Ganhou força, recentemente, a hipótese de que o vírus da herpes labial tem relação direta no desenvolvimento do Mal de Alzheimer, doença que atinge pacientes idosos. A hipótese tem sido apontada em estudos feitos na Inglaterra e em Taiwan. Os primeiros trabalhos sobre o assunto são do início dos anos 90, quando pesquisas mostraram a presença do vírus da herpes simples no cérebro – o mesmo que causa as bolhas e feridas nos lábios e na boca. Agora, com novos estudos, o assunto virou tema de discussões na área de saúde. Afinal, a conclusão é a de que pessoas com herpes têm mais chances de ter Alzheimer.
Em 1997, a equipe da cientista Ruth Itzhaki, professora de Neurobiologia Molecular da Universidade de Manchester, no Reino Unido, foi a primeira a mostrar a relação do vírus da herpes com a doença de Alzheimer. Uma curiosidade é que a relação do vírus da herpes com o Alzheimer mostra muito do funcionamento e da fisiologia do corpo humano. O vírus da herpes mora dentro dos neurônios. Ele só consegue sair e causar as bolhas e feridas na pele ou em mucosas da pessoa quando o sistema imunológico fica fragilizado. Isso é bem clássico da doença. Por isso, geralmente, os sinais e sintomas da herpes aparecem depois que a pessoa passou por algum episódio de estresse ou teve um resfriado. Essas condições mostram que o sistema de defesa do corpo esteve enfraquecido. Assim, o vírus consegue sair de dentro do neurônio e infectar e destruir as células da pele causando as lesões.
Isso ajuda a explicar porque o Alzheimer, a forma de demência mais comum, acontece em idosos.
A doença fica cada vez mais grave com o passar dos anos. Como é bem conhecido, quanto mais idade tem a pessoa, mais deficiente é o seu sistema imune. Isso permite que o vírus multiplique com mais facilidade e deixe exuberantes os danos no cérebro. Nesse caso, favorecendo o acúmulo da substância chamada amiloide em forma de placas. As funções cerebrais ficam cada vez mais danificadas e aumenta o quadro de demência, que é a perda progressiva da capacidade de se relacionar socialmente – característica do Alzheimer.
A relação entre as doenças deixa muita gente preocupada. Isso porque grande maioria da população é infectada pelo vírus da herpes simples ou HSV1. A incidência da infecção desse vírus é tão alta que, em alguns países, estudos mostram que essa taxa chega muito próxima de 100% da população. Inclusive, em muitas pessoas, o vírus não provoca manifestações clínicas. Isso significa que a pessoa é infectada, mas não sabe que tem a herpes simples. Nesse caso, não há nenhum sinal ou sintoma da doença.
Por outro lado, a boa notícia é que o tratamento com remédios para combater o vírus da herpes podem também auxiliar no tratamento da doença de Alzheimer. Os estudos dos pesquisadores de Taiwan mostram que quem usa esses antivirais tem cerca de 10 vezes menos chances de desenvolver a doença de Alzheimer. Isso sem falar que esses remédios já são usados rotineiramente por quem tem herpes, o que facilitaria no tratamento da doença de Alzheimer.
ARLINDO ABURAD é dentista, patologista bucal do LPB – Laboratório de Patologia Bucal e Maxilofacial e do Hospital de Câncer de Mato Grosso, especialista e doutor em Patologia Bucal pela USP-SP.