina na Câmara, de acordo com estudo da Inter-Parliamentary Union (IPU), organização com sede na Suíça. No Brasil elas ocupam menos de 11% da chamada câmara baixa enquanto a média mundial é de aproximadamente 24%. É o último colocado na América do Sul e fica atrás de países do Oriente Médio conhecidos por negar direitos básicos às mulheres.
Corrupção e políticos antigos
Para a cientista política e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Mara Telles, o menor número de investigadas não está necessariamente ligado à questão de gênero, mas pode ter explicação no tempo em que a parlamentar ingressa na vida pública.
“Na Câmara dos Deputados não há diferença muito significativa para falar que a questão de gênero é uma coisa definidora no número de processadas. Acho que podemos olhar para o Senado. A minha hipótese é que talvez as mulheres tenham entrado mais tardiamente na vida política, e nesse sentido, elas têm menor probabilidade de se envolver em esquema antigos de corrupção ou de processos que já haviam sido produzidos por políticos com carreira anterior”, diz a professora.
Mara Telles explica que apenas nos últimos anos as mulheres têm conseguido entrar na vida política e partidária e que, provavelmente, já encontram um esquema conduzido anteriormente, pelo menos no Senado. “Não existe uma associação entre corrupção e gênero, e sim uma associação entre corrupção e políticos mais antigos. A gente não pode falar que mulher tende menos a ser corrupta. Acho complicado. Acho que ela tem menor experiência política, e quando dá um salto para a vida partidária, ela já teve de dar outros vários saltos. Talvez ela se sinta mais constrangida a participar de esquemas de poder, qualquer que seja, e também tem menos oportunidades de praticar atos ilícitos”, explica.

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