NO MEIO POLÍTICO, OBRAS sempre foram sinônimo de votos. E quanto mais são mostradas, mais repercussão têm. Atentos a isso, os dois pretensos candidatos à Presidência em 2010 estamparam em si o selo do desenvolvimentismo, oferecendo ao eleitor uma chancela de preocupação com a crise e contra o esmorecimento da economia brasileira. Cada um à sua maneira – mas ambos trajados de mestre-de-obras Dilma Rousseff e José Serra estão alertas às jogadas do outro. Enquanto Dilma, como ministra da Casa Civil, ganhou de bandeja do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comando de um pacote de obras avaliado em R$ 646 bilhões até 2010, o governador Serra teve de colocar a máquina paulista para funcionar e correr atrás do prejuízo. Há duas semanas ele anunciou um programa de investimentos e desonerações avaliado em R$ 20,6 bilhões apenas para este ano. Em termos comparativos, o PAC de Serra, batizado oficialmente de Estímulo à Atividade Econômica (EAE), representa 2,56% do Produto Interno Bruto de São Paulo. O de Dilma, tomando como base apenas o que foi gasto nos dois primeiros anos e o previsto para 2009, representa 1,62% do PIB brasileiro. "A guerra de números está começando", provoca a cientista política Maria Victoria de Mesquita Benevides, da USP. "Se isso se materializar em avanços para o País, ótimo."
A disputa entre Dilma e Serra não está apenas no bradar de pacotes. Há, também, as rusgas sobre a paternidade – ou maternidade, em alguns casos – de obras que estão inclusas nos programas de ambos. O trecho sul do Rodoanel, por exemplo, deverá ter consumido, quando ficar pronto no final deste ano, R$ 3,6 bilhões. Dilma e o governo federal gostam de anunciar aos quatro ventos que a obra está no PAC e, portanto, tem a marca do governo Lula. Porém, apenas R$ 1,2 bilhão será investido pela União, enquanto o governo paulista está colocando R$ 2,4 bilhões na rede viária. É o mesmo caso do ex-Fura Fila, rebatizado de Corredor Expresso Tiradentes. O governo federal entrou com R$ 250 milhões e a prefeitura paulistana, à época ainda governada por Serra, destinou R$ 323 milhões à obra, que deverá ficar pronta no meio do ano que vem. Ainda assim, ela estampa a sessão "Metrôs" do balanço mais recente do PAC de Dilma. "Sempre houve esse tipo de apropriação de obras entre Estados e União", afirma o senador e ex-ministro dos Transportes Eliseu Resende. Tanto é verdade que o mesmo ocorre em sentido inverso. Serra tem apregoado que está atrás de investidores para tirar do papel o projeto do trem-bala, que ligará a capital paulista ao Rio de Janeiro – outro projeto do PAC de Dilma.
As semelhanças entre um pacote e outro não param por aí. Até mesmo na hora de agrupar projetos e reunir num só emblema, Serra e Dilma são cada vez mais parecidos. Das 33 medidas anunciadas por Serra em seu pacote, apenas 17 são novas – e nenhuma delas constitui propriamente uma obra pública. A desoneração do ICMS para investimentos, a antecipação de gastos do Tesouro paulista em 2009, a expansão do crédito para a pequena e média empresa com recursos da Nossa Caixa e os incentivos à qualificação profissional são medidas louváveis. Mas são também medidas esperadas por trabalhadores e empresários que depositam seus votos confiantes de que os mandatários tomarão decisões corretas. De resto, assim como no último balanço do PAC divulgado por Dilma, há uma maquiagem sobre os anúncios. Em dezembro passado, Serra já havia anunciado a abertura das linhas de crédito da Nossa Caixa. As obras que contemplam os projetos de urbanização de favelas e de recuperação de mananciais nas represas Billings e Guarapiranga também são antigas. O que há de novo são as medidas de alívio tributário, que só terão os setores contemplados divulgados daqui a um mês. "A campanha eleitoral já começou e quem tem chances está colocando o samba na avenida", diz o economista Gil Castelo Branco. "De mais a mais, o grosso do dinheiro vem do BNDES e das estatais
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