Mato Grosso não tem nenhum parlamentar negro e Rondonópolis nunca teve um prefeito afrodescendente

Apesar de 62% da população mato-grossense ser considerada negra, esta maioria não se reflete na política. Na Assembleia Legislativa não há nenhum representante do movimento negro no Estado e a situação se repete entre os deputados federais e senadores. Esta dificuldade da inserção dos negros no cenário político é reflexo de anos de desigualdade racial e de um “racismo invisível” existente no país, na visão de especialistas. Rondonópolis, por exemplo, jamais deu espaço para um afrodescendente chefiar o Executivo.
A realidade bate de frente com a triste desigualdade ainda existente na sociedade brasileira, que fomentou inclusive a instituição nacional do Dia da Consciência Negra, que virou feriado a partir do ano de 2000, para a data de 20 de novembro, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, ocorrido em 1695. Atualmente, 14 anos depois ainda se vê questionamentos acerca da data.
O presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Carlos Alberto Caetano, aponta para a existência do racismo institucional, além da falta de maturidade dos partidos para se promover negros no cenário. As dificuldades não são apenas na política, mas na vida profissional ocorre o mesmo. Caetano relata que para um negro se promover, ocupar cargos de primeiro escalão ou obter salários maiores ele precisa de muito mais esforço e provar, diariamente, a sua capacidade técnica.
“É preciso que a população negra construa sua identidade política e tem que enfrentar o preconceito da sociedade. O racismo é uma bandeira que causa constrangimento social, pois existe a negação da existência do preconceito. Apesar de todas as políticas já criadas para garantir a igualdade racial, o preconceito está na sociedade. Existe ainda o racismo institucional que impede que nós tenhamos o mesmo ingresso que outros na política. Isto só demonstra como a sociedade ainda é racista e é um racismo invísivel, que as pessoas negam”, afirmou.
Na política, Caetano aponta falha no processo de disputa como o fato de as campanhas saírem com custo elevado. É um círculo vicioso, porque se o negro encontra dificuldade em alcançar empregos com altos salários automaticamente ele não possui a mesma capacidade financeira de outros políticos. “Esta é uma herança antiga da falta de acesso aos cargos com melhor remuneração e isso, ao mesmo tempo, reduz nossas chances de crescer na política e na vida profissional”, contextualizou.
Na visão de Caetano e de todo movimento negro, apesar de anos de embates e de conquistas importantes como a questão das cotas, os avanços ainda são poucos justamente pela falta de representatividade parlamentar, pois acaba que leis que poderiam ajudar a população negra ficam “empacadas” no Congresso ou nas Assembleias.
No Executivo a mesma coisa
Na atual gestão municipal de Cuiabá, pouquíssimos são os negros com cargo de destaque e no primeiro escalão talvez o único cargo exercido por negro seja o de secretário de comunicação, ocupado pelo jornalista Kléber Lima. A última administração da capital que teve maior participação de afrodescendentes foi a do tucano Wilson Santos, que na primeira gestão teve a vice-prefeita Jacy Proença, e ainda Aurélio Augusto como secretário de Esportes. Além disso, foi criada, na época, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, e atualmente funciona apenas como coordenadoria, mas mal representada, na avaliação de Caetano. Em Rondonópolis, segunda economia mais forte do estado e maior da região sul, nunca houve um prefeito negro em seus 61 anos de existência.
Da Redação com Diário de Cuiabá