Os loucos e as inovações

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 O ato ou ação de modificar antigos costumes, manias, legislações, processos, entre outros, tem sido considerado por algumas pessoas como obras de malucos ou em outras palavras de “loucos ou insanos”. Vários foram os loucos que trouxeram inovações para que a humanidade pudesse ter uma vida melhor.

Isaac Newton trouxe as leis da inércia que dão a base para a compreensão dos comportamentos estático e dinâmico dos corpos materiais, além de construir o primeiro telescópio refletor dando a ideia da teoria das cores que decompõe a luz branca em várias cores. 

Nikolas Tesla foi muitas vezes desmoralizado por meio de publicações que incitavam a população a desacreditar em suas inovações que, para a época, eram uma revolução que poucos entendiam. Com a sua loucura tivemos o primeiro uso prático da corrente alternada notada por meio do rádio com transmissão sem fio, em 1894, além do radar e da física nuclear e mais de 100 patentes registradas em seu nome.

Santos Dumont, brasileiro, nascido em Minas Gerais, imaginou poder voar em uma estrutura construída a partir de madeira, bambu, papel de seda e poucos metais. Quem imaginaria que esta loucura contribuiria para o desenvolvimento da aviação mundial?

Albert Einstein, o mais louco dos loucos, com sua teoria da relatividade, deixou a base do conhecimento para o entendimento atual de buracos negros, dobra espacial e viagens no tempo, além de sustentar estudos da energia nuclear e, consequentemente, a bomba atômica.

Vinton Cerf e Robert Kahn com a invenção do TPC/IP, um conjunto de regras e padrões que permitiram a unificação dos sistemas de internet, garantindo que nenhuma informação seria perdida e seria entregue na mesma ordem que estava sendo enviada. Tornou-se uma tecnologia mundialmente adotada.

Quem conhece Henry Ford, o idealizador de uma fábrica para popularizar o uso de um carro simples, barato e que fosse de fácil uso para qualquer pessoa? O louco que trocou o meio de transporte a cavalo pelo automotivo.

Louis Pasteur, cientista francês, avançou nas descobertas nas áreas da medicina, microbiologia e química. Com a sua loucura sabemos hoje que: as doenças são causadas por microrganismos e com isso podemos tratar os enfermos; descobriu o controle da raiva dos animais por meio do uso de uma vacina e assim evitar a transmissão do vírus, que é altamente contagioso para os humanos. Como pode Pauster ser considerado um louco se o conceito que ele nos trouxe da vacinação poderia imunizar pessoas para determinadas doenças, tornando a ação mundial mais importante nos dias de hoje?

Herbert Bartz, agricultor, o alemão louco, que revolucionou no início da década de 70 com toda sua insanidade, a utilização do sistema de plantio direto na agricultura brasileira. O amor à agricultura e, principalmente, à certeza de que aquilo não era loucura, fez com que Bartz persistisse mesmo com todos os contratempos e as indiferenças dos produtores. Décadas se passaram e, graças à "insanidade" do senhor Bartz e tantos outros “loucos”, é que o plantio na palha é adotado atualmente no Brasil em mais de 35 milhões de hectares, tornando-se o maior sistema conservacionista da agricultura.

Na década de 80, as áreas de cultivo se expandiram no Cerrado brasileiro, em especial a implantação das pastagens. Adubar pastagem naquela época era inimaginável, o que tornava a pecuária uma atividade extrativista, dando origem ao termo "degradação de pastagens". Uma das alternativas para a recuperação surgiu com o desenvolvimento do Sistema Barreirão, uma inovação que utiliza o consórcio de cultura produtoras de grãos com pastagens. O que para muitos era inaceitável, visto que, no meio rural, a atividade pecuária não poderia ser misturada com a atividade agrícola.  Com a contribuição da equipe da Embrapa Arroz e Feijão, em especial o Dr. João Klhuthcouski, por meio de conhecimentos científicos, foi possível afirmar que era imaginável implantar o consórcio de diferentes espécies sem que houvesse perdas por competição entre elas. Essa loucura deu origem ao desenvolvimento da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), um sistema disruptivo, em que a quebra de paradigmas trouxe para os dias de hoje a implantação desse sistema em mais de 15 milhões de hectares no Brasil.

Portanto, não se deve rotular aquelas pessoas inovadoras como “loucas ou insanas” por causa de suas descobertas e muito menos desmoralizá-las, desqualificá-las ou desacreditá-las, pois com os poucos exemplos mostrados aqui, grandes mudanças ocorreram, tornando-se grandes oportunidades de crescimento e melhoria para a qualidade de vida. A quebra de paradigmas advindas das novas inovações torna-se um fator primordial para o avanço da produtividade e da sustentabilidade dos sistemas agrícolas, por isso há necessidade dos produtores acreditarem que, embora as mudanças não sejam bem vistas para muitos, é importante para o enfrentamento das adversidades observadas mundialmente.

Inovação é assim: onde ninguém vê oportunidade, os considerados “loucos ou insanos” enxergam uma solução.