Natural de Tabóca do Brejo cidade que fica no agreste baiano, dona de uma trajetória de vida que nos trás muita riqueza e uma reflexão sobre os verdadeiros valores da vida. Uma das pioneiras na educação de muitos rondonopolitanos que hoje são lideranças, médicos advogados, comerciantes, professores e muita gente bem sucedida. Conta ela que naquele tempo era difícil encontrar um livro ou caderno aprendeu escrever com sua mãe Antônia rabiscando o chão, escrevendo na própria areia.
Jornal Folha Regional: Seus pais Guilherme Alves de Araujo e Antônia Antunes ambos baianos, vieram para Mato Grosso ao encontro de uma vida melhor, como foi essa viagem?
Benildes: Nós viemos da Bahia para Mato Groso a cavalo, a viagem levou 40 dias eu estava com apenas 2 meses de idade, vim no colo de minha mãe. Minha mãe contava que primeiramente nos permanecemos em Goiás e lá ficamos durante 4 anos. Posteriormente viemos definitivamente para Mato Grosso, o motivo para essa escolha de meu pai em vir para a terra de Rondon, é que o meu avô já morava aqui.
JFR: Em que período vocês chegaram a Mato Grosso e em qual localidade da nossa região vocês se instalaram primeiramente?
Benildes: Nós chegamos no final da década de 1950 mais precisamente em 1959 fomos para Poxoréo na Fazenda Velha, onde o meu pai começou a plantar arroz, feijão, milho, mandioca. Parte da produção era vendida, parte era para o consumo e uma pequena parte era doada.
JFR: Naquele tempo as famílias eram numerosas ou seja tinham muitos filhos, como foi a sua infância?
Benildes: Os meus pais tiveram 10 filhos começando por mim Benildes, Adeli, Aleir, Adair, Ailton, Belarmita, Maria Auxiliadora, Eleni Aparecida, Bernadete e Maria do Socorro. A exemplo do meu avô Conrado e minha avó Ana Eliza que tiveram 20 filhos e depois adotaram mais 10 todos registrados e tratados como filhos legítimos. Na minha infância eu vi muito trabalho por parte dos meus pais, uma luta pela nossa sobrevivência a vocação deles sempre foi para o meio rural e tiveram de certa forma o apoio dos meus irmãos. Foi um período muito bom cresci ao lado dos meus irmãos.
JFR: Quais as lembranças que você tem de Rondonópolis na década de 1960?
Benildes: O centro de Rondonópolis era um matagal, por todos os lugares que nós íamos pisávamos em brejo, o Jardim Urupês onde eu morava era conhecido como sapolândia, o coachar dos sapos incomodava até na hora de dormir.
JFR: Qual era o seu sonho de infância?
Benildes: Aos 7 anos de idade eu já escrevia e queria ser professora, naquela época uma folha de papel, um caderno ou um livro era muito difícil de serem encontrados. Eu aprendi com minha mãe a escrever na areia, nós éramos muito humildes, mas tínhamos uma grande fartura em nossa casa. O meu avô vendo aquela minha determinação conseguiu arranjar uma vaga para que eu estudasse no Colégio Coração de Jesus em Cuiabá, era o Colégio das Irmãs Salesianas. E lá eu estudei durante 10 anos, quando eu entrei eu tinha 8 anos de idade, foi onde eu aprendi muitas coisas dentre elas conquistar as pessoas através da amizade da simpatia. Aos poucos fui conquistando o meu espaço e adquirindo auto confiança.
JFR: No colégio das irmãs além de estudar quais eram as suas funções?
Benildes: Eu fazia de tudo com a grande vontade de acertar sempre e dar o melhor de mim naquilo que eu estava fazendo. Lavava chiqueiro de porcos, cuidava dos cães foi sem dúvida um grande aprendizado para a minha vida, aprendi a ser humilde e a dar valor nas pequenas coisas que conquistamos. Aprendi também que nem tudo na vida é realmente como a gente quer, e que na vida o dinheiro não é tudo.
JFR: Quando você se viu professora, qual foi a sua reação?
Benildes: Em 1971 eu comecei a lecionar, tudo foi tão de repente e inesperado foi realmente uma grata surpresa. Comecei minha carreira de professora no próprio colégio em que eu estudava iniciei dando aulas para os alunos da pré-escola, a partir daí não parei mais até aposentar.
JFR: Vamos conhecer um pouco mais da sua trajetória no setor educacional, fale sobre os “altos e baixos” diante da sua profissão:
Benildes: A minha preocupação sempre foi fazer tudo bem feito e dar o melhor de mim naquilo que eu estava fazendo. Trabalhei durante 27 anos na Escola Pindorama, na Escola Santo Antônio onde nós ajudamos a construir a quadra de esporte da escola. Eu sempre insisti que lugar de professor é dentro da sala de aula, o bom professor não precisa de luxo para ensinar, ele dá uma maravilhosa aula até em baixo de uma árvore. Nem tudo é mar de rosas em qualquer profissão e assim é também na educação, eu sempre tive muita paciência e as minhas colegas me encaminhavam os alunos que sempre davam problemas na escola e quase ninguém queria ficar com eles. Pois bem eles vinham até a mim e dentro de pouco tempo já estavam com resultados positivos, ou seja superando as dificuldades anteriores. Eu sempre tive comigo uma frase muito boa: “A educação é a arte de ensinar.”
JFR: Nós agradecemos a sua gentil atenção para com a nossa reportagem e como última reflexão de sua parte, eu pergunto: A quem você gostaria de agradecer?
Benildes: Quero agradecer os meus filhos que representam tudo na minha vida Douglas de Araújo Costa e Cristiane de Araújo Costa ambos militares. Agradeço aminha querida amiga costureira Nilva Grelhmann. Aos amigos que se unem a mim no trabalho voluntário Dr. José Valter, Dr. Abílio, Dr. Manoel. Dr. Cléo, Dr. Fernando Trenório, Dra. Maria Celeste. o Secretário Umberto de Campos e o Wilian motorista.