Medo e Democracia

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A primeira semana de tópicos populares de discussão, no segundo turno, envolveu um conjunto de assuntos mais afeitos à idade média do que ao século 21. Apesar de abjeto, este assunto interessa-me, em virtude de ilustrar estratégias que ensejam riscos institucionais relevantes. Refiro-me ao fato de que as narrativas propaladas nas mídias sociais são articulações cognitivas que atuam em certos mecanismos neurológicos do ser humano, objetivando a produção de pânico coletivo.

Destaque-se o papel do sistema límbico, especialmente as amígdalas cerebrais, de gerir a resposta humana frente às situações de perigo, reais ou imaginárias. Quando alguma notícia ou imagem desperta a produção de adrenalina, cortisol e noradrenalina pelo cérebro, o indivíduo tem a sua habilidade de discernimento reduzida, em benefício da opção de fuga, paralisia ou combate. Essas respostas são heranças evolucionárias da vida na natureza, adaptadas às condições da espécie humana, no seu nascedouro. O córtex cerebral, responsável pelo raciocínio analítico, fica embotado para induzir a resposta instintiva produzida pelas amígdalas, em virtude do stress mental.

O que isso tem relação com a política? Tudo. A estratégia de incutir medo nos eleitores, via mensagens eletrônicas e mídias sociais, tem o propósito de aumentar o potencial de votos oriundos do comportamento de pânico, desprovidos de análise crítica da realidade. Favorece a decisão eleitoral por candidatos que transmitem uma mensagem de ataque a um perigo inexistente, oriundo de estímulos que ativam respostas ilógicas, baseadas em instintos básicos da existência biológica, tais como, violência, sexualidade e necessidades fisiológicas.    

O caminho para se enfrentar esta estratégia de medo deve ser pautado, também, no funcionamento neurológico, acalmando-se o sistema límbico, mediante mensagens de relaxamento, tranquilidade e pensamentos positivos. Ou seja, não se supera o medo com mais medo. Superara-se via a racionalidade de propostas factíveis e atrativas, ou seja, a ativa construção de uma esperança realista.

Há motivos para se acreditar em um futuro melhor para o Brasil? Sim, há bases críveis que precisam ser aprofundadas e fortalecidas via políticas públicas. A sociedade brasileira pode entrar em uma fase positiva. Há consenso de que políticas distributivas e flexibilização fiscal são necessárias, no curto prazo. Em síntese, a política econômica deve reforçar a transferência de renda e gerar empregos.

Por sua vez, a conjuntura internacional, apesar das incertezas, está reforçando o ciclo altista de commodities agrícolas e minerais, favorecendo as contas externas e facilitando o crescimento interno. A famosa "restrição externa", caracterizada pela dificuldade de se arcar com os encargos em dólares das importações e a dívida externa, tornou-se coisa do passado. As contas fiscais, por sua vez, com o crescimento econômico, e um plano previsível de investimentos públicos, apresentam condições de reduzir as incertezas do mercado financeiro.

O surto de inflação, como já sabido, transitório, pois oriundo do câmbio em alta, consequência da conjuntura geopolítica internacional e das incertezas institucionais, desencadeadas pelas disputas descabidas do Executivo sobre o Judiciário. As mudanças climáticas, por fim, podem gerar muitas oportunidades para o Brasil. Portanto, não há espaço para decisões baseadas em pânico, oriundas de “fantasmas” irreais. O fruto de um período de estabilidade institucional e prosperidade está maduro; basta enfrentarmos o medo com a esperança.