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Do tunel do tempo há 6 anos…

Fortaleza (Ce) – manhã de segunda feira 09 de maio de 1945

Já desde sábado as notícias que chegavam ás redações davam conta de que a segunda grande guerra caminhava para o seu desfecho. O diário “O Nordeste”, em sua edição de domingo, já publicara a matéria de capa, reportando as últimas notícias que chegavam do Velho Mundo, pela Western Telegraph e pela BBC de Londres, dando conta de que o conflito não mais resistiria além de domingo.No inícioda tarde daquele histórico domingo (8/5) a redação estava a postos, preparando já uma edição extra,que, efetivamente, circulou às 18:00 hr. . Jotavê, revisor, estava presente à redação. O relógio assinalava 14:40. O rádio sintonizava a Rádio Tupi do Rio de Janeiro em ondas curtas. De repente soou o prefixo musical do "Repórter Esso" e o locutor Heron Domingues anunciava: “Alô,Alô Repórter Esso… alô” – "O repórter Esso informa em edição extraordinária: A GUERRA ACABOU”. Em minutos os sinos da Igreja do Coração de Jesus, próxima à redação, soava festivamente e aos poucos toda Fortaleza era um só bimbalhar de sinos, uma comemoração festiva do fausto acontecimento. Automóveis circulavam soando suas buzinas. Uma esquadrilha da Força érea Norteamericana baseada em Fortaleza sobrevoava a cidade. Fortaleza estava em festas.

Para a noite daquele dia festivo foi programado um “Te Deum”, hino de ação de graças na Igreja do “Pequeno Grande” que funcionava como Catedral metropolitana. Nos dias que se seguiram, sempre à noite foram programadas reuniões festivas em comemoração à vitória.

Jotavê (J.V.Rodigues) que começara a trabalhar no jornal em 1944, aos 16 anos como aprendiz tipógrafo, já um ano depois era um dos revisores. Estudava à tarde e trabalhava no jornal das 19:00 às 22:00 horas. Na noite daquela segunda-feira 09 de maio de 1945 faltou um repórter para fazer a cobertura de uma manifestação a ter lugar no “Circulo Operário de Fortaleza”. Diante da preocupação do redator-chefe, Jotavê solicitou-lhe uma máquina fotográfica e o caderninho para as anotações taquigráficas. Surpreso, o redator pôs em dúvida a afoiteza do revisor. Mas Jotavê garantiu que dominava a taquigrafia e a câmera.

Embora um tanto relutante, o redator confiou no jovem de apenas 17 anos que assim via diante de si a perspectiva de iniciar a sua carreira jornalística. Ao retornar à redação com a matéria, ao invés de transcrever primeiro as notas taquigráficas para a lauda, como era a praxe, Jotavê dirigiu-se, ele mesmo à linotipo e linotipou a matéria diretamente das notas feitas durante a cobertura. A foto para ilustrar a matéria ficou por conta do departamento fotográfico.

do livro Memórias de um repórter de J.V.Rodrigues)

A primeira matéria jornalística assinada por Jotavê que circulou na edição de O Nordeste na manhã do dia 10 de maio de 1945, está reproduzida abaixo:

E… a guerra acabou…

Fortaleza em festas, comemora o fim da 2ª grande guerra. Às 20:30 de ontem o recinto do “ Teatro José de Alencar” era pequeno para receber a plateia que alí se reunia. Era a comemoração patrocinada pelo “Círculo Operário de Fortaleza” que congrega a classe trabalhadora fortaleziense.

À mesa que reunia as autoridades estavam presentes : O presidente do Círculo Operário Dr. Andrade Furtado, Mons. Otávio de Castro, vigário geral da Arquidiocese, representando sua Excia o Arcebispo D. Antonio de Almeida Lustoza, Pe. Thompson, capelão miliar da Base Aérea Norte-americana sediada em Fortaleza, o jornalista Audifax Mendes,representando o Sindicato dos Jornalistas do Ceará, o Gal. Onofre de Souza, comandante da 10ª Região Militar, o Alm. Lima, diretor da Escola de Aprendizes marinheiros.

Aberto os trabalhos pelo Dr. Andrade Furtado, após a execução do Hino Nacional pela banda de música da Força Pública e cantado pelos presentes, sucederam-se na tribuna: Mons. Otávio que teceu comentários sobre a atuação tanto do Vaticano, quanto do próprio Papa Pio XII, no sentido de preservar a Cidade Eterna dos bombardeios, bem como a proteção principalmente aos judeus perseguidos pelos nazistas e que receberam guarida no território do Vaticano.

Pe. Thompson falou sobre a atuação dos exércitos aliados no teatro da guerra, enaltecendo a participação dos “pracinhas” brasileiros comandados pelo Gal Mascarenhas de Moraes.

Audifax comentou a participação da imprensa brasileira que cobriu a guerra nos campos de batalha, em solo europeu, com destaque para o repórter Joel Silveira da revista “O Cruzeiro”

Franqueada a palavra, subiu à tribuna Francisco das Chagas, que, falando pelo Círculo Operário, teceu elogios ao destemor do soldado brasileiro no teatro da guerra, “escrevendo páginas de heroísmo que certamente farão parte da História do Brasil”, destacando-se entre eles os nordestinos. comandados pelo pelo cearense Coronel Castello Branco. Mencionou o “batismo de fogo” dos nossos pracinhas na tomada do “Monte Castello”,nos “Apeninos”, trincheira avançada dos alemães que não permita o avanço das tropas aliadas e que foi posta fora de combate por um grupo de apenas 6 nordestinos que surpreenderam a guarnição da trincheira com o uso de arma branca. Foi a primeira vitória brasileira no teatro da guerra.

Entremeando-se aos discursos o coral do Teatro José de Alencar entoou “Nós somos da pátria a guarda…” – canção do Exército, “Cisne Branco…” – canção da Marinha, e a canção americana “Good Bless America” (Deus salve a América..)

A sessão foi encerrada com a execução da “Canção do Expedicionário” pelo coral do Teatro sob os acordes da Banda da Força Pública.

J. V. Rodrigues.

O jornalista que há 68 anos publicava essa matéria, hoje, aos 85 anos de idade,ainda está firme no exercício da profissão. J. V. Rodrigues (na foto) está entre os 15 jornalistas brasileiros mas idosos ainda na ativa, é o mais idoso de Rondonópolis e muito provavelmente também do estado do Mato Grosso. Atua no jornal "Folha Regionl" e no site Regionalmt.com.br, é colabordor do site NOTICIAS DE MATO GRROSO,na coluna Sexagenária e colabora ainda com o site da Diocese de Rondonópolis.

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