“O racismo tem uma tecnologia sofisticada, que se reinventa a todo tempo. Combatê-lo exige inteligência, esforço e atenção constante.” A afirmação é do juiz Fábio Francisco Esteves um dos maiores especialistas no combate ao racismo institucional, que esteve em Rondonópolis nesta quinta-feira (20) à convite da subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil e participou de várias atividades no município.
Fábio Esteves é membro do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e atua como juiz instrutor no gabinete do Ministro do STF, Edson Fachin. Ele também integra a Comissão de Juristas da Câmara dos Deputados e a Comissão para Promoção da Igualdade Racial no Processo Eleitoral, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Durante a visita ele se reuniu com membros da OAB, participou de um encontro na Universidade Federal de Rondonópolis e, durante a noite, ministrou uma palestra no auditório do Tribunal de Júri da Comarca sobre as ‘Cotas Raciais nas Eleições Atuais’.
O juiz destacou os avanços obtidos na legislação antirracismo no Brasil, mas afirmou que falta muito ainda para a construção de um cenário de igualdade. Ele citou como exemplo dados do último censo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, mostrando que apenas 12,8% dos magistrados brasileiros são negros ou pardos.
“Estima-se que, no ritmo atual, a gente leve cerca de 38 anos para que o total de juízes negros e pardos alcance um percentual próximo ao da composição da população brasileira. Esse período pode ser maior ou menor, dependendo da nossa atuação”, avalia.
MOROU EM PEDRA PRETA
O juiz Fábio Esteves entrou na magistratura no ano de 2007, quando tinha 27 anos, e se destacou pelo combate ao chamado ‘racismo institucional’. Hoje ele é considerado uma referência nesse tema no país e no mundo e, entre outras coisas, se destaca por manter a lealdade às suas origens – que inclusive tem relações com a nossa região.
Nas entrevistas e palestras ele faz questão de falar sobre as dificuldades na infância e os obstáculos superados para realizar o sonho de tornar-se juiz. Filho de um trabalhador rural analfabeto e a de uma dona de casa, foi o primeiro da família a cursar o ensino superior.
Ele nasceu no município de Chapadão do Sul (MS) e conta que a família chegou a morar em Pedra Preta – município que já foi distrito de Rondonópolis. “Tenho muitas lembranças desse tempo”, diz ele.
Ex-presidente da Associação dos Magistrados do Distrito Federal, nos biênios de 2016-2018 e 2018-2020, Fábio Esteves participa das principais discussões visando a elaboração de leis e normas contra as desigualdades no país.
Ele foi também um dos idealizadores do Encontro e o Fórum Nacional de Juízes e Juízas Negros, iniciativa que lhe rendeu o prêmio ‘Desafio Lideranças Públicas Negras’ – realizado em parceria pelo Instituto Arapyaú, da Humanize, da Fundação Lemann e da República.org, com execução da Catálise Social.
Eduardo Ramos – Da Redação