Lula busca ampliar laços com o Japão enquanto Brasil tenta escapar de nova tensão comercial com os EUA

Em meio a um cenário global de crescente protecionismo e tensões comerciais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou no Japão para uma visita de Estado que carrega peso político e econômico. Com uma comitiva robusta, composta por 11 ministros, empresários e líderes do Congresso Nacional, a viagem tem como objetivo central fortalecer os laços diplomáticos com Tóquio e abrir novos caminhos comerciais para o Brasil.
A missão de Lula acontece em um momento em que os Estados Unidos ameaçam impor tarifas ao aço brasileiro, acendendo alertas em Brasília. Em resposta, o Palácio do Planalto aposta na diversificação de parcerias comerciais e vê no Japão – que já mantém relações diplomáticas com o Brasil há mais de 130 anos – um parceiro estratégico para equilibrar sua posição geopolítica entre Ocidente e Oriente.
Além do foco comercial, a visita tem forte componente político. A presença dos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, ao lado de figuras como Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ex-presidentes das casas legislativas, revela um movimento articulado do governo para estreitar relações com o Centrão e garantir apoio interno a projetos importantes que tramitam no Congresso.
Segundo analistas políticos, Lula tem aproveitado as longas horas de voo para conversas estratégicas com os parlamentares. O objetivo é costurar apoio para temas sensíveis que devem dominar a pauta legislativa no primeiro semestre de 2025, como a reforma do Imposto de Renda e o projeto que cria o Sistema Único de Segurança Pública
No campo econômico, os principais temas da viagem giram em torno de acordos comerciais. Um dos anúncios mais aguardados é a possível venda de até 20 aeronaves da Embraer para companhias japonesas – movimento que pode reforçar a presença da indústria aeroespacial brasileira no mercado asiático.
Outro ponto alto da agenda é a tentativa de abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira. Hoje, o Japão importa o produto apenas dos Estados Unidos e da Austrália. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a expectativa é que o Japão envie missões técnicas ao Brasil ainda este ano para avaliar as condições sanitárias dos frigoríficos brasileiros – um passo importante rumo à liberação das exportações.
A visita também tem sido interpretada como um esforço do governo Lula para reposicionar o Brasil em um tabuleiro internacional cada vez mais polarizado. Com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos e o estreitamento das relações comerciais entre Washington e aliados mais próximos, o Brasil se vê pressionado a ampliar sua rede de parcerias sem depender exclusivamente de potências como China ou EUA.
Nesse sentido, aproximar-se de economias maduras e estáveis como a japonesa se torna uma alternativa estratégica, especialmente diante das possíveis barreiras comerciais que podem afetar setores-chave da economia nacional, como o aço e o agronegócio.
A recepção de Lula pelo imperador Naruhito no Palácio Imperial de Tóquio – uma honra reservada apenas a visitas de Estado – reforça o prestígio da relação bilateral. Desde 2019, o Japão não realizava esse tipo de cerimônia devido à pandemia, e Lula é o primeiro líder mundial a receber tal reconhecimento após o retorno dessa tradição diplomática.
A expectativa do Itamaraty é que, além da pauta comercial, a visita contribua para ampliar o intercâmbio cultural e educacional entre os dois países, além de tratar de temas como transição energética e cooperação em ciência e tecnologia.
Fonte: Da Redação