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sábado, novembro 23, 2024

PF não descarta mais envolvidos nas mortes de Bruno e Phillips, imprensa mundial dá destaque ao caso

Os investigadores do assassinato do indigenista Bruno e do jornalista britânico Dom Phillips, no Amazonas, acreditam haver indícios da participação de uma terceira pessoa no crime e miram a possibilidade de novas prisões. Além disso, aguardarão os resultados da perícia para confirmar se os restos humanos localizados ontem (15) são mesmo de Pereira e Phillips.

Segundo a PF, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos, bem como ocultado a lancha em que viajavam Pereira e Phillips.

A perícia também vai determinar a causa da morte e a arma utilizada no crime. Segundo a PF, Pelado disse que as mortes ocorreram com disparo de arma de fogo.

O delegado da Polícia Civil Guilherme Torres disse que a força-tarefa no Amazonas não terminou na quarta-feira e que não se descarta a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas.

Além de Pelado, outro suspeito, Oseney de Oliveira, conhecido como Do Santos, foi preso na terça (14). Ele é irmão de Pelado, mas a PF disse que ele nega ter participado do crime.

Eduardo Alexandre Fontes, superintendente da PF no Amazonas, confirmou haver indícios de participação de uma terceira pessoa na morte do indigenista e do jornalista.

Pereira e Phillips desapareceram em 5 de junho quando retornavam de barco à sede do município de Atalaia do Norte (AM). Trata-se do município mais próximo à entrada da terra indígena Vale do Javari.

Segundo Fontes, foram feitas escavações num local de "dificílimo acesso" e sem sinal de telefone. O material encontrado seria enviado hoje (16) para o instituto de criminalística, em Brasília.

REPERCUSSÃO

A imprensa internacional repercutiu de forma negativa a informação dada por autoridades brasileiras sobre as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips. O jornal americano New York Times afirmou que os desaparecimentos são "um capítulo escuro na recente história sangrenta da Amazônia".

"Phillips dedicou grande parte de sua carreira a contar as histórias do conflito que devastou a floresta tropical, enquanto Pereira passou anos tentando proteger as tribos indígenas e o meio ambiente em meio a esse conflito. Agora parece que o trabalho se tornou mortal para eles, mostrando até que ponto as pessoas estão dispostas a explorar ilegalmente a floresta tropical", escreveu o jornal americano.

O jornal britânico The Guardian, para o qual Dom Phillips escrevia, disse que o "anúncio [da Polícia Federal] pôs um triste fim a uma busca de 10 dias que horrorizou a nação e destacou os crescentes perigos enfrentados por aqueles que ousam defender o meio ambiente e as comunidades indígenas do Brasil, que enfrentam um ataque histórico sob o presidente de extrema direita do país, Jair Bolsonaro".

O diário também destacou que na coletiva de imprensa da PF em Manaus "militares e policiais se parabenizaram pelo trabalho realizado, antes de reconhecerem tardiamente o papel desempenhado pelos indígenas que ajudaram a liderar as buscas".

O The Guardian publicou um perfil de Phillips e Pereira intitulado "O escritor e o ativista: como Dom Phillips e Bruno Pereira se uniram pela Amazônia".

"Era para ser uma das últimas viagens de Dom Phillips à Amazônia, o pontapé inicial de um livro que revelaria toda a exuberante complexidade da maior floresta tropical do mundo. Em vez disso, parece ter sido um capítulo final para Phillips e seu amigo Bruno Pereira, especialista em indígenas e guia", escreveu o jornal, que promove uma campanha de arrecadação de fundos para os familiares dos desaparecidos.

O britânico Financial Times, de notícias financeiras, também destacou as pressões que jornalistas e ambientalistas sofrem na Amazônia.

"Indígenas e funcionários de organizações não governamentais há muito suportam o peso da agressão de grupos que operam ilegalmente na área. Ambientalistas dizem que a situação se deteriorou dramaticamente desde a eleição em 2018 do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, cuja retórica em apoio a garimpeiros e madeireiros ilegais foi tomada como sinal verde para arrasar a floresta tropical", escreveu o FT.

"As agências de fiscalização ambiental do Brasil também foram submetidas a cortes orçamentários, que resultaram em redução de mão de obra e uma crescente sensação de impunidade entre os operadores ilegais da região."

O americano Washington Post destacou em sua reportagem declarações de Bolsonaro, em que o presidente fala que as reportagens de Phillips desagradavam muitos na Amazônia e sugerindo que o jornalista deveria ter tomado precauções maiores em sua viagem.

"Esse caso tem sido acompanhado de perto no Brasil, onde uma das das questões mais polêmicas é sobre se a floresta amazônica deve ser desenvolvida ou preservada. O presidente Jair Bolsonaro, um forte defensor do desenvolvimento, que já apoiou garimpeiros e desmatadores ilegais, culpou Phillips por seu desaparecimento. Em um comunicado na quarta-feira, ele disse que o jornalista era 'mal-visto na região'."

Mesmo antes da descoberta dos corpos, a imprensa internacional já estava cobrindo intensamente o caso. Em uma carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro e aos ministros da Defesa e Relações Exteriores, publicada na semana passada, editores do The Guardian, The New York Times, The Associated Press e vários outros veículos nacionais e estrangeiros haviam expressado "extrema preocupação com a segurança e o paradeiro" dos dois homens.

Os jornalistas pediram por mais esforços nas buscas, em um momento em que as autoridades eram acusadas de empregar poucos recursos.

"Como editores e colegas que trabalharam com Dom, estamos muito preocupados com relatos de que os esforços de busca e resgate até agora têm recursos mínimos, com as autoridades nacionais demorando a oferecer limitada assistência', diz o texto.

 

Da Redação (com agências de notícias)

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