A pesquisa XP/Ipespe divulgada ontem (20), que mostra a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial, inclui uma avaliação sobre a tese da privatização da Petrobras. Na semana passada, o recém-empossado ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, pediu a inclusão da estatal no programa de desestatização do governo. Segundo o Ipespe, 49% da população se diz contra a privatização da empresa, enquanto 38% é favorável. Para 44% dos entrevistados, os preços dos combustíveis aumentariam mais com a privatização. Enquanto para 19% diminuiriam e 26% acham que ficaria igual.
No entanto, a pesquisa – contratada pela XP Investimentos – faz uma pergunta capciosa aos entrevistados: “Caso a privatização da Petrobras leve à diminuição dos preços de combustíveis, o(a) sr(a) seria a favor ou contra a sua privatização?” Nesse caso, 67% seriam favoráveis à desestatização, ante 27% contra e 7% que não sabem ou não responderam.
É curioso observar que tal questionamento da pesquisa Ipespe é a principal tese do governo neoliberal de Jair Bolsonaro para justificar qualquer privatização. Como no caso da Eletrobras, sob o argumento de que as tarifas, sob a iniciativa privada, vão diminuir, quando vai acontecer exatamente o contrário.
“Essa é uma falácia que o governo Bolsonaro tem usado”, diz o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, à RBA. Ele lembra que, na Bahia, a refinaria Landulpho Alves (Rlam) foi vendida (em 2021) para um fundo dos Emirados Árabes justamente “com essa mentira”. Após a venda, o complexo se chama Refinaria Mataripe.
“A diretoria da Petrobras foi à TV Bahia, retransmissora da Globo, dizendo que iam vender para aumentar a concorrência e o preço baixar. Aconteceu o contrário. Os preços subiram e são maiores do que todas as refinarias do Brasil. Mas a população da Bahia sabe que é mentira e que paga gasolina, diesel, gás de cozinha mais caro do que em todo o país”, lembra o dirigente. A gasolina vendida pela Mataripe – antiga Rlam – custa 27,4% a mais, na comparação com os preços praticados pela Petrobras.
A questão sugerida pelo Ipespe é a tese do governo, mas, para o coordenador da FUP, no caso da Petrobras, não vai acontecer. “O blefe do Bolsonaro é para atrair investidores que sempre estão do lado das privatizações no Brasil. Mas isso só materializa se ele ganhar a eleição de novo. Se ganhar um governo mais popular, como Lula, isso não acontece de forma alguma.”
Em 2022, não há tempo hábil para uma operação de tamanha magnitude, que tem, inclusive, que passar pelo Congresso. “Mas, se tiverem a ousadia de tentar, como temos dito, eles enfrentarão a maior greve da história da categoria petroleira, com apoio da sociedade, porque vai ser contra a privatização da Petrobras, a favor de uma empresa que sirva ao povo e preços justos para população”, promete Bacelar.
RESPONSABILIDADE
A pesquisa Ipespe questionou os entrevistados sobre a responsabilidade pelo aumento do preço dos combustíveis. Para 64% dos eleitores, a Petrobras é a maior responsável pelas altas recentes. Ou seja, a forma como os meios de comunicação – também favoráveis à privatização – aborda o tema ajuda o governo, ao descolar dele a política de preços.
Depois, aparece Bolsonaro, que tem muita responsabilidade para 45%, seguido por governadores e a guerra na Ucrânia, com 40%. Os governos Lula e Dilma são os maiores culpados para 37% e o Supremo Tribunal Federal, para 32%.
Da Redação (com RBA)