“A busca pela audiência ultrapassa as fronteiras da ética, do bom senso e até dos direitos humanos faz é tempo, enquanto isso os tais defensores destes direitos estão preocupados em defender os criminosos que põe em risco a vida das pessoas e abandonam uma jovem, que apesar de ter cometido um crime não é uma criminosa, por mais estranho que pareça dizer isto“
A menina gaúcha Patrícia Moreira, focada pelas lentes da ESPN chamando o goleiro Aranha, do Santos Futebol Clube, de macaco, em jogo válido pela Copa do Brasil entre o time da Vila Belmiro e o Grêmio, acabou por resumir em cima da moça uma discussão extremamente complexa de uma mancha social inerente a várias nações do mundo, entre elas a brasileira: o racismo. Ocorre que o erro de Patrícia é evidente, claro e notório, mas a hipocrisia feita em cima da garota e o sensacionalismo exacerbado criado pelos principais veículos de comunicação do Brasil está colocando a gaúcha praticamente em um julgamento popular, onde as pessoas literalmente têm a chance de tacar pedras, assim como já foi feito na residência da família da moça.
Nas últimas semanas, Patrícia deve ter dado umas 30 entrevistas tentando explicar o inexplicável: um erro em um estádio de futebol, ambiente muito diferente de um teatro, por exemplo, onde seu time perdia e ela comprovadamente passou dos limites. A situação é tão ridícula que quando ela diz que não é racista, mesmo tendo sido gravada dizendo o contrário, dá para acreditar nela, ou por acaso todo mundo que xinga um juiz de filho da p… realmente acha que a mãe daquele profissional é uma senhora do baixo meretrício? Óbvio que um estádio não é um lugar sem lei, onde qualquer pessoa pode fazer o que quiser que estará isenta de qualquer julgamento, o que se comenta aqui são os exageros e pressões sofridas por uma jovem que nem mesmo assassinos de pais de família sofreram.
A busca pela audiência ultrapassa as fronteiras da ética, do bom senso e até dos direitos humanos faz é tempo, enquanto isso os tais defensores destes direitos estão preocupados em defender os criminosos que põe em risco a vida das pessoas e abandonam uma jovem, que apesar de ter cometido um crime não é uma criminosa, por mais estranho que pareça dizer isto. Ela já perdeu o emprego, não pode sair nas ruas, deve ter chorado todo o estoque de lágrimas que tinha para os próximos 30 anos, mas tudo parece que ainda é pouco. Destinam um programa inteiro em rede nacional, na emissora que tem mais audiência, para que a gremista fique defendendo que tem amigos negros, que admira negros, como se isto não fosse óbvio em uma nação onde os afrodescentes são maioria.
Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, é criticado por muitas das suas declarações, mas disse algo a ser refletido nesta semana. Na contramão da maré, o eterno camisa 10 criticou Aranha e falou que o goleiro do Santos deveria ter agido naturalmente, ao invés de quase querer ter ido brigar com os torcedores. Pelé chegou dizer: "Se eu fosse parar um jogo cada vez que me chamassem de macaco e crioulo, todo o jogo tinha que parar". O ex-jogador completou: "O torcedor, dentro da sua animosidade, grita mesmo. A gente tem que coibir o racismo, mas não é dessa forma.", analisou o atleta do século.
A declaração do rei é polêmica, mas faz sentido. A partir do momento que você trás a tona da maneira que foi feito no caso de Porto Alegre, o racismo é evidenciado e talvez o prejuízo seja ainda maior. A própria Fifa, quando detentora dos direitos de imagens de uma partida, não gera para os telespectadores atos como este ou mesmo invasões de campo, porque acredita que isto incentivará outros ‘revoltados’. Madre Teresa de Calcutá não participava de uma caminhada antiguerra e sim de movimentos pró-paz. Quando uma nova modalidade de crime surge na TV ele aumenta em incidência em todo o território nacional em quase 50%, obviamente porque outros infratores são motivados a fazer igual.
O racismo é um mal terrível e inexplicável da sociedade brasileira, mas que tem de ser tratado com inteligência. Ele não será destruído do convívio social de uma hora para outra, talvez virão várias gerações para que isso se amenize. Talvez seja necessário que as leis se tornem ainda mais rigorosas para quem destrate alguém por sua cor de pele, assim como precisa-se de legislação mais rígida e atualizada para quase todos os outros tipos de crime. Mas uma coisa é certa: enquanto os meios de comunicação, especialmente a TV, continuar atuando em desserviço da população as coisas vão demorar ainda mais para melhorar.
Da Redação