Quando alguém conta que frequenta o consultório de um psicólogo você vira a cara? E quando fala que vai a um psiquiatra? Se for a um cardiologista ou dermatologista tá tudo certo, não é mesmo? Por que os assuntos relacionados ao cérebro geram tanto medo?
Então, respira, porque o assunto é difícil, delicado e um tabu que a gente evita pensar, mas que acontece com muita frequência. Vamos falar sobre suicídio? Pra começar, é preciso esclarecer: NÃO é falta de Deus. Além disso, é muito mais complicado do que se pensa mas, por mais que seja complexo, é possível buscar ajuda para evitar.
É curioso o medo e até a aversão à procura por profissionais da saúde mental, pois é justamente no cérebro que está o comando central do corpo e buscar especialistas no assunto é uma questão de inteligência. Devido ao preconceito, muita gente esconde, tem vergonha ou nem mesmo busca ajuda. E você pode estar, sem querer, empurrando essas pessoas para um abismo sem volta. Mas, e se é você quem está doente? É preciso coragem para buscar ajuda!
A figura do louco assusta e não é de hoje. Olhamos para a história e percebemos que esse preconceito vem de muito tempo. Ainda são muito recentes os avanços no campo e os tratamentos tem sofrido quase uma revolução positiva nos últimos 10 anos. Ainda assim, muita gente adoece e não busca ajuda. É como se pacientes com câncer que tenham boas chances de cura sequer cogitassem o tratamento.
Enquanto o preconceito impera e evitamos pensar ou conversar a respeito, o suicídio de jovens vem crescendo no Brasil nos últimos 12 anos, sendo o oitavo país em número absoluto de suicídios. As estatísticas devem, entretanto, ser analisadas com cautela. Isso porque há muita subnotificação, afinal, não é fácil para a família lidar com a perda de um familiar nessas circunstâncias.
A taxa de autoextermínio na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 – um aumento de quase 10%. Contudo, não é apenas no Brasil que o suicídio de jovens tem aumentado, sendo o maior crescimento global de suicídios. Em 2012, foi a segunda causa de morte de jovens no mundo, e no Brasil o cenário é similar. As taxas de crianças também assustam, mas ainda são os idosos que mais sucumbem. Eles representam mais de 30% dessa dolorosa morte.
Você já deve ter ouvido falar, mas se não ouviu saiba que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos há uma tentativa. As taxas de suicídio vêm aumentando globalmente. Estima-se que até 2020 aumente em 50%. Morrem mais pessoas por suicídio do que a soma das morte por homicídio e guerra combinados. Além disso, cada suicídio tem sério impacto na vida de pelo menos outras seis pessoas.
Peço ao leitor que pense e repense o tema, sobretudo, durante o Setembro Amarelo que é um mês voltado às discussões de saúde mental. Se você torce o nariz pra psicólogo, talvez seja o profissional que você mais precisa procurar. Mas, se ainda te falta essa coragem, não julgue aqueles que estão lutando para ficar bem. Afinal, é realmente necessária muita força para conhecer a si mesmo, ver seus próprios erros e ajustar o rumo.
Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. É uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida, Conselho Federal de Medicina e Associação Brasileira de Psiquiatria.
ANDHRESSA SAWARIS BARBOZA é jornalista e cientista social