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Rússia nega extermínio de civis e acusa mídia de reproduzir fake news

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, classificou como ‘fake news’ as denúncias de extermínio de civis ucranianos por soldados russos na região de Bucha, na Ucrânia. O chanceler falou sobre o assunto hoje (04) durante a reunião com o vice-secretário-geral da ONU. Lavrov afirmou que não param as tentativas de politizar e até de especular em torno das questões humanitárias na Ucrânia. Segundo ele, o incidente em Bucha foi encenado, quando os militares russos saíram da cidade.

A Rússia vê tais provocações como "uma ameaça direta à segurança internacional", disse Sergei Lavrov. "Nós exigimos a realização urgente de uma sessão do Conselho de Segurança para tratar desta questão concreta, pois vemos em tais provocações uma ameaça direta à paz e segurança mundial".

A denúncia ganhou o mundo após a divulgação de diversos vídeos pelas autoridades e mídia ucranianas, onde aparecem centenas de corpos jogados ao chão pela cidade, alguns com sinais de tortura. Algumas imagens mostram vítimas com um lenço branco amarrado ao braço, um suposto símbolo de identificação de não agressão. Porém os soldados russos também usam um lenço branco ou vermelho para se identificar no terreno, enquanto os soldados ucranianos utilizam um lenço azul ou amarelo.

Reportagem especial divulgado pela versão em português do serviço de notícias russo ‘Sputnik Brasil’, afirma que após a retirada das tropas russas de Bucha já surgiu um vídeo no qual um membro das tropas ucranianas durante a limpeza do perímetro pergunta aos companheiros "lá tem rapazes sem lenços azuis, posso atirar neles?" e recebe resposta positiva.

Os russos alegam também que, nos vídeos, um dos "cadáveres" alegadamente retira o braço para não ser esmagado por rodas de veículos militares ucranianos – o que indicaria confirmaria a tese de fraude.

Nas imagens em Bucha, é possível notar que nenhum dos "cadáveres" que apareceram nas imagens publicadas por Kiev enrijeceu após os supostos quatro dias da morte. Não havia "manchas cadavéricas características" e o sangue das feridas não estava coagulado, indicaram análises.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, "tudo isso confirma, irrefutavelmente, que as fotografias e imagens de vídeo de Bucha são mais uma encenação de Kiev para a mídia ocidental, como ocorreu em Mariupol com a maternidade, e também em outras cidades".

O órgão denunciou ainda que "as 'provas de crimes' em Bucha surgiram apenas no quarto dia, quando agentes do serviço de inteligência da Ucrânia e representantes da televisão ucraniana chegaram à cidade".

NARRATIVAS

A professora Isabela Gama, especialista em teoria das relações internacionais e em segurança e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afirma que "muitas peças não se encaixam na história".

"Por que os militares russos deixariam corpos de vítimas de tortura à mostra de todos em um cenário que não está nem um pouco favorável à Rússia? E não faz sentido isso vir a público hoje, e ninguém ter visto antes [os corpos nas ruas]", avaliou Gama.

A pesquisadora levanta a hipótese de que a Ucrânia pode estar buscando "forçar uma intervenção internacional" no país.

Neste caso, as negociações diplomáticas que correm em paralelo poderiam apenas servir como forma de ganhar tempo enquanto se tenta criar um clima de terror para viabilizar apoio militar mais amplo.

"Me parece mais uma guerra de narrativa, não é a primeira e, possivelmente, não será a última", alertou.

O jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares e em relações internacionais, afirma que a situação em Bucha é mais "uma história mal contada" em meio a diversos casos sérios que não apareceram na mídia ocidental.

"Em Mariupol, as forças russas descobriram uma série de escravos e escravas sexuais, em que uma das vítimas teve a suástica pintada no peito. Ou seja, a mídia ocidental escolheu um lado e vai manipular a opinião pública", criticou.

Ele lembra ainda que as organizações humanitárias ocidentais que acompanham de perto o conflito, principalmente na região de Donbass, são unânimes em dizer que "não houve nenhuma violação das leis internacionais por parte dos russos".

Em crítica à cobertura ocidental do conflito, o especialista em relações internacionais Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), diz que divulgar somente uma versão da história "cerceia a população de tirar as próprias conclusões de qualquer tema, especialmente em um conflito regional que se transformou em evento de envergadura mundial no aspecto econômico".

"A UE e os EUA jogaram por terra o discurso de defesa da liberdade de informação e dos direitos humanos. No primeiro caso, por obrigar a população em geral a possuir só uma visão do conflito e, no segundo, por desprezar violações históricas dos direitos humanos contra palestinos, iraquianos afegãos e iêmitas, por exemplo", lembrou.

 

Da Redação (com informações da Sputnik Brasil e agência internacionais)

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