Na era digital, o ‘like’ é tudo?

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Vivemos um tempo em que a realidade é superexposta nas redes sociais. Publica-se tudo, a todo momento! E não é incomum que um vídeo postado termine com um pedido de curtida; na verdade, essa é quase a regra. Quanto mais likes e quanto mais seguidores, melhor! É neste contexto que surgem as webcelebridades, pessoas que conquistam um grande alcance de público e exercem grande influência sobre os seus seguidores.

No entanto, há determinadas situações em que o mundo virtual se choca com o mundo real. A onipresença da internet e a exposição diuturna dos influenciadores digitais provocam mudanças inclusive na forma de comunicação profissional – e o número de curtidas ou seguidores se tornam, equivocadamente, uma referência de qualidade.

Afinal, se determinado profissional tem mais de meio milhão de seguidores, não seria ele um bom engenheiro, médico, advogado ou cirurgião-dentista? A resposta é categórica: não! Número de curtidas ou quantidade de seguidores não assegura a qualidade profissional.

Há poucos meses, vivenciamos uma trágica situação que envolveu um suposto cirurgião plástico e uma paciente que, posteriormente, se tornou vítima do médico. O caso do “Doutor Bumbum”, além de ter comprovado que a assiduidade nas redes sociais não é sinônimo de profissionalismo, suscitou o debate a respeito da ética profissional na sociedade civil.

Todas as profissões, formais ou não, seguem preceitos morais. Especificamente na área da saúde, as profissões voltadas ao cuidado do indivíduo e da sociedade trazem a ética como um de seus mais importantes pilares. Tomemos como exemplo a área da odontologia.

Segundo o Código de Ética Odontológica, cabe ao cirurgião-dentista manter atualizados os conhecimentos técnico-científicos e culturais para o pleno exercício da profissão, zelar pela saúde e pela dignidade do paciente e resguardar o sigilo profissional. Também cabe ao profissional manter um comportamento digno e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da odontologia, pelo prestígio e bom conceito da profissão.

O artigo ainda considera como infração o ato de fazer publicidade e propaganda enganosa, abusiva, inclusive expressões ou imagens de antes e depois, preços, gratuidade ou outras formas que impliquem a comercialização da odontologia. Para além do Código, a lei federal nº 5.081, que regula a profissão do cirurgião-dentista, proíbe expor em público os trabalhos odontológicos e usar os artifícios da propaganda como forma de granjear clientela.

Ainda assim, na mesma velocidade em que a foto de um resultado bonito viraliza nas redes sociais, cresce o número das vítimas de profissionais mal intencionados. A sociedade precisa compreender que nem sempre uma foto bonita é prova de que o trabalho está sendo corretamente desempenhado. Isto é, se um profissional da saúde divulgou a foto de um resultado, ele já está errado, por mais convincente que seja aquela imagem.

Em 2017, o Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso (CRO-MT) recebeu mais de 100 denúncias por publicidade irregular com imagens de “antes e depois”. Na constatação da irregularidade, foram abertos processos disciplinares ou assinados termos de ajustamento de conduta.

Com a missão de esclarecer não apenas a sociedade, mas também a classe profissional, o CRO-MT realiza a capacitação de acadêmicos de odontologia e cirurgiões-dentistas de todo o estado. A questão moral é, inclusive, amplamente discutida pelo presidente da Comissão de Ética e pelo assessor jurídico da autarquia.

Ao desempenhar a função de fiscalizar e esclarecer, o Conselho mune e blinda a população com informações fundamentais. Assim, esperamos que sociedade dê um menor peso à visibilidade digital e entenda que, antes de qualquer coisa, é preciso checar a formação, especialidade e regularidade dos profissionais. Mesmo numa era em que a popularidade nas redes é ovacionada, acreditem, likes não dizem muita coisa.