A presidenta Dilma Rousseff sofreu na pele as atrocidades do regime ditatorial ao defender suas ideologias. Integrante da resistência armada, Dilma foi presa, torturada, mas sobreviveu para contar a história – e, feito igualmente celebrável, tornou-se a primeira mulher a chefiar o Executivo. A via crucis de Dilma é memória comum a duas senhoras que, se não enveredaram pela política, fizeram da educação e dos direitos humanos a arma para defender suas convicções e amenizar os efeitos do arbítrio.
A educadora Maria Ruth Barreto Cavalcante e a militante feminista Maria Liége Santos Rocha também padeceram nos porões da ditadura. Mas, fiéis aos seus propósitos, as duas Marias seguiram suas trajetórias e se destacaram em suas áreas. Até serem laureadas com o Diploma Bertha Lutz na homenagem do Dia Internacional da Mulher (8 de março), antecipada pelo Senado em razão dos festejos de carnaval.
O plenário do Senado estava adequadamente florido para recebê-las, na manhã da última terça-feira (1º). Acomodadas nas poltronas azuis, outras quatro mulheres receberam a honraria – a psicopedagoga Chloris Casagrande Justen; a empreendedora social Maria José Silva; a advogada Ana Maria Pacheco Vasconcelos (in memorian); e a líder sindical Carmen Helena Ferreira Foro. Na solenidade, mulheres de igual valor ocupavam o espaço que, nos dias de sessão movimentada, chega a reunir as 12 senadoras desta legislatura.
Para reforçar as homenagens do Dia Internacional da Mulher, o Congresso em Foco entrevistou Maria Ruth e Maria Liége, nobres representantes da nação de quase cem milhões de mulheres brasileiras. E, logo nas primeiras palavras da primeira, tem-se ideia de como as forças repressoras do século passado eram arbitrárias: ela foi presa em pleno exercício de lecionar, apenas por “ensinar a pensar”. Ou, nas palavras dos militares, por “ensinar um método de alfabetização que levava o cidadão a pensar, ler e escrever”.
“É um impacto muito sério você se sentir cerceada na sua liberdade. Mas eu entrei lá com a decisão de que eu sairia de qualquer forma da prisão”, diz Maria Ruth, que dava aula para enfermeiras em um hospital, onde ficou detida. “A minha história com o prêmio [Bertha Lutz] é a defesa dos direitos humanos, defesa intransigente em relação à vida, é uma concepção até mais ampla que o feminismo. É uma concepção de defender a vida.”
O cárcere também causou sérios danos a Maria Liége – que, depois de ter sido presa, teve de militar na clandestinidade por seis anos. Membro da Federação Democrática Internacional de Mulheres, a ativista feminina diz que foi vigiada por décadas por órgãos de inteligência e repressão, como a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
“Participei do Congresso de Ibiúna [congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes, que acabou com mil pessoas presas] em 1968 e, em decorrência disso, fui presa em 1969 por participar de uma passeata. Eu era uma pessoa vigiada pela Polícia Federal”, recorda, resumindo em uma frase o que restou da experiência. “A principal lição é que todos nós temos o direito de sermos livres.”
Fonte:Congresso em foco