Jair Bolsonaro está começando a se dar conta de que é muito mais fácil fazer campanha do que governar. No caso dele, uma campanha sem debates, com raras entrevistas e uma comunicação feita via rede social, escapando do contraditório. Esperamos que Bolsonaro amadureça e aprenda que não há mais espaço para falas que agradam a determinado setor da população, obrigando-o a voltar atrás nas suas colocações, revelando que é feito de improvisos e não possui um projeto de país. Tem se mostrado um irresoluto, uma pessoa que fala sem pensar e depois descobre que disse bobagem.
Cada vez fica mais nítido que Bolsonaro é um homem fraco e com personalidade fraca e manipulável. Panelas ficam evidentes na nova gestão. Há o grupo dos generais, a turma da relação política, a ala econômica e o clã familiar do presidente eleito. Cada patota tentando ocupar espaços, dar palpite e influenciar no jogo de xadrez bolsonarista. Antes que o pai tome posse do que lhe é de direito constitucional, os filhos já estão se manifestando como eminências pardas. Isso não dará certo. O povo elegeu um presidente, não uma família inteira.
Mesmo antes de assumir o poder já entrou em atrito com o MERCOSUL, com os árabes, com a Noruega, com a China, com Cuba, e tem se mostrado um capacho de Trump. Levar à frente o repúdio aos acordos contra o aquecimento global e o desejo de fixar em Jerusalém a embaixada vai custar ao Brasil de Bolsonaro muito mais do que custa aos EUA de Trump. Serão incinerados bilhões de dólares anuais em exportações dos setores mais competitivos da economia brasileira.
Ainda que de modo geral, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), tem dado sinais de moderação nas escolhas para seu ministério, sendo a maior parte dos nomes anunciados até aqui, portadores de qualificação técnica mais do que militância ideológica, uma dúvida se criou, entretanto, na pasta das Relações Exteriores. Ele defendeu que o futuro ministro motive a diplomacia brasileira e incremente o comércio "sem viés ideológico", em referência contrária à política externa dos governos do PT, de aproximação de países de regimes de esquerda, como Cuba e Venezuela. No entanto, o novo ministro é só ideologia, um submisso a Trump. Tirando o Trump, tudo é marxismo cultural! Os acordos internacionais aos quais o Brasil se sujeita são parte de uma conspiração globalista e marxista para destruir a humanidade. Se esse delírio conspiratório guiar nossa política externa, o Brasil trabalhará contra a ordem mundial liberal da qual se beneficia e que ajudou a construir. Imitação barata de Trump.
A onda conservadora que elegeu Bolsonaro se assenta em uma sucessão de equívocos. Como precisa gerar indignação permanente, ela exagera, quando não falsifica fatos, adaptando a realidade ao discurso. Embora tenha uma espinha dorsal comum, antipetista, a militância do capitão não é reformista. Por enquanto, Bolsonaro é seu próprio e único inimigo.
Se concentrou nas ameaças dos deputados aos professores, no debate do projeto da escola sem partido, onde Bolsonaro abre guerra a escola e a educação, e desqualifica os professores. Parece até que tem formação pedagógica ou educacional. Na verdade, parece mais um bedel, do que um educador.
O novo presidente dá provas que não é uma raposa da política, que conhece todos os truques do centrão. Ele não sabe lidar com o Congresso.
Mas Bolsonaro não gosta de economistas. “Quem ferrou o Brasil foram os economistas”, disse na última segunda-feira (19). Sempre que livre, navega de acordo com a maré de suas redes. Falando o que parte dos seus eleitores quer ouvir, mas sem dizer o que de fato fará com o país. O fato é que não se avista um projeto de país, apenas aquilo que é contrário. Não se sabe o que fará com a economia, como sanará o problema da dívida pública, o que fará com as aposentadorias, se vai privatizar ou estatizar a economia. Enfim, sem plano para o país, improvisa soluções e pessoas para assumir cargos chaves, pois ele não sabe o que deve ser feito.
Sem atrair interlocutores, afasta a sociedade civil de seu governo, que sem professores, cientistas, sábios, fica na mão de militares e conservadores, que mais que consertar o país, querem destruir um passado recente, do qual se deve tirar lições e não simplesmente negá-lo ou ignorá-lo.
ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT.