Pecuária de pai para filho

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Todo o processo de modernização e evolução da pecuária precisa envolver a família do produtor. Não é à toa que o cenário do agronegócio brasileiro está sob um risco iminente de não ter mais sucessores: os jovens herdeiros estão deixando de lado as atividades no campo e se fixando nas cidades. Eles não tomaram gosto pelo meio rural.

Estudos da Embrapa mostram que mais de 40% dos produtores rurais deixarão sua atividade até 2030, percentual preocupante para um estado iminente agrícola, como Mato Grosso. Grande parte dos problemas vem do desconhecimento dos mais jovens de como uma fazenda funciona.

Como eu sou a terceira geração de pecuaristas na família, venho buscando fazer como meu pai e meu avô ensinaram e cultivo diariamente nos meus filhos Guilherme e Vinícius, de 9 e 4 anos, a paixão pelas atividades na fazenda. Acho que esse gesto simples fará a diferença lá na frente.

Eu, por exemplo, fui criado no lombo de um cavalo, acompanhando os peões debaixo do sol a pino no Pantanal. Na época de vacinação, permanecia o dia todo no curral, ajudando a apartar os animais sem me importar se estava cansado, suado ou com fome. Todas essas lembranças são marcantes e fazem parte de quem sou hoje, um apaixonado pela pecuária.

Herdei do meu pai, Dr. Ely, a objetividade e o pé no chão. Papai é um médico veterinário de formação, mais quieto, tradicional, de temperamento tranquilo e resistente à mudança. O que é um ponto positivo, pois me ensinou a ser mais sereno.

Meu avô Justiniano, pai da minha mãe, é outra referência. Era um apaixonado por novidades e tecnologias, um visionário sempre em busca de novas máquinas, caminhões, muito perfeccionista em tudo. Há 30 anos ele entendia que era preciso fazer investimentos para obter melhor rentabilidade no campo e até hoje há estruturas da nossa fazenda feitas na época dele.

Bato sempre na tecla que a pecuária pode ser uma atividade tão lucrativa quanto à agricultura de alta precisão, tenho uma experiência que demonstra isso, já que na minha fazenda Onça Pintada alcanço uma lotação animal (a pasto) superior a 4 cabeças por hectare, sendo que a média estadual é de 1 cab/ha/ano.

Venho obtendo resultados fantásticos, dentro de um sistema a pasto ecologicamente correto, com um rendimento anual maior que R$ 2,3 mil por hectare, número 10 vezes superior à média anual da pecuária brasileira. Mas para chegar a este resultado tive de fazer uma mudança de paradigma: pensar a fazenda como uma empresa.

Como sou formado em administração de empresas, não me vejo como um simples produtor rural e sim como empresário em busca das melhores soluções para o meu negócio. Avalio que a pecuária extensiva tradicional está com os dias contados e não tem como sobreviver no mercado competitivo e globalizado.

Daí a importância de nos preparar e antecipar, o que passa pelo processo de sucessão familiar. Guilherme, o meu mais velho, quando fez 9 anos ganhou seu primeiro animal, nascido da primeira fornada do nosso garanhão pantaneiro Filé. Ele foi correndo para o redondel, que é uma estrutura de cercas utilizada para a doma, e escolheu uma potra que colocou o nome de Estrela.

Desde então, a potra pantaneira virou uma paixão. Ele precisa acompanhar seu desenvolvimento cotidianamente e um dia poderá oferta-la em um leilão, podendo inclusive decidir o que fazer com o dinheiro. O irmão mais novo seguirá os mesmos passos.

Nesse dia dos pais, estou feliz por deixar a maior herança que um pai pode oferecer a um filho, que no meu caso chegará à sua quarta geração: o gosto pela vida no campo. Sei que este meu esforço vai contribuir com o nosso estado, que tem o maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 30 milhões de animais (90% nelore), e é um grande produtor de carne para o mundo. Feliz dia dos pais a todos!

*Breno Molina, presidente da Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT), administrador de empresas com formação pela Universidade Cândido Mendes (RJ), pecuarista em Poconé e empresário em Cuiabá, neloremt@terra.com.br