Todos os anos, no tempo da Quaresma, fazemos o caminho para a Páscoa da Ressurreição, motivados pela reflexão Cristã e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo.
Como o povo de Israel, que andou 40 anos no deserto, rumo à Terra prometida (Terra de Canaã) e como Jesus que passou 40 dias de retiro preparando a entrega total de sua vida ao mundo, assim os cristãos hoje, acompanham os passos do nosso Divino salvador, preparando dignamente para a santa Páscoa.
A Espiritualidade Quaresmal é caracterizada, primeiramente, pela escuta da palavra de Deus. A Palavra de Deus é luz que ilumina nossos passos, chama à conversão, interpela nossas consciências adormecidas, e reanima nossa confiança na misericórdia e bondade de Deus. Ouçamos a voz do nosso Deus neste tempo quaresmal.
“Embora a conversão quaresmal seja um movimento inicialmente pessoal e interior, ela não pode ser apenas uma atitude individualista, uma vez que a vontade de Deus, desde a criação, se manifesta como projeto de vida a um povo eleito, nutrido, formado e enviado pelo próprio Deus.
Na nova aliança, este podo somos nós, a Igreja, chamada a ser sacramento de salvação integral para o mundo (Cf. Lumem Gentium n. 48). Nossa conversão quaresmal deve desenvolver-se como realização da vontade de Deus de modo pessoal, comunitário-eclesial e, também, social” (Texto base da CF 2023, pg 12).
Com Deus, sonhamos um mundo justo e fraterno, em que todos tenham vida “e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Outro pilar da espiritualidade quaresmal é a Oração.
Na quaresma devemos intensificar a vida de oração pessoal e comunitária. Lembramos a via-sacra em família, como momento forte de oração comunitária com a vizinhança e nos condomínios fechados.
Pela oração entramos em sintonia e intimidade com Deus e discernimos sua vontade. Um outro pilar da espiritualidade quaresmal é a Caridade. Na quaresma somos chamados ao exercício da caridade fraterna e solidariedade com os irmãos e irmãs.
O jejum e a abstinência de carnes são gestos exteriores que expressam nosso esforço de conversão e mudança interior. Entretanto, estes gestos exteriores devem estar sempre associados à caridade e à solidariedade com os irmãos.
Ou seja, a economia que fazemos mediante o jejum quaresmal deve ser doado aos que passam necessidades. Este é o espírito bíblico do Jejum e abstinência de carne. No domingo de Ramos acontece a coleta da solidariedade.
Essa coleta deve ser o fruto da penitencia e do jejum quaresmal. Enfim, a Quaresma é tempo de retomar o caminho do Evangelho, de renovação espiritual, de morte ao pecado e de cultivo da vida nova na graça de Deus.
Outro pilar da espiritualidade da quaresma é a esmola, recomendada na Bíblia, como meio de purificação. É um exercício de libertação do egoísmo. A partilha dos bens materiais é um gesto de caridade cristã que enobrece a alma humana. Porém, dar esmola não é apenas dar dinheiro, roupas e alimentos… É fazer-se doação e entrega aos irmãos no serviço fraterno.
Por isso, a Igreja no Brasil promove neste período a Campanha da Fraternidade. A Campanha da Fraternidade não esgota a quaresma. Mas ajuda a vivência do espírito quaresmal.
A CF é um grande chamamento e mobilização em favor de uma sociedade fraterna, justa, solidária e mais convivente. Neste ano temos como tema Fraternidade e fome e o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
A Campanha da Fraternidade, desde 1964 tem como objetivo unir os cristãos de todo país e pessoas de boa vontade num grande mutirão da fraternidade em torno de um problema concreto que atinge toda sociedade, visando despertar mais fraternidade e solidariedade entre as pessoas.
Desejo uma santa e renovadora quaresma para todos. Preparemos com entusiasmo cristão a nossa caminhada para a Páscoa!
Deusdédit de Almeida é sacerdote Diocesano na Catedral.