O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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Sabemos que a infância há três décadas atrás era muito diferente dos dias de hoje, essa infância citada as crianças verdadeiramente brincavam de bola, de boneca, de caixa de sapato, de bolitas, figurinhas, tampas de panela, objetos que na época era acessível as famílias. Na verdade, quando não tínhamos o brinquedo inventávamos a brincadeira e isso era prazeroso e significativo. Nos dias de hoje, sabemos que enfrentamos grandes desafios, pois os meios de comunicação e a falta de tempo fazem com que as famílias a cada dia se distanciam dos pequenos sem tempo para brincar, criar e inovar.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), o brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.

Para Cunha (1994, p. 29), o brincar é uma característica primordial na vida das crianças, porque é bom, é gostoso e dá felicidade em todos esses momentos das brincadeiras. Além disso, ser feliz e estar mais predisposto a ser bondoso, a amar o próximo e a partilhar fraternalmente, são outros pontos positivos dessa prática só pode ser desenvolvida através do brincar.

A educação infantil abre portas para que as vivenciem em grupos nessa faixa etária tornem-se significativas no processo de aprendizagens futuras. A história da educação infantil é marcada por altos e baixos, seu surgimento se deu com a revolução industrial, esse movimento levou mulheres e mães para fora do lar, gerando a necessidade do surgimento das creches. Através das brincadeiras as crianças podem aprender sobre o mundo, desenvolvendo-se nos sete eixos mencionados no RCNEI.

A grande maioria das brincadeiras está associada ao desenvolvimento dos movimentos corporais, trabalhando as destrezas, habilidades, lateralidade. Muitas brincadeiras proporcionam o aprendizado das regras de convivência, dos conceitos matemáticos como noções de espaço e tempo, outras desenvolvem a linguagem e a autonomia, pois a criança precisa comunicar-se e expressar suas preferências para brincar, as brincadeiras com a música e as artes ativa a criatividade, outras brincadeiras ensinam as ciências. A criança através do brincar consegue expor suas emoções, se está feliz ou triste, cabe a nós educadores proporcionarmos momentos tão significativos na vida das nossas crianças, pois elas expressam e relatam a sua vida através das ações, jogos e brincadeiras, costumo dizer que o professor de Educação Infantil deve ser observador em todas as suas práticas.

Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imitar, imaginar, representar e comunicar de uma forma específica, brincar constitui-se uma atividade interna das crianças, elas também se tornam autoras dos seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem uma intervenção do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata.

Os jogos e brincadeiras são ferramentas importantes para o processo de construção e identidade, mas devem ser utilizadas de forma adequada como recursos pedagógicos poderão contribuir para o processo de aprendizagem das crianças na escola, especialmente na educação infantil, pois estes recursos neste contexto desperta o interesse da criança possibilitando assim, o seu desenvolvimento global de habilidades necessárias para processo educativo. A compreensão do lúdico na área escolar infantil não se realiza apenas como uma atividade recreativa, mas a partir do reconhecimento de seu potencial como recurso pedagógico para o processo de aprendizado. Portanto, é fundamental que os educadores da educação infantil entendam que, no brincar as crianças também aprendem e se desenvolvem.

 

1.1  Os objetivos da Educação Infantil segundo os RCNEIs, crianças de zero a cinco anos

 

            Na Educação Infantil é necessário um ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, é importante oferecer ações de autonomia para nossas crianças a partir da primeira infância, é necessário dar oportunidades para ações de intervenção dentro dos projetos na unidade. A criança quando damos autonomia ela amadurece, aprende com a professora e com os colegas. A instituição deve criar esse ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, garantindo oportunidades para que sejam capazes de:

 

Experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e agindo com progressiva autonomia;

Familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, conhecendo progressivamente seus limites, sua unidade e as sensações que ele produz;

Interessar-se progressivamente pelo cuidado com o próprio corpo, executando ações simples relacionadas à saúde e higiene;

Brincar; 

Relacionar-se progressivamente com mais crianças, com seus professores e com demais profissionais da instituição, demostrando suas necessidades e interesses. (RCNEI, 1998, p. 27).

 Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados, garantindo-se, ainda oportunidades para que as crianças sejam capazes de:

 

Ter uma imagem positiva de si, ampliando sua autoconfiança, identificando cada vez mais suas limitações e possibilidades, e agindo de acordo com elas;

Identificar e enfrentar situações de conflitos, utilizando seus recursos pessoais, respeitando as outras crianças e adultos e exigindo reciprocidade;

Brincar;

Valorizar ações de cooperação e solidariedade, desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração e compartilhando suas vivências; 

Identificar e compreender a sua pertinência aos diversos grupos dos quais participam, respeitando as suas regras básicas de convívio social e a diversidade que os compõe. (BRASIL, 1998)

 

 Esses objetivos são essenciais na educação infantil e muitas vezes observamos que não é respeitado, por falta de esclarecimento, falta de leituras, é importante entender que o mesmo garantiu oportunidades para o processo de construção do conhecimento. Paulo Freire já dizia: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Esses objetivos são importantes para enriquecimento da nossa prática e principalmente para as nossas crianças, é importante valorizar cada um deles mostrando nas ações planejadas as intervenções que os professores têm garantido no seu planejamento.  É necessário observar como as práticas na infância tem outra roupagem, através dos avanços significativos observamos o quanto à criança tem aprendido com seus pares ao brincar e construir as suas brincadeiras e brinquedos.

A brincadeira é a atividade principal da infância. Essa afirmativa se dá não apenas pela frequência de uso que as crianças fazem do brincar, mas principalmente pela influência que esta exerce no desenvolvimento infantil. Vygotsky (1991) ressalta que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem infantil. Elkonin (1998) e Leontiev (1994) ampliam esta teoria afirmando que durante a brincadeira ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico infantil. Para estes autores a brincadeira é o caminho de transição para níveis mais elevados de desenvolvimento.

A brincadeira, seja simbólica ou de regras, não tem apenas um caráter de diversão ou de passatempo. Pela brincadeira a criança, sem a intencionalidade, estimula uma série de aspectos que contribuem tanto para o desenvolvimento individual do ser quanto para o social. Primeiramente a brincadeira desenvolve os aspectos físicos e sensoriais. Os jogos sensoriais, de exercício e as atividades físicas que são promovidas pelas brincadeiras auxiliam a criança a desenvolver os aspectos referentes à percepção, habilidades motoras, força e resistência e até as questões referentes à termo regulação e controle de peso (SMITH, 1982).

O jogo ao ocorrer em situações sem pressão, em atmosfera de familiaridade, segurança emocional e ausência de tensão ou perigo proporciona condições para aprendizagem das normas sociais em situações de menor risco. A conduta lúdica oferece oportunidades para experimentar comportamento que, em situações normais, jamais seriam tentados pelo medo do erro ou punição. (KISHIMOTO, 1998, p. 140). A brincadeira também é uma rica fonte de comunicação, pois até mesmo na brincadeira solitária a criança, pelo faz de conta, imagina que está conversando com alguém ou com os seus próprios brinquedos. Com isso, a linguagem é desenvolvida com a ampliação do vocabulário e o exercício da pronúncia das palavras e frases. A cognição e o desenvolvimento intelectual são exercitados em jogos onde a criança possa testar principalmente a relação causa-efeito. Na vida real isto geralmente é impedido pelos adultos para evitar alguns desastres e acidentes. Entretanto, no jogo ela pode vivenciar estas situações e testar as mais variadas possibilidades de ações. Suas ações interferem claramente no resultado do jogo.

Outro fator positivo para o desenvolvimento é a utilização da brincadeira ou dos jogos entre pares de idades semelhantes. Para Isidro e Almeida (2003) é entre os jogos com pares semelhantes, seja na condição social ou cognitiva, que o desenvolvimento tem a sua expressão máxima.

Para o autor só poderemos compreender o desenvolvimento infantil observando o seu conjunto. Ao estratificá-lo em aspectos e estágios estamos comprometendo a visão das áreas potenciais de uma criança. E, no que se refere ao brincar, Melo e Valle (2005) afirmam que o brinquedo possibilita o desenvolvimento infantil em todas as dimensões, o que inclui a atividade física, a estimulação intelectual e a socialização. As autoras continuam indagando que a brincadeira promove a educação para hábitos da vida diária, enriquece a percepção, desperta interesses, satisfaz a necessidade afetiva e permite o domínio das ansiedades e angústias.

Além disso a brincadeira pode ser uma eficaz ferramenta a ser utilizada para estimular e promover a aprendizagem das crianças (CORDAZZO, 2003). Mesmo sendo complexo e talvez inviável pesquisar a brincadeira e o desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos, os pesquisadores devem ficar atentos à visão global e não parcial do desenvolvimento humano.

 

A partir das análises bibliográficas realizadas referentes ao tema deste artigo, conclui-se que durante a infância a criança se torna única a singular, aprende a brincar e ao aprender ela pensa, analisa sobre sua realidade, cultura e o meio em que está inserida, criando forma, conceitos, ideias, percepções e cada vez mais se socializa através de interações. Ao brincar a criança se desenvolve integralmente, passa a conhecer o mundo em que está inserida. Portanto, o brincar não é apenas uma questão de diversão, mas uma forma de educar, de construir e de se socializar.

O brincar faz parte do dia a dia das crianças, é necessário que o mesmo, nas instituições de educação infantil, seja repensado dada à importância que a brincadeira desempenha no desenvolvimento da criança. É fundamental que os momentos de brincar sejam planejados pelos professores. Mas primeiramente, os educadores devem reconhecer a importância que a brincadeira tem para as crianças pequenas.

A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas ampliando suas relações sociais, interações e formas de comunicação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras para expressar, podendo aprender nas trocas sociais com diferentes crianças e adultos. As brincadeiras são importantes nesse processo de construção pois ajudam as mesmas a memorizar melhor, aprender com os seus pares estabelecer combinados sobre os jogos e as brincadeiras além das mesmas serem direcionadas com eficiente e dedicação pelos professores. Durante a brincadeira, as crianças criam, recriam, inventam, fantasiam e todos esses momentos, precisam ser considerados pelo professor como promotor do desenvolvimento infantil, e não como uma simples brincadeira sem significado.

Portanto, por meio dos estudos realizados conclui-se que o brincar desenvolve na criança a capacidade de criar um mundo imaginário, criando, recriando e inventando. Para que isso aconteça, é necessário que o professor reconheça o seu papel ativo e mediador durante as brincadeiras, possibilitando assim, situações que envolvam aprendizagens significativas, pois nesse período, o brincar é considerado a principal atividade para a aquisição de conhecimentos, visando assim a aprendizagem e o desenvolvimento da criança.

 Luzinete Neves dos Santos , graduada em Pedagogia com pós graduação em educação infantil e letramento