O apocalipse no braço do ministro

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O ministro da economia veio expor seu plano para resolver as calamidades públicas das contas estatais, portando uma pulseirinha com uma frase do apocalipse. Bem apropriado para quem quer destruir tudo e sanar pouco.

É o fim do mundo as propostas do ministro. Talvez, uma destruição do Estado. Não mexe com deputados, senadores, juízes, procuradores, enfim nos gordos salários e nas infindáveis mordomias desses poderes, e nos altíssimos gastos com essas instituições, a começar pelos prédios faraônicos. Também não reduz os gastos com os militares, com salários altos e boas mordomias, além dos custos com material bélico sempre caríssimo, que a carreira acarreta para a sofrida população pagar: se estamos em paz há décadas e não há ameaças bélicas, para que aumentar esses custos, por que não o reduzir?

Naturalmente, além de não se dever invocar Deus em vão, segundo manda a norma cristã, carregando frases soltas penduradas pelo corpo, não seria mais apropriado vir com alguma coisa do Gênese? Mas, não! Ele quer destruir, acabar com tudo, mudar legislação, regras, enfim, cortar na educação, na saúde, na segurança, na infraestrutura, nas condições dos funcionários de carreira. E se diz um governo conservado…. como, se todo dia propõe mudanças na constituição?

E ainda que seja justo muitos dos cortes proposto pelo ministro, de fato são sinais enfraquecidos de quem não tem força de enfrentar esses poderes gastadores, o judiciário e o legislativo. Só quando enfrentarmos essas duas instituições que podem legislar em causa própria e decidir a seu favor em qualquer contenda, poderemos resolver os demais problemas. O mal exemplo para os funcionários do executivo vem de cima e dos lados, dos outros dois poderes. Mais do que decidir e legislar em causa própria, legislam e decidem contra todos nós. Garantem para eles correções salariais acima de todos e da inflação. Colocam no orçamento tudo que querem e o governo que vá enxugar apenas no executivo, e mesmo no executivo, mais no civil do que nos militares, e mais nos funcionários de carreira do que nos cargos políticos.

O legislativo e o judiciário quando cortam, cortam no atendimento ao público; nem regalias, nem passagens, nem diárias, nem nada dos privilégios que têm e mantém às custas de todos são limitados. Se consideram acima de todos e portadores de direitos extraordinários que lhes permitem desfrutar de tudo mesmo que os demais não tenham nem creche e nem posto de saúde, que custa menos que as diárias que cada juiz ou deputado torra todo ano.

E no executivo, dever-se-ia cortar nos passeios do presidente e dos ministros pelos país, indo de formatura em formatura, só de militares, gastando rios de dinheiros nesses deslocamentos, em passagens, diárias, seguranças, hospedagens. Cada ida do presidente a um estádio de futebol, coisa que faz toda semana, custa uns 300.000,00 a todos nós. Cada voo de ministro de helicópteros sobre catástrofes (para quê?), que são muitas, saí uma fortuna que deveria ser gasto com alguém competente para avaliar a desgraça de cima, coisa que nossos ministros pouco ou nada sabem.

Assim, chegaremos em breve num apocalipse – e pulseira será profética, pois se corta mais onde não deve e não enfrenta os grandes gargalos das dívidas estatais, que longe está de ser apenas o executivo o bicho papão, e nos funcionários púbicos de carreira, mas o mal começa nos cargos comissionados (que são milhares!), naqueles convocados politicamente, não por concurso e competência. O fato é que tais reformas são paliativas para um mal crônico que vem da monarquia, o uso privado e clientelístico do Estado guloso e extorsivo para a corriola política.

Só quando acabarmos com o privilégio desses poderes poderemos começar a cortar nas demais instâncias. Se quem deve dar exemplo dá maus exemplos, não se pode esperar que o resto da sociedade queira fazer sacrifícios para continuar a garantir os privilégios dos legisladores e do judiciário ou da presidência e seus ministros gastadores.

 

 ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT