É um privilégio para qualquer cidadão da imprensa, estar ao lado do padre Lothar e entrevistá-lo, ele ajudou as comunidades mais carentes já a partir dos anos 60 época em que chegou na terra de Rondon. Quando adolescente na cidade natal em Konigsberg no norte da Alemanha, ele já começava a vislumbrar alguns projetos para a sua vida futura, dizia ele: “Agora que terminei o 2º. Grau tenho que decidir, vou ser juiz de direito como o meu pai, ou vou servir ao patrão maior?”
Ele decidiu servir a Deus e o brilho de suas atuações junto às comunidades mais carentes, iluminou os corações confortando-os, para que desta forma todos passassem a ter uma vida digna passando a residir em sua casa própria. Afastando de vez o fantasma da miséria e da pobreza, as mães foram beneficiadas com as creches, e puderam desta forma realizar o seu sonho e conquistar o melhor para os seus filhos. Hoje temos a desenvolvida Vila Operária e sua grande região uma contribuição inestimável do Padre Lothar ao desenvolvimento de Rondonópolis.
Jornal Folha Regional: Padre Lothar, em que cidade o senhor nasceu?
Padre Lothar: Eu nasci no dia 2 de Julho de 1938 na cidade de Konigsberg na Prússia cidade que fica ao norte da Alemanha, hoje ocupada pela Rússia.
J.F.R: Como era composto o seu núcleo familiar na Alemanha, ou seja pais e irmãos?
Padre Lothar: Meus pais Hugo e Hildegard tiveram três filhos, eu e duas irmãs Edith e Mechthild, como disse meu pai era Juiz de Direito e realizava um influente trabalho social, uma profissão que sempre me atraiu, mas decidi pela vida religiosa.
J.F.R: Por gentileza fale um pouco da sua infância, e do padrão do ensino escolar de então na Alemanha.
Padre Lothar: A educação na Alemanha é diferente, uma aprendizagem austera e de muito respeito com todos, com professores com os colegas. Somos conscientizados a respeitar o país e as autoridades, lá não se perde tempo com superficialidades. É uma educação para que a pessoa esteja preparada para o futuro, pensando mais no outro do que em si e que atraia a felicidade e o progresso familiar. A partir dos 10 anos de idade, eu fui morar na casa de um padre conhecido da família o padre José Suess, onde passei a ser criado. Esse fato também pesou para que eu escolhesse a vida religiosa e servisse a Deus, hoje procuro ajudar a pobreza os sem teto, os que passam fome e socorrer as pessoas que mais necessitam. Começava ali na casa do Padre José Suess um momento de grande reflexão que a partir de então influenciou grandemente na tomada pela minha decisão.
J.F.R: Depois da formação religiosa na Alemanha o senhor veio para o Brasil, especialmente para a nossa cidade de Rondonópolis, como surgiu esse convite?
Padre Lothar: Eu cheguei a Rondonópolis no ano de 1964, vim para ajudar o Bispo D. Wunibaldo que já estava aqui desenvolvendo um bom trabalho. No início morei na casa dele ao lado do Ginásio La Salle. Vi que aqui tinha muita coisa pra fazer e as pessoas eram muito carentes, o lado pobre se alastrava e eu precisava fazer algo para ajudar. Muitas casas para construir outras para reformar, e assim comecei a minha luta.
J.F.R: O senhor ganhou uma bicicleta, como se desenvolveu o seu trabalho a partir do momento em que recebeu esse presente?
Padre Lothar: Bem no início tivemos um pouco de dificuldade, mas o Bispo D. Wunibaldo logo me deu uma bicicleta de presente. A partir de então facilitou em muito o meu trabalho, comecei a vir para a Vila Operária de bicicleta. Eu passei a freqüentar de vez a vila e a sentir de perto as carências das pessoas, havia muito boa vontade de todos mas faltava condições. Tinha pequenas moradias, algumas construções eram muito ruins chovia mais dentro do que fora.
J.F.R: Como se deu no início os avanços da Vila Operária, já que a comunidade era pequena mas muito participativa?
Padre Lothar: Começamos a visualizar os mutirões, o CONDIVO estava no começo de sua organização. Intensifiquei a parte religiosa comecei a fazer batizados, a rezar missas, casamentos. Essa foi a primeira meta, organizei a comunidade no caráter religioso, momento em que as pessoas começaram a se unir cada vez mais. A igreja era pequena mas a comunidade era participativa e acreditava que só a união poderia fortalecer a todos. Até que um dia reuni a comunidade local, e fiz a proposta do mutirão para aumentar as instalações da igreja. Assim num curto período aumentamos o prédio quatro vezes mais do que o tamanho original.
J.F.R: O que o senhor destacaria como fator de maior desenvolvimento na comunidade da Vila Operária?
Padre Lothar: O “motor” do desenvolvimento da Vila Operária foi a efetivação do CONDIVO, ou seja do Conselho de Desenvolvimento da Vila Operária, do qual fui o fundador e o primeiro presidente, cargo que ocupo atualmente. Naquele tempo havia também um programa de alimentação internacional que era ofertado pelos Estados Unidos, as pessoas tinham muito medo da então chamada guerra fria ou seja dos embates diplomáticos, discussões entre presidentes entre os Estados Unidos e a Rússia, era a luta aberta contra o comunismo. Esse programa doava uma grande quantidade de alimentos dos americanos, para que países como o nosso e outros não fossem para o lado dos comunistas. Esses alimentos eram distribuídos na Vila e na região, o programa se chamava “Ação Aliança para o Progresso.” A partir dessas ações começaram a surgir alguns bairros: Macaco, Mata Grande, Paulista e a região rural dentre elas o Naboreiro começaram a se fortalecer.
J.F.R: O que aconteceu depois que senhor ganhou mais um presente do Bispo D. Wunibaldo, ou seja desta vez um automóvel?
Padre Lothar: O automóvel nos ajudou muito mais começamos a expandir as visitas a zona rural, fomos ao Naboreiro, estendemos a doação de alimentos para vários lugares que necessitavam. Foi um grande apoio ao nosso trabalho agradeci mais uma vez o Bispo D. Wunibaldo pela sensibilidade e desprendimento. Um fato que de inicio nos deixou triste foi o esvaziamento da zona rural, as pessoas vinham para a cidade a procura de emprego, outros para montar um pequeno negócio. Naquele tempo houve um grande êxodo rural, e a nossa região rural foi fortemente abandonada. Isso de certa forma incentivou os políticos a criarem projetos para que as famílias ficassem no meio rural, essa é uma luta que dura até os dias de hoje, uns procurando terra para plantar enquanto muitos abandonam a própria terra.
J.F.R: O senhor tem alguma estatística sobre o número de comunidades organizadas em Rondonópolis?
Padre Lothar: Nós temos 37 comunidades em Rondonópolis, muitas casas construídas nos mutirões, que tivemos o apoio de pessoas da própria comunidade, lembrando que o Bispo D. Wunibaldo foi o grande incentivador. Depois veio o apoio das autoridades a exemplo do deputado Bezerra, do José Carlos do Pátio, do saudoso Ananias Martins de Souza, o Ananias Filho, o saudoso Bispo D. Osório, nos dias de hoje também sempre tivemos o apoio e a presença do Bispo D. Juventino, do ex- vereador Fulô, do saudoso Juscelino Farias pai do Nélis, do ex-prefeito Adilton Saquetti, do deputado Welington Fagundes e de vários empresários, enfim tivemos o apoio de todos os prefeitos que administraram Rondonópolis.
J.F.R: Quantas pessoas aproximadamente foram beneficiadas inicialmente, e as creches ainda hoje continuam atuantes nas comunidades?
Construímos 53 moradias para os idosos, fizemos mutirões de construção de residências onde beneficiamos 3.090 famílias. Em 1979 começamos a construir as creches, com apoio também da Cáritas Diocesana fundada por D. Wunibaldo, com ajuda contínua de todas as pessoas aqui citadas. Atualmente são vinte e duas, mantemos ainda cinco creches desde a construção, até os dias de hoje beneficiando 550 crianças na faixa etária entre 2 e 3 anos. Tivemos também o apoio de pessoas voluntárias da Alemanha, famílias inteiras que ajudaram a transformar a vida dos mais carentes aqui em Rondonópolis com a reforma e construção de moradias.
J.F.R: A partir do ano 2000 qual a atividade que mais se destacou em Rondonópolis na ação social?
Padre Lothar: No ano 2000 construímos o albergue da cidade, um grande número de pessoas vindas de outros estados vagavam pelas ruas eram os pedintes que passavam fome, ou até mesmo aqueles que tinham que pernoitar para seguir viagem no dia seguinte e não tinham condições de pagar uma hospedagem e nem dinheiro para comer. Foi uma ação benéfica, humana e justa, a sociedade rondonopolitana começou então a enxergar parte da problemática social da cidade. Quero dizer que nós mantemos o albergue desde o início até os dias de hoje.
J.F.R: Padre Lothar queremos agradecer pela vossa atenção e consideração para com a nossa reportagem, pedimos que o senhor deixe uma mensagem aos rondonopolitanos nesta data do aniversário de 64 anos de emancipação político e administrativa.
Padre Lothar: Agradeço a você pelo trabalho e ao Jornal Folha Regional pela oportunidade, dentre os agradecimentos feitos, eu quero aqui citar também uma pessoa em especial, o Manoel Messias que sempre foi o braço direito da Cáritas, é o nosso tesoureiro que tanto fez também pelas comunidades. Rondonópolis é a minha segunda casa, desejo que todos possam viver em paz, que a violência seja extinta, que todos os que aqui vivem possam ter uma oportunidade de trabalho e que se ajudem mutuamente. Felicidades ao povo desta querida Rondonópolis.
Denis Mares