Os dois candidatos que lideram a corrida pela sucessão presidencial segundo as pesquisas de opinião participaram rapidamente ontem de atos públicos com mensagens diferentes no 1º de maio, Dia do Trabalhador. Enquanto os bolsonaristas enfatizaram a defesa do deputado Daniel Silveira, condenado por crimes contra a democracia, os apoiadores do ex-presidente Lula reforçaram a confiança nas eleições e criticaram a volta da inflação no país.
Em discurso rápido, de apenas 15 minutos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou ainda não ser candidato, mas disse que o Brasil vai eleger “alguém melhor” que o atual presidente e que o Brasil será reconstruído. Aos dirigentes sindicais, no ato de 1° de Maio, propôs uma “mesa de negociação” para discutir direitos e políticas públicas.
“A liberdade finalmente abriu as asas sobre o povo brasileiro. E vamos voltar a ser um país civilizado”, disse Lula quase no final de seu pronunciamento, às 16h15. Ele chegou à praça Charles Miller às 15h20, praticamente ao final do show de Leci Brandão.
“Vamos pegar um país destruído”, alertou. “Quem sabe o que precisa não é nenhum capitão, é o povo trabalhador deste país.”
O petista referiu-se ao atual presidente como fascista e genocida. Além de apontar relações com a milícia. “Ele nunca recebeu os dirigentes sindicais, os movimentos sociais. Ele só governa, quem sabe, para seus milicianos. Alguns, quem sabe, com responsabilidade pela morte de Marielle Franco“, afirmou.
O ex-presidente acrescentou que mesmo os mais jovens têm “um parente que viveu melhor” quando ele governava. Falou sobre a alta da inflação: “Quando a inflação cresce, o salário diminui, o carrinho tem menos compra, na mesa tem menos coisa para vocês comerem”.
Lula também destacou a política de valorização do salário mínimo e a criação de empregos com carteira durante sua gestão. E disse ainda que a Eletrobras não pode ser privatizada – isso tornaria inviável, por exemplo, um programa como o Luz para Todos. E repetiu: tem 76 anos, “energia de 30 e tesão de brigar por este país” como nunca teve.
Outro ponto que chamou destaque no discurso do petista foi o pedido de desculpas aos policiais. “Eu queria aproveitar esse ato de trabalhadores para começar fazendo uma coisa que neste país as pessoas não costumam dizer. Ontem eu fui na zona norte, na Brasilândia, fazer um ato com as mulheres para discutir o custo de vida. E, quando eu estava fazendo o discurso, eu queria dizer que o Bolsonaro só gosta de milícia, não gosta de gente, e eu falei que ele só gosta de polícia, não gosta de gente”, explicou Lula referindo-se à gafe do dia anterior. “E eu queria aproveitar e pedir desculpas aos policiais desse país, porque muitas vezes [a categoria] comete erros, mas muitas vezes salva muita gente do povo trabalhador, e nós temos que tratá-los como trabalhador desse país.”
BOLSONARISTAS
O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve rapidamente no ato realizado por seus apoiadores em Brasília e fez um breve discurso por vídeo. Na Esplanada dos Ministérios ele caminhou entre os manifestantes, mas não discursou. Dez minutos depois, entrou no carro e seguiu em direção ao Palácio da Alvorada. O ato, porém, não reuniu muitas pessoas.
Em São Paulo, Bolsonaro apareceu no ato da Avenida Paulista num vídeo em um telão. Em rápido discurso, o presidente agradeceu a “lealdade” da sua militância. Falou ainda em “liberdade” Declarou-se um chefe de governo que acredita “em Deus” e que respeita “os militares, defende a família e deve lealdade ao povo”. E voltou a dar um tom maniqueísta à campanha eleitoral: “O bem vence o mal”.
Alvo do desagravo das manifestações bolsonaristas, o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) participou da manifestação que aconteceu pela manhã em Niterói.
Daniel Silveira foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a oito anos e nove meses de prisão, perda do mandato e inelegibilidade pelas suas falas e atos antidemocráticos que ameaçaram ministros do Supremo e defenderam o Ato Institucional 5, o mais forte instrumento autoritário da ditadura militar.
Na sequência da decisão do STF, o presidente Jair Bolsonaro concedeu a Daniel Silveira uma “graça”, instrumento de indulto individual, perdoando-o.
Os atos bolsonaristas marcados para este domingo tiveram, segundo os organizadores, o intuito de desagravar Daniel Silveira e defender o que consideram “liberdade de expressão”.
Da Redação (com agências de notícias)