Ao mesmo tempo em que afinava os detalhes para bater o martelo no nome do deputado Michel Temer (PMDB-SP) como vice da presidenciável petista Dilma Rousseff, o comando nacional do PMDB embarcou nos últimos dias em uma operação para aumentar a pressão sobre instâncias regionais que resistem em aderir ao projeto da aliança nacional com o PT. Cobrada pelo Palácio do Planalto para que sejam desatados os nós em Estados considerados estratégicos, a ala do partido fechada com Dilma já resgata até mesmo a regra da fidelidade partidária, em busca de uma ferramenta para enquadrar os rebeldes nos Estados.
Com o aval da direção nacional da sigla, o deputado Eduardo Cunha (RJ) entrou no último dia 13 com uma consulta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo é questionar se um filiado, com ou sem mandato, pode contrariar a linha adotada na esfera federal por seu partido e fazer campanha para candidato que pertença a outra coligação.
Dependendo da resposta do TSE, líderes do PMDB ameaçam, nos bastidores, baixar uma resolução para “enquadrar” os Estados no projeto nacional da aliança PT-PMDB. A estratégia seria um recado a peemedebistas como o pré-candidato ao governo de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e o ex-governador paulista Orestes Quércia, postulante a uma vaga ao Senado por São Paulo. Ambos integram a ala do PMDB alinhada ao ex-governador José Serra, pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PSDB.
O plano do PMDB nacional tem sido difundir internamente que os “rebeldes” ficariam, assim, impedidos de pedir votos para o principal rival de Dilma. “O mandato eletivo é do partido. Ninguém autorizou o parlamentar a só ser fiel por não mudar de partido. Eles não têm autorização para ficar contra o candidato nacional do PMDB”, disse Cunha ao iG.
Pela regra da fidelidade partidária, os mandatos obtidos nas eleições pertencem aos partidos políticos ou às coligações e não aos candidatos eleitos. A expectativa do PMDB pró-Dilma é de que o resultado da consulta saia na semana do dia 10 de junho, na véspera da convenção do partido, marcada para o dia 12.
Formalizado ontem como o nome que irá ocupar a vice de Dilma, Temer evita polemizar sobre as negociações nos Estados. Ao iG, o presidente da Câmara afirmou que seu partido está negociando com o PT e com suas instâncias regionais para que todas as pendências sejam solucionadas da melhor maneira possível. “Estamos fazendo um grande esforço de negociação”, afirmou o parlamentar.
Ontem, logo após a reunião que sacramentou sua candidatura a vice, Temer argumentou que, por possuir data anterior às convenções estaduais, a convenção nacional do PMDB tende a “pautar” os acordos regionais. “Cada Estado vai cuidar de si com orientação dada pelo nacional. Vai ter uma decisão no dia 12 e acho que vai pautar muito as decisões estaduais.”
Ameaçado pela possível intervenção, Jarbas garante que não recuará do apoio ao tucano. Crítico contumaz do próprio partido, o senador disse que não será uma investida “fora de hora” que o impedirá de dar palanque ao tucano. “O PMDB é uma geléia geral e sempre permitiu que os seus filiados votassem do jeito que quisessem. Eu vou de Serra de todo jeito”, afirmou.
Já o ex-governador de São Paulo não está preocupado com as pressões do Palácio do Planalto. Quércia disse conversar frequentemente com Temer e nunca ter sentido nenhuma pressão. “Converso sempre com o próprio Michel e ele nunca me cobrou. Até porque ele sabe que nosso apoio ao PSDB é definitivo”, explicou.
Reservadamente, líderes do PMDB chegam a ameaçar tomar medidas mais radicais contra os que, eventualmente, se recusem a seguir a orientação da Executiva Nacional. “Pode até apoiar o Serra, mas fora do partido, será um voo solo”, afirmou um cacique da legenda.
Fonte: Último segundo