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quarta-feira, dezembro 4, 2024

Pesquisa busca desenvolver carne em laboratório

Pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu um investimento substancial de R$ 2,4 milhões da Finep, com uma estimativa de duração de 36 meses para sua conclusão.

Um time de cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) obteve um financiamento significativo de R$ 2,4 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma agência pública de apoio à inovação. O objetivo desse grupo é desenvolver carne cultivada a partir de células animais, mas com uma abordagem inovadora: eles almejam criar cortes estruturados, como bifes, em vez de simplesmente produzir carne para hambúrgueres. A pesquisa se concentrará na análise das estruturas que oferecem suporte às células, conhecidas como “scaffolds”, e em técnicas para reproduzi-las em um ambiente laboratorial controlado.

A singularidade desse projeto reside na tentativa de emular os processos biológicos naturais necessários para gerar cortes de carne, como a picanha bovina. Silvani Verruck, professora do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC e líder da equipe, destaca a importância da formatação por meio de processos de engenharia de tecidos utilizando “scaffolds”. Ela explica que esse método é essencial para alcançar a complexidade estrutural desejada nos produtos finais.

Em uma abordagem inovadora, a pesquisadora menciona que, considerando o que já foi explorado na área médica, estão considerando produtos de origem vegetal para desempenhar o papel de estruturação do alimento. Isso não apenas representa uma alternativa sustentável, mas também reduziria a dependência de ingredientes de origem animal na cadeia de produção. Silvani ressalta que o aumento da população global impõe desafios significativos, exigindo a exploração de novas formas de produção e distribuição de alimentos seguros e de alta qualidade.

“A aplicação da engenharia de tecidos no campo médico atingiu um estágio avançado; no entanto, a expansão para o cultivo celular destinado ao consumo humano, como fonte de alimento, representa uma área de pesquisa e desenvolvimento em ascensão”, analisa.

Os pesquisadores estão mirando na utilização da bioimpressão 3D como uma das técnicas-chave, permitindo a criação de estruturas propícias à adesão das células musculares. O apoio financeiro da Finep será direcionado para a aquisição de equipamento de alta resolução essencial para esse processo inovador. O projeto já está em andamento e está programado para uma duração de 36 meses.

Silvani destaca a relevância do trabalho também como um impulsionador para a expansão desse campo de conhecimento. “Trata-se de uma área altamente complexa; há necessidade de extensa pesquisa para viabilizar a escalabilidade do processo”, enfatiza.

O que é carne de laboratório?

O conceito de carne de laboratório envolve a produção a partir da coleta de células animais, seja por meio de biópsias ou ovos fertilizados. O material genético é então introduzido em meios de cultura, propiciando sua multiplicação em larga escala.

Analogamente à agricultura, as células desempenham o papel de sementes, sendo cultivadas até atingirem a maturidade desejada. No caso da carne, o resultado é um produto que compartilha semelhanças notáveis em termos de aparência, sabor e aroma com a carne tradicional, mas sem a necessidade de sacrificar animais.

A iniciativa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se destaca como pioneira no desenvolvimento de carne bovina por esse método. Contudo, projetos semelhantes estão em andamento no país, incluindo a Embrapa Suínos e Aves, que anunciou em 2023 o desenvolvimento de carne de frango cultivada em laboratório, com planos de apresentar a primeira versão ainda neste ano.

No setor privado, a JBS fez um investimento significativo de R$ 495 milhões para consolidar sua posição como uma das principais fabricantes globais de carne de laboratório.

As controvérsias em torno da carne de laboratório
A produção de carne cultivada não está isenta de polêmicas e opositores. Em setembro de 2023, o deputado Tião Medeiros (PP-PR), que preside a Comissão de Agricultura da Câmara, apresentou o Projeto de Lei 4616/2023, buscando proibir não apenas a produção, mas também a reprodução, importação, exportação, transporte e comercialização da proteína de laboratório.

De acordo com a assessoria do deputado, a proposta tem como objetivo “proteger de forma rigorosa a pecuária nacional, um dos setores mais cruciais da economia, responsável por 2% do PIB brasileiro”.

Essa movimentação não é exclusiva do Brasil; outros países também estão reagindo. No Uruguai, um projeto semelhante ao do parlamentar brasileiro está em tramitação. Em dezembro de 2023, a Itália se tornou o primeiro país da União Europeia a proibir a comercialização do que denominou como “alimentos artificiais”.

Fonte: Canal Rural

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