O "novo normal" (e não estamos falando da Covid-19)

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Que a nossa taxa de juro, a famosa Selic, está em queda, todo investidor bem informado já sabe. E que uma das principais consequências dessa redução é a menor rentabilidade de muitos produtos em que estamos acostumados a investir também não é novidade. 

Recapitulando essa história. No fim de 2016 o Banco Central deu início ao ciclo de queda da Selic. Se naquele momento que tínhamos uma Selic de 14,25% ao ano era absolutamente impensável atingirmos o atual patamar de 2,25%%, agora é quase certo que devemos ter mais um corte na próxima reunião do COPOM (comitê responsável por decidir o futuro da Selic). 

Voltando ao que interessa. 

Até há pouco tempo, uma carteira de investimentos com performance de 140% do CDI era considerada muito boa, afinal de contas o CDI era alto. Aqui é fundamental saber que o CDI é sempre muito próximo da Selic. 

Por mais que tenham conhecimento que a taxa de juro está baixa, muitos investidores ainda não se deram conta que os antigos (e muito bons) 140% do CDI já não são mais o suficiente para proteger o poder de compra do patrimônio da corrosão da inflação. E aqui está o desafio: se adaptar e aceitar os novos tempos. 

Vamos fazer as contas com mais precisão. 

Hoje temos um CDI de cerca de 2,15% ao ano. Uma carteira de investimentos que teve performance de 140% do CDI, terá rentabilidade bruta de 3,01% ao ano. Vamos considerar uma alíquota de imposto de 15% sobre os rendimentos, o que dará uma rentabilidade final, já líquida de impostos, de 2,56% ao ano. 

Isso significa que os aparentemente bons 140% do CDI de performance trouxeram uma rentabilidade final de 2,5% ao ano. Agora temos que tirar a inflação e para isso podemos entrar em uma discussão sem fim de qual é a verdadeira inflação do nosso dia a dia. Para os investidores de classe média/classe média alta, é fácil perceber em nosso cotidiano que o reajuste dos preços das escolas, restaurantes, supermercados, academia, cabeleireiro e por aí vai é bem diferente do que aponta o principal índice de inflação brasileiro, o IPCA.  

O Banco Central trabalha com uma meta de IPCA de 4% ao ano para 2020, sendo que devido à pandemia, as projeções apontam para uma inflação menor até que 2% em 2020. Quem paga as contas da casa percebe que a realidade é bem diferente. Logo, se considerarmos um reajuste otimista de 4% ao ano em nosso custo de vida, um portfólio de investimentos que rendeu 2,5% foi insuficiente para impedir a corrosão do poder de compra da inflação. 

Portanto, quem não se atentar agora que os 140% do CDI já não servem para proteger o patrimônio, pode fazer essa descoberta tarde demais. 

Antes tínhamos uma taxa de juro alta, o que permitia investir em produtos de baixo risco, com retorno atrativo. Agora a realidade é outra. Ao menos nessa área, o Brasil está perto de se equiparar a países desenvolvidos nos quais para se ter retorno atrativo no longo prazo é necessário incorrer em risco. E para isso é fundamental saber como estruturar seus investimentos. 

É preciso aceitar essa nova realidade antes que seja tarde. 

Daniel Bonaldi, agente autônomo de investimentos e sócio da Vero Investimentos. A Vero é um escritório de assessoria de investimentos ligado à XP. Fundado em 2015, conta com mais de 800 clientes e assessora patrimônio de R$ 1.5 bi. Especializado na gestão de patrimônio de indivíduos e famílias de alta renda, a Vero foi indicado como Escritório Revelação de 2018, pela Brazil Advisor Awards.