MUITO ALÉM DA LACRAÇÃO E DAS MITADAS

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Todos já devem ter assistido ao filme “Até o último homem (2017)”, que narra de forma fascinante a história emocionante de Desmond Doss. Se você, amigo leitor, ainda não assistiu essa película, dê seus pulos.

Noves fora zero, o protagonista da história é um rapaz, Testemunha de Jeová, que queria lutar na Segunda Guerra Mundial sem portar uma arma, pois ele não queria ir contra o Decálogo do Senhor. Mas então porque ele queria ir para a frente de batalha? Porque é o dever de todo homem decente lutar para defender os seus, seja com um fuzil em mãos, ou com as mãos desnudas.

Atualmente, é muito comum ouvirmos pessoas de alma em decomposição, dizendo que um soldado é treinado para matar e blábláblá. Nada disso. Um soldado é treinado para – se preciso for – sacrificar a sua própria vida pelos seus e pela sua terra natal. E essa regra vale para todos os soldados, pouco importando a bandeira pela qual eles sangrem.

Sobre isso, lembro aqui de uma passagem relatada, através de uma carta, de um combatente da Primeira Guerra Mundial – da guerra que colocaria fim em todas as guerras – onde o mesmo dizia que toda a manhã, antes dele ir para a formação, fazia uma prece, uma pequenina jaculatória, onde sussurrava, após um profundo suspiro: “descanse em paz”.

“Descanse em paz”. Tal qual um sacerdote, que veste a batina negra como sinal de que ele está morto para o mundo, sacrificando-se para Deus, um soldado, pelejando no vale da sombra da morte, está entregando a sua vida em sacrifício para preservar a vida dos seus concidadãos.

Desmond entendia isso e, por essa razão, ele sabia que não poderia ficar de braços cruzados enquanto outros homens, sãos de lombo como ele, estavam sangrando em algum canto do mundo, sabe Deus onde, para defender o seu país.

Outro ponto que, penso eu, seria de fundamental importância destacarmos nesse filme, é que o nosso bravo amigo Desmond Doss apenas pode ir para o fronte de batalha sem uma arma em mãos porque todos os seus colegas estavam portando uma e utilizando-a com garra e destemor.

Se todos os irmãos de armas dele estivessem desarmados, seguindo o seu exemplo, ele não poderia estar lá, nem fazer o que ele fez e, creio eu, ele sabia muito bem disso e agradecia a Deus que eles estivessem lá, armados, ao seu lado, ombro a ombro, pelejando.

O curioso nisso tudo é vermos pessoas na atualidade pregando o pacifismo e o desarmamentismo a qualquer custo estando, é claro, seguros em suas residências, muitas vezes, num condomínio fechado com seguranças e tudo mais, ignorando, que muitos estão dispondo-se a sujar suas mãos para que eles possam, limpinhos e cheirosos, lacrar nas redes sociais com aquela velha e surrada imagem imaculada de papel machê.

Por fim, o momento mais elevado do filme, ao meu ver, é quando os soldados japoneses aparentemente se renderam e, faceiros, os soldados americanos, baixaram a guarda, imaginando que aquele inferno já havia terminado. Aí, do nada, um dos combatentes nipônicos joga uma granada sobre eles. E é nesse momento que a porca torce o rabo.

O senhor Doss não tinha armas em mãos porque ele não queria matar, porém, naquele instante, com suas mãos desnudas, teve que tomar uma decisão: devolver ou não a granada lançada pelos japoneses? Matar ou não matar? Nesse instante, imagino que ele compreendeu que a questão não era essa. A pergunta correta a ser feita era: devo ou não salvar a vida dos meus irmãos de armas? Devo ou não devo? Sem pensar muito, ele colocou-se entre os seus irmãos de batalha e seus adversários e desferiu um chute para devolver a granada, matando os soldados inimigos, ferindo gravemente a sua perna, mas, acima de tudo, salvando a vida dos seus.

Ele matou não porque estava com raiva, nem agiu porque estava motivado por um ódio irracional. Não. Ele fez o que deveria ser feito para salvar a vida dos seus amigos, da mesma forma que seus amigos, que estavam com armas em punho, fariam por ele; da mesma maneira que os soldados japoneses estavam fazendo o que podiam pelos seus irmãos de combate, pois, como nos ensina G. K. Chesterton, um soldado não luta contra outro soldado, que está diante dele, porque o odeia, mas sim, porque ele ama todos aqueles que estão ao seu lado e atrás dele. Se ele não os amasse, não haveria razão para estar às portas do inferno.

Enfim, qualquer um que compare rinhas de lacradas e mitadas nas redes sociais com uma batalha campal, francamente, não sabe o que está fazendo. Não sabe o que significa arriscar a própria vida por pessoas que, muitas vezes, são incapazes de expressar um mínimo de gratidão.

Por isso, todo soldado caído em batalha merece nosso respeito. Por isso, todo aquele que diz, com toda aquela soberba politicamente correta, que um soldado seria um sujeito treinado para matar, merece o nosso mais profundo desprezo.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela