O Brasil não está conseguindo escapar do pior efeito de uma retração econômica – o desemprego. Em janeiro, foram fechados 101,7 mil postos de trabalho com carteira assinada, segundo o Ministério do Trabalho. Foi o primeiro resultado negativo para um mês de janeiro desde 1999, quando o País afundou numa grave crise cambial. Em dezembro de 2008 haviam sido extintas 654 mil vagas. Todas as fontes de informação mostram um quadro muito desfavorável. Numa pesquisa restrita às seis maiores áreas metropolitanas e referente a empregos formais e informais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra a eliminação de 353 mil empregos no mês passado. Em um mês o desemprego subiu de 6,8% para 8,2% da população ativa nessas áreas, de acordo com o IBGE.
A situação poderá piorar nos próximos meses. A desocupação deverá crescer pelo menos até abril, disse o economista José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e chegar à faixa de 9,5% a 10% nas cidades cobertas pela pesquisa do IBGE. "Infelizmente", acrescentou, "estamos apenas no começo do desemprego." Outros economistas têm apresentado avaliação semelhante.
A redução da atividade econômica vem sendo causada tanto pela contração do consumo quanto pela queda dos investimentos e das exportações. No setor de máquinas e equipamentos, 7,8 mil trabalhadores foram dispensados desde outubro. As demissões poderão chegar em breve a 50 mil, segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos com os fabricantes. "Quando o faturamento recua 60%, como ocorreu no caso das máquinas-ferramentas, não há redução de jornada e salários que resolva a situação", disse o presidente da associação, Luiz Aubert Neto.
Indústrias fabricantes de máquinas e equipamentos e empresas dependentes de exportações estão entre as mais atingidas. As exportadoras vão sofrer de forma desproporcional, comentou na sexta-feira o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. A crise continua mais grave no exterior do que no Brasil e essas companhias são afetadas diretamente pela redução da demanda no mercado internacional. Todas as principais exportadoras brasileiras foram afetadas nos últimos meses, com diminuição de encomendas, maior competição e pressões para baixar os preços.
Uma dessas empresas é a Embraer, dependente do mercado externo para a maior parte de seu faturamento. No ano passado a empresa previa entregar 194 aviões e entregou 204. Para este ano a previsão era de 270, mas vários clientes pediram nos últimos meses o adiamento de entregas. O total previsto para o ano foi reduzido para 242. Na quinta-feira a empresa anunciou a dispensa de 4,2 mil trabalhadores. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com indignação, segundo relato do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, na saída do gabinete presidencial. O presidente, acrescentou, decidiu chamar o dirigente da empresa para cobrar-lhe esclarecimentos. De acordo com Arthur Henrique e outros sindicalistas, Lula considerou um absurdo a Embraer demitir funcionários depois de haver recebido financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Se foi essa a reação do presidente da República, ou ele não entendeu a situação ou decidiu simplesmente fazer uma encenação para efeito eleitoral. A Embraer não foi a primeira a reduzir os quadros. As outras grandes fabricantes de aviões – Boeing, Airbus e Bombardier – também perderam encomendas e anunciaram cortes.
Empréstimos do BNDES não dão ao governo o direito de ingerência nas decisões administrativas das empresas financiadas, exceto se houver condições explicitadas em contratos. Mas não há cláusula de preservação de empregos nos contratos com a Embraer, como informou o banco na sexta-feira. O presidente do BNDES já se havia pronunciado contra a adoção de condições desse tipo. Se o presidente Lula pretende sustentar o nível de emprego, pode fazê-lo reduzindo impostos com inteligência, eliminando obstáculos à exportação e desemperrando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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